Depois de vídeo escandaloso em defesa da ditadura, governo diz não saber quem o publicou
O porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, que acompanha o presidente Jair Bolsonaro em viagem a Israel, afirmou nesta terça-feira (2) que o vídeo que nega o golpe de 1964, enviado no último domingo (31) por um canal de comunicação do Planalto, é um assunto “encerrado”.
“Esse é um assunto que nós já caracterizamos como encerrado”, disse Rêgo Barros ao ser questionado sobre o vídeo.
Durante entrevista na manhã desta terça, jornalistas insistiram com o porta-voz sobre a origem do material, e se o vídeo era oficial. Mas não obtiveram resposta. “Esse é um assunto que nós não queremos comentar”, afirmou o porta-voz.
A Secretaria de Comunicação da Presidência da República informou no domingo que não sabia quem produziu e quem compartilhou o material, embora o vídeo tivesse sido enviado por um canal de comunicação do Planalto.
Nesta segunda-feira (1º), o vice-presidente Hamilton Mourão declarou que o Palácio do Planalto divulgou o vídeo por decisão do presidente Jair Bolsonaro.
O vice-presidente foi questionado se considerou adequada a divulgação pelo Planalto do material no dia em que o golpe de estado completou 55 anos. Respondeu inicialmente que, se foi divulgado pelo Planalto, era decisão do presidente.
Depois, ao ser confrontado com a informação de que a Secretaria de Comunicação dizia desconhecer quem havia determinado a divulgação, afirmou: “Também não sabe? Eu nem vi esse vídeo”.
O G1 questionou a assessoria de Mourão sobre a resposta do vice-presidente. Segundo a assessoria, Mourão “deduziu” que o vídeo foi distribuído pelo governo por decisão de Bolsonaro.
A partir do golpe de 1964, se instaurou uma ditadura militar no Brasil que durou 21 anos.
No vídeo (acima), um homem não identificado fala de uma época em que havia no Brasil “um tempo de medo e ameaças” provocadas pelo comunismo. E que “jornais, rádios, TVs e principalmente o povo na rua” apelaram ao Exército.
O vídeo termina com a imagem da bandeira nacional e a inscrição “31 de março” e um locutor afirmando que o Exército “não quer palmas nem homenagens. O Exército apenas cumpriu o seu papel”.
O porta-voz disse que o retorno do presidente e de sua comitiva de Tel Aviv para o Brasil, previsto para as 11h40 desta quarta (3), foi antecipado em duas horas.
De acordo com Rêgo Barros, por questões logísticas foi cancelada a visita que o presidente faria a uma comunidade de brasileiros na cidade de Raanana, prevista para a manhã de quarta, antes do regresso a Brasília.
Rêgo Barros informou que o presidente deve se encontrar com a comunidade ainda nesta terça, no hotel onde Bolsonaro está hospedado desde o último domingo (31), em Tel Aviv.
Segundo o porta-voz, o retorno antecipado também se justifica por encontros que o presidente deve ter nesta quinta-feira (4), em Brasília, com parlamentares para discutir a reforma da Previdência.
“Por questões logísticas, nós estamos trazendo cerca de 25 brasileiros que moram naquela comunidade aqui hoje, às 18h, com a finalidade de o presidente estreitar os laços e ao mesmo tempo antecipar nosso retorno amanhã visto que no dia seguinte ele já tem agendado encontros com parlamentares visando nosso objetivo principal desse momento que é o andamento mais célere da nossa nova Previdência”, declarou o porta-voz.
Na manhã desta terça, em evento com empresários israelenses, o presidente Jair Bolsonaro disse que a abertura de um escritório comercial do Brasil em Jerusalém mostra que o relacionamento entre os dois países “veio para ficar”.
“Como há pouco nos tornamos noivos, no bom sentido, abrindo aqui uma representação nossa de negócios e tecnologia, de pesquisa, de inovação em Jerusalém, os senhores começam cada vez mais a notar que esse nosso relacionamento veio para ficar”, afirmou o presidente.
O presidente anunciou a abertura do escritório no domingo (31), primeiro dia da viagem oficial a Israel. A medida não foi bem recebida pela Autoridade Palestina, que chamou de volta para consultas o embaixador no Brasil.
Sobre a reação de palestinos a respeito da decisão, Bolsonaro disse que “reclamar” é um direito deles.
“É direito deles reclamar”, disse Bolsonaro após ser questionado sobre o tema por jornalistas que acompanham a viagem do presidente a Israel.
“A gente não quer ofender ninguém. Agora, queremos que respeitem a nossa autonomia”, completou.
Do G1