Rede de proteção se mobiliza para defender e evitar extradição de Battisti
O vereador Eduardo Suplicy (PT) participava de um evento em memória do AI-5, o ato mais radical do regime militar, quando foi informado da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de mandar prender Cesare Battisti.
Um dos mais fiéis aliados do italiano no meio político, o ex-senador se espantou com a notícia. “Não é possível”, exclamou, enquanto assistia a discursos em prol da democracia no evento na Faculdade de Direito da USP, na noite desta quinta-feira (13).
Nas horas seguintes, uma rede de amigos que apoia Battisti e compartilha a crença de que ele é inocente e foi condenado injustamente pelo assassinato de quatro pessoas na Itália começou a se mobilizar para tentar ajudá-lo.
Desde a noite passada, eles dividem também um clima de aparente tensão, com versões divergentes sobre seu paradeiro.
A primeira reação foi de surpresa diante da decisão do ministro Luiz Fux, segundo os relatos ouvidos pela Folha. Publicamente, os aliados evitavam expressar pessimismo com a situação nos últimos tempos, embora os sinais fossem cada vez mais desfavoráveis ao amigo estrangeiro.
Na manhã desta sexta-feira (14), Suplicy e seus assessores mantinham contato com advogados que acompanham o caso. Quando Battisti estava preso na penitenciária da Papuda, em Brasília, de 2007 a 2011, o então senador costumava visitá-lo.
Importante elo de Battisti com o mundo político, o petista vem defendendo nos últimos meses que os ministros do Supremo ouçam pessoalmente o italiano. Acredita que eles se sensibilizariam com a história e poderiam ajudar o europeu a ficar no Brasil.
Dono da casa em Cananeia (litoral de São Paulo) onde Battisti morou nos últimos anos, o dirigente sindical Magno de Carvalho foi sucinto ao descrever, às 23h30 desta quinta, o estado do amigo: “Nervoso”, respondeu após ser indagado.
Carvalho já estava alerta às 6h15 desta sexta, quando atendeu a um telefonema da reportagem.
Contou que o italiano lhe disse na semana passada que viajaria ao Rio de Janeiro. “Na última vez que falei com ele, ele iria ao Rio conversar com o editor do livro que ele está escrevendo.”
Depois explicou que Battisti deixou há cerca de seis meses o imóvel emprestado, na região central de Cananeia, para se mudar para uma casa construída por ele “a duras penas” no bairro Carijo, mais afastado do centro.
As informações sobre o paradeiro do italiano eram, àquela altura, desencontradas. Horas depois, a Polícia Federal afirmaria que ele se encontrava “em local incerto e não sabido”.
Mais exaltado estava o historiador Carlos Lungarzo, que ao saber da decisão de Fux, foi às redes sociais criticar o ministro e o Supremo.
Perguntou como o magistrado podia ter decidido contrariamente a medida anterior dele mesmo. “Togados de nosso Brasil: vocês são covardes ou corruptos? Já sei, ambos”, escreveu no Twitter.
O historiador é autor do livro “Os Cenários Ocultos do Caso Battisti”. Na obra, de 2012, ele analisa as decisões judiciais e as repercussões do caso para sustentar a tese de que a condenação na Itália foi uma armação.
Lungarzo, que é argentino e mora em Santos, também apelou aos sentimentos dos ministros da corte. “Se vocês tivessem consciência, eu diria que levariam na consciência a tortura e morte de um pai de uma criança pequena”, afirmou em seu perfil.
Battisti diz que teme ser morto se for para o cárcere na Itália. Ele teve um filho, hoje com cinco anos, com uma brasileira. A mãe da criança chegou a escrever uma carta à ministra Cármen Lúcia, do STF, pedindo que o pai do menino não seja deportado.
A socióloga Silvana Barolo, que é mulher de Lungarzo e também integra a rede de apoio, buscava informações com os advogados do italiano. No meio da manhã, dizia acreditar que ele estava em Cananeia.
“Deve estar na casa de amigos para não ficar exposto ao assédio da imprensa”, afirmou ela. À tarde, o italiano era considerado foragido pela PF, já que não havia sido achado em seu endereço nem se apresentado espontaneamente.
“Eu não matei ninguém”, disse Battisti à Folha em outubro do ano passado. “Não tem nenhuma prova técnica que se sustenta nessas ações que me condenaram.”
Da FSP