Sob aplausos, Bolsonaro diz ‘PSDB não terá um, mas 22 ministérios’

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Recebido com aplausos pela bancada federal do PSDB, Jair Bolsonaro tratou os tucanos como velhos parceiros no encontro que tiveram nesta quarta-feira a portas fechadas, no escritório de transição, em Brasília. O presidente eleito chegou a dizer que o tucanato não terá um ministério no seu governo, terá as 22 pastas, pois todos os seus ministros serão orientados a atender às demandas dos deputados.

Na política, se briga e se fazem as pazes com rapidez desconcertante. Mas quem assistiu à troca de insultos entre o Bolsonaro e Geraldo Alckmin, o candidato derrotado do PSDB, não imaginou que toda aquela animosidade da campanha terminaria em namoro. Ao contrário, os observadores mais ingênuos acreditaram que as partes viveriam separadas para sempre, até que a morte as juntasse.

Na expressão de um dos deputados presentes à reunião, ficou evidente que “o PSDB está no colo de Bolsonaro.” Tucanos tietaram o capitão, posaram para fotos ao lado dele. Três oradores falaram em nome dos visitantes: Nilson Leitão (MT), líder do partido na atual legislatura; Carlos Sampaio (SP), líder da legenda a partir de fevereiro; e Mara Gabrilli (SP), a deputada tucana que o eleitorado guindou ao Senado.

Todos dedicaram a Bolsonaro palavras amistosas. Nilson Leitão, mais efusivo que os demais, agradeceu ao interlocutor por ter derrotado o PT, um adversário que o tucanato não teve competência para vencer. Não se ouviu no encontro uma mísera menção ao nome de Alckmin, que supostamente ainda preside o PSDB.

Num rasgo de descontração, Bolsonaro insinuou, entre risos, que o tucanato dormiu no ponto durante a campanha. “Quando acordou, já era tarde demais”, ironizou. Houve um alarido na sala. Eram os tucanos rindo da própria desgraça. Favorecido por ter encarnado o antipetismo durante a eleição, Bolsonaro engordou seu eleitorado incorporando ao seu cesto votos de eleitores que o PSDB considerava cativos.

O anfitrião pintou um cenário de “guerra ideológica”. Coisa esquemática e maniqueísta. Nos palanques, Bolsonaro enfiava PSDB e PT num mesmo balaio “comunista”. Agora, inclui o tucanato na turma do “bem”.

Apelando para o “patriotismo” dos tucanos, Bolsonaro disse esperar que eles o ajudem a governar. Repetiu mais de uma vez que o eventual fracasso do seu governo devolverá ao Planalto o PT e seu o projeto de poder perpétuo. Reafirmou uma promessa de campanha. Sem especificar datas, disse que enviará ao Congresso no início do governo uma emenda propondo o fim da reeleição.

Convidado para o encontro, o futuro deputado federal Aécio Neves brindou os presentes com sua ausência. Bolsonaro destrinchou as prioridades de sua agenda conservadora. Reiterou a pretensão de eliminar toda a “burocracia” que inibe os negócios. Fala sobre meio ambiente e índios com a sutileza de um predador. Citou de memória os nomes de reservas ambientais e indígenas. Insinua que deixarão de ser santuários.

Reiterou também a intenção de privilegiar nas relações de trabalho o emprego em detrimento dos direitos trabalhistas. Citou o Ministério Público do Trabalho num timbre próprio de quem dá de ombros para eventuais reações do órgão. E os representantes do PSDB dividiram-se em dois grupos: os que ouviram tudo em silêncio e os que balançaram a cabeça em sinal de aprovação.

Nenhum tucano pareceu preocupado com o fato de que, pelo menos na certidão de nascimento, o PSDB é uma legenda social-democrata. Tampouco houve quem se recordasse dos alertas feitos durante a campanha. Era como se as propagandas agressivas que o comitê de Alckmin levou ao ar não faz nem dois meses jamais tivessem existido. (assista abaixo).

A essência da política é a negociação. Melhor buscar o entendimento do que trocar sopapos. Mas certas conciliações reforçam a impressão de que o universo político é mesmo o território da farsa. Nele, faz papel de bobo quem imagina que as contendas serão resolvidas à moda do século 19, quando os insultos eram lavados com sangue em duelos eletrizantes.

Do UOL