Bolsonaro: pagamos um preço alto demais para bancar presidente ‘machão’
Leia a coluna de Raquel Landim, repórter associada da Folha, escreve sobre economia há 18 anos.
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Bolsonaro faz um governo truculento que ainda não emplacou
Na tarde dos protestos contra os cortes no orçamento na educação, no dia 15 de maio, esta colunista conversava com uma das principais lideranças empresariais do país.
No escritório havia uma TV sintonizada em um canal de notícias, que começou a mostrar cenas das manifestações, principalmente na avenida Paulista (região central de São Paulo). Foi quando o empresário afirmou: este é um governo truculento.
Desde então, passei a ouvir cada vez mais essa palavra vinda de representantes dos setores produtivo e financeiro para definir a atual administração. Os acontecimentos da última semana não ajudaram em nada a modificar a percepção.
O presidente Jair Bolsonaro utilizou mais uma vez as redes sociais para insuflar suas hostes contra o Congresso e convocá-las para um ato a favor de seu governo no domingo. Aconselhado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que acertadamente se preocupou com o impacto de mais um conflito com deputados e senadores para aprovação da reforma da Previdência, voltou atrás.
Disse que não era bem assim, que quem defende o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal está no protesto errado, mas o estrago já havia sido feito.
A truculência de Bolsonaro se espraia entre seus ministros, com exceção paradoxalmente do núcleo militar. Abraham Weintraub, da Educação, é o exemplo mais bem acabado disso. Foram sua ferocidade e preconceitos que detonaram as passeatas a favor da educação, já que contingenciamento de despesas sempre ocorreram no Brasil e não devem acabar tão cedo.
O grande problema de um governo truculento é que política é feita de diálogo —coisa que Bolsonaro deveria ter aprendido em 27 anos no Congresso que agora demoniza. E aqui entra outra percepção corrente no empresariado: o governo ainda não emplacou.
Pode até ter conseguido aprovar a medida provisória que organizou os ministérios —era o mínimo, e ainda deixou um envergonhado Sergio Moro para trás—, mas foi só.
Não consegue fazer nada além de confusão e vai minando a confiança dos agentes econômicos.
Como o governo não emplacou, ninguém investe, não se contrata e o otimismo com a economia do início ano se esvaiu. O país está à beira de uma nova recessão, se considerarmos que a anterior realmente havia ficado pra trás.
Um preço alto demais a pagar para bancar o “machão”.