Guru de Bolsonaro decidiu processar o professor que o criticou por sua visão de Kant
O ideólogo de direita Olavo de Carvalho apresentou ao Tribunal de Justiça de São Paulo, no último dia 8 de março, uma queixa-crime contra o filósofo da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Daniel Tourinho Peres.
A juíza responsável pelo caso, Daniela Martins de Castro Cavallanti, contudo, pediu para que o advogado de Olavo reescrevesse a petição, da qual constam expressões como “delinquente, idiota e canalha”, usadas em referência ao professor da UFBA. Na ação, Carvalho pede que Tourinho Peres responda pelos crimes de injúria, calúnia e difamação.
No última dia 10 de fevereiro, o GLOBO publicou reportagem com três filósofos , que assistiram a uma aula de Olavo sobre o filósofo alemão Immanuel Kant durante seminário de filosofia ministrado pela internet. Os professores universitários afirmaram que a interpretação de Carvalho estava errada em relação a toda a obra do alemão. Após a publicação, o filósofo Daniel Tourinho Peres também publicou um artigo, de autoria própria, na revista “Le Monde Diplomatique Brasil”.
Ao analisar o pedido, em 18 de março, a magistrada Daniela Cavallanti pediu que a acusação refizesse a queixa-crime porque, segundo ela, havia palavras que afrontavam as regras processuais. Entre elas, a juiza citou alguns termos usados na ação contra Peres: “delinquente travestido”, “caso de possível esquizofrenia”, “cabeça incauta ou doente”, “narrado pelo idiota”, “apenas discorre o bestial”, “jargão que alguns nojentos tem o gosto de usar”, “por canalhice própria” e “este desqualificado”. Em um dos trechos, ele xinga o filósofo: “canalhas, canalhas e canalhas”.
De acordo com a juíza, é proibido que qualquer parte de um processo empregue expressões ofensivas nos documentos apresentados à Justiça. A juíza também citou o Código de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil, que elenca, entre os deveres dos advogados, o de atuar com “decoro e dignidade”.
No último dia 20 de março, o advogado de Olavo de Carvalho, Francisco Cabrera, apresentou uma nova queixa-crime com correções. Segundo ele, em conversa com o ideólogo, “após o calor das injustas agressões perpetradas pelo réu (Daniel Tourinho Peres)”, resolveu modificar o documento visto que tanto Olavo de Carvalho quanto o advogado são cristãos e “nunca tiveram a intenção de ofender terceiros”.
De acordo com o documento assinado por Cabrera, as palavras de teor ofensivo teriam sido colocadas em contexto genérico fazendo alusões a outros condenados judicialmente, “como Lula e outros”, assim como produzidas no momento em que o Olavo estaria sendo agredido de forma injusta.
Na petição inicial, o advogado de Olavo de Carvalho afirma que “o destino correto da reportagem” do GLOBO, em que Peres rebateu a tese de Olavo sobre Kant, “deveria ser a lata do lixo”. Segundo o ele, o filósofo também não teria citado ou comprovado uma única frase como sendo do ideólogo nos textos de sua autoria.
“Em outras palavras, vide analogia, para o mundo do futebol, alguns zagueiros bestiais, em tese, vêm se revezando batendo no craque: Mestre Olavo de Carvalho, num revezamento macabro, por canalhice própria, ou, a mando de terceiros, numa total subserviência aos podres poderes bolivarianos, em tese”, afirma o advogado.
Na ação, o ideólogo pede que o filósofo pague uma multa de R$ 38 mil. No documento, o advogado também pediu para que, caso o Ministério Público aceite também participar da acusação contra Tourinho Peres, chame como testemunhas o atual ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Na primeira versão da queixa-crime, o ideólogo também pretendia arrolar como testemunhas o agora ex-ministro Ricardo Vélez Rodriguez e o jurista Ives Gandra Martins, além do próprio Olavo de Carvalho, que vive no estado da Virgínia, nos Estados Unidos.
De O Globo