Após resposta grosseira de Bolsonaro a jornalista, Clovis Rossi rebate: “faça uma boa faculdade, Jair”
Perfeita a frase que o leitor Walter José de Miranda, de Curitiba, captou no protesto da quarta-feira (15) contra os cortes na educação: “Sem educação já basta o presidente”.
Se alguém ainda tivesse a mais leve dúvida de que falta educação básica, no sentido de comportamento decente, ao presidente Bolsonaro, basta anotar o lamentável bullying que ele praticou no dia seguinte contra a jornalista Marina Dias, correspondente desta Folha em Washington. Se alguém não leu, Bolsonaro mandou a jornalista fazer “uma boa faculdade”.
Já é condenável o bullying contra qualquer pessoa, mas se torna infame quando praticado por alguém que deveria ter o mínimo de respeito pelo que os antigos como eu chamavam de dignidade do cargo.
No caso de Bolsonaro, há uma agravante: ele não tem autoridade pedagógica, digamos assim, para recomendar que qualquer pessoa faça o que ele chama de boa faculdade.
Ele próprio não fez a faculdade mais relevante para a carreira militar, a Eceme (Escola de Comando e Estado Maior do Exército). É o estabelecimento de ensino de mais alto nível do Exército Brasileiro e tem a missão de preparar oficiais superiores para as funções de Estado Maior, comando, chefia, direção e assessoramento.
Como Bolsonaro não foi preparado para tais funções não está qualificado para analisar a qualificação de outros profissionais.
O presidente não passou, no Exército, de uma patente intermediária, a de capitão. Fez, sim, o curso da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), que é o nível básico para formação de oficiais. Nada mais que isso.
Não chegou aos níveis superiores (major, tenente-coronel e coronel), para não mencionar, claro, os três patamares do generalato (general de brigada, de divisão e de exército).
Mesmo na Aman, seu preparo não deve ter sido brilhante: confessa, dia após dia, que não entende de economia. Ora, o curso básico da Aman inclui economia no currículo. Logo, ou Bolsonaro faltou às aulas ou não entendeu o que lhe era ensinado.
Como foi reformado por um ato de indisciplina, pelo qual chegou a ficar preso durante 15 dias, seus próprios camaradas de armas demonstraram, implicitamente, que ele não preencheria os requisitos para se candidatar aos processos seletivos da Eceme, assim sintetizados no sítio da Escola:
“Embasamentos intelectual e cultural, necessários ao futuro oficial do estado-maior e assessor de alto nível da força; conhecimento interdisciplinar de História, Geografia, Geopolítica e Estratégia, necessário à continuidade da instituição de caráter permanente ‘Exército Brasileiro’, em uma nação com as dimensões e projeção do Brasil; e capacidade de resolução de problemas de forma sintética, clara, objetiva, coerente, com reduzida disponibilidade de tempo e utilizando a expressão escrita.”
Como os livros do astrólogo Olavo de Carvalho não são recomendados pelo Exército (ou por qualquer instituição séria), Bolsonaro não poderia mesmo ser aprovado e, portanto, não está preparado para funções de chefia e comando para as quais prepara a Eceme.
Da FSP