Veterinária, Engenharia e Medicina são mais importantes do que Filosofia e Sociologia?
O Estado ouviu dois especialistas sobre a decisão do governo Bolsonaro de focar investimentos “em áreas que gerem retorno imediato”, como Veterinária, Engenharia e Medicina, em detrimento dos recursos voltados para a área de Humanas, como Filosofia e Sociologia. Confira as opiniões:
Sim
Paolo Zanotto, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP – O que se está manifestando é uma questão de percepção, por parte de um governo popular, de que áreas de Humanas estariam sobrecarregadas de viés ideológico. Temos um presidente eleito por 57 milhões de brasileiros que está dando encaminhamento a uma política que foi negociada com seus eleitores. É uma situação em que a universidade tem obrigação de mostrar a importância do que faz. Áreas que consigam dialogar com a sociedade, por definição, se blindam e se protegem. Se mostram que têm mais relevância do que outras, e essa relevância é aceita socialmente, é muito difícil o governo tirar financiamento. Estamos vendo claramente um posicionamento político em relação a uma agenda que foi pré-informada à sociedade. Cabe a nós explicar à sociedade porque temos de ser financiados. Sei que é duro, mas faz parte da estrutura democrática.
Não
Boris Fausto, historiador e cientista político – O entendimento de que é preciso escolher melhor nossas prioridades na Educação representa mais um retrocesso no horizonte, dos muitos que estão sendo oferecidos como coisas amargas à nossa consciência de cidadãos. Isso aparece sob uma forma muito mais grave do que no passado. É tão difícil se formar cidadãos nesse País e, de repente, vemos uma orientação – que, de uma maneira ou de outra vai se converter em uma tendência – que visa a dificultar essa formação. É uma visão de formar pessoas simplesmente para conseguir emprego e nada mais. Conseguir um emprego é importante, aprender ciências aplicadas é muito importante, ninguém absolutamente nega isso. É uma ilusão pensar que uma coisa impede a outra. Há aí uma guerra ideológica, perpetrada por quem nega a ideologia da boca para fora, que está se traduzindo em uma grande tristeza da barbaridade que se está fazendo no País.
Do Estadão