Lori Lightfoot: a primeira mulher negra e homossexual eleita prefeita de Chicago
Pela primeira vez, uma mulher negra e assumidamente homossexual foi eleita prefeita de Chicago, a terceira maior cidade dos Estados Unidos e uma das mais violentas do país. A ex-promotora federal democrata Lori Lightfoot venceu, com 74% dos votos, a adversária do mesmo partido Toni Preckwinckle, que recebeu 26% dos votos.
Independentemente de quem vencesse a eleição para a prefeitura de Chicago, que foi realizada nesta terça-feira (2), essa pessoa faria história como primeira prefeita negra da cidade. Lightfoot, de 56 anos, é a segunda mulher a conquistar a prefeitura da “cidade dos ventos”, como Chicago é conhecida, depois de Jane Byrne, que ocupou o cargo de 1979 a 1983.
A antiga promotora federal foi indicada para importantes cargos de supervisão da polícia durante o governo do atual prefeito, Rahm Emanuel, que ocupou posições de liderança nos governos de Bill Clinton e Barak Obama, apesar de seu temperamento explosivo. Lightfoot era a favorita do atual prefeito e insider da política de Chicago, que é dominada pelo partido Democrata, mas não tem experiência política e traz novos ares à cidade. Além de ser a primeira prefeita negra da terceira maior cidade americana, a promotora é lésbica e casada com uma mulher —o casal tem uma filha de 10 anos.
Ao contrário de Preckwinkle, que apresentou uma plataforma mais progressista, ligada a sindicatos e com críticas duras à suposta atuação com viés racista da polícia, a nova prefeita promete ser conciliadora e representar brancos, negros, latinos, além de manter um relacionamento próximo e não confrontador com o departamento de polícia.
De modo geral, entretanto, as duas candidatas apresentaram plataformas bastante semelhantes com foco em educação e segurança, duas áreas que seriam aprimoradas principalmente por meio de investimentos nas regiões mais necessitadas da cidade.
Lightfoot também diz que vai por fim à corrupção presente na administração do município, algo que no momento é foco de uma investigação. Um dos fatores que contribuiu com a ampla vitória da promotora sobre sua rival foi que grande parte da população e o departamento de polícia da cidade ficaram revoltados com o escândalo protagonizado pelo ator negro e gay Jussie Smollett, do seriado de televisão Empire.
Smollett foi indiciado por ter encenado um crime de ódio ao pagar dois nigerianos para fingir que o atacavam e, depois disso, dizer que havia sido agredido por brancos, racistas e homofóbicos que apoiavam Donald Trump. Misteriosamente, o ator conseguiu que todas as suas 16 acusações fossem eliminadas, graças à provável ajuda da procuradora do Estado, Kim Foxx.
Preckwinkle foi uma das impulsoras da carreira política da procuradora. O suposto ataque envolvendo Smollett, em janeiro, mobilizou uma grande força policial e causou ainda mais tensão nas relações entre os brancos e os negros de Chicago. O caso acabou ajudando Lightfoot e sua promessa de combater a corrupção.
A nova prefeita não vai ter descanso se quiser mesmo resolver os problemas da cidade de quase três milhões de habitantes. Chicago é campeã em homicídios nos Estados Unidos, com cerca de 540 assassinatos por ano, e é uma das cidades americanas com maior disparidade econômica e social entre os grupos raciais.
Brancos, negros e latinos têm praticamente a mesma representação demográfica na cidade. Cada um desses grupos representa cerca de 30% da população, mas os negros e os latinos ainda vivem como minorias em Chicago, pois não contam com as mesmas perspectivas socioeconômicas dos brancos.
Há uma certa esperança de que a prefeita promova uma nova aliança entre os negros e os latinos da cidade, como aconteceu na década de 1980. A Coalizão do Arco-íris, como era conhecida a parceria entre negros e latinos, teve um papel fundamental na eleição do primeiro prefeito negro de Chicago, Harold Washington, em 1983.
No entanto, a nova prefeita vai enfrentar desafios que não existiam há 30 anos, como problemas de infraestrutura, falta de recursos nas escolas públicas, necessidade de reforma da polícia e cortes de orçamento, além de ter de continuar a satisfazer as populações de maioria branca que ocupam as partes da cidade que muito prosperaram durante os dois mandatos de Emanuel.
Para os democratas seria vantajoso que Lightfoot desse prioridade à promoção desse tipo de aliança em Chicago, servindo assim como um modelo a ser aplicado em âmbito nacional, pois estão apostando em uma forte união entre negros e latinos para derrotar Donald Trump na disputa pela Casa Branca em 2020.
Da FSP