Agronegócio “passa por cima” de Ernesto Araújo e indica nome para embaixada do Brasil em Washington
Irritados com o chanceler Ernesto Araújo, lideranças do agronegócio e parlamentares ligados ao setor passaram a fazer lobby para que o diplomata Pedro Borio seja indicado como novo embaixador do Brasil em Washington.
Borio é o cônsul-geral em San Francisco, nos Estados Unidos, e sua nomeação para a chefia da missão diplomática brasileira naquele país representaria uma derrota para Araújo, que tenta emplacar o diplomata Nestor Forster para o posto.
Borio já foi embaixador do Brasil no Sri Lanka e está há três anos no consulado em San Francisco. Nos últimos meses, as alas militar e olavista do governo Jair Bolsonaro vêm travando uma guerra para conseguir emplacar o que é considerado o mais importante posto da diplomacia brasileira no exterior.
Incomoda o setor o discurso adotado por Araújo, de criticar os negócios do Brasil com a China e com os países árabes, grandes compradores de produtos brasileiros do agronegócio como grãos e carnes.
O ministro das Relações Exteriores trabalha por Forster, que o apresentou para o escritor Olavo de Carvalho, guru ideológico do governo; os generais, por sua vez, patrocinaram o nome do consultor Murillo de Aragão, mas essa hipótese perdeu força nas últimas semanas.
Enquanto ocorria a queda de braço entre Araújo e militares, Borio passou a correr por fora e tenta se viabilizar como uma terceira via.
Em reuniões com parlamentares e integrantes do governo, ele reuniu apoios importantes, como o da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária) e o da ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
A movimentação de Borio no Congresso foi confirmada à Folha por parlamentares. “Ele conversou comigo. Se dependesse de mim, eu apoiaria”, disse o senador Oriovisto Guimarães (PODE-PR).
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), também vê com bons olhos o nome de Borio e, segundo interlocutores do parlamentar, passou a atuar para fortalecer o diplomata.
Alcolumbre travou a indicação de uma série de novos embaixadores ao não ler os nomes desses diplomatas em plenário. A leitura é um passo obrigatório para que eles possam ser sabatinados pela Comissão de Relações Exteriores.
A lista de indicados bloqueados por Alcolumbre chegou a 14 futuros embaixadores, numa ação que atrasa todo o processo de troca de cadeiras no Itamaraty e gera desgaste para o chanceler.
Nos últimos dias, o presidente do Senado liberou a leitura de três indicados, mas ainda há mais 11 nomes bloqueados, o que tem gerado incômodo dentro da chancelaria.
Integrantes do governo consideram que, com isso, Alcolumbre trabalha para beneficiar Borio.
Apesar da articulação, os parlamentares que apoiam o cônsul-geral em San Francisco afirmam que a definição do futuro embaixador em Washington deve ser uma decisão personalíssima do presidente Bolsonaro.
Eles apostam, no entanto, em episódios recentes que geraram desgaste para Araújo, como a disputa de poder dentro da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
Após uma briga interna que durou meses, a ala militar conseguiu indicar o novo presidente da agência, reduzindo a influência de Araújo sobre o órgão.
A embaixada do Brasil em Washington ficará vaga na primeira semana de junho, quando Sergio Amaral deixará o cargo. Embora o nome de Forster seja visto como o mais forte internamente no governo, o nome dele ainda não foi indicado, pois, para ser escolhido para o posto, precisaria ser promovido a embaixador.
Desde que assumiu o governo, em janeiro, Bolsonaro já viajou duas vezes aos EUA, país considerado prioritário para ele.
O presidente adotou discurso de que gestões anteriores viam o país como um “inimigo” e é fã declarado de Donald Trump, com quem se reuniu em Washington em março.