Cidades brasileiras têm atos contra cortes federais na educação
Uma série de protestos contra os cortes do governo Jair Bolsonaro(PSL) na educação básica e no ensino superior ocorrem nesta quarta-feira, 15, no País. Em capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Salvador, os atos contra os bloqueios do Ministério da Educação (MEC) começaram pela manhã, embora a maior parte esteja marcada para o período da tarde. Além das manifestações, algumas universidades e escolas cancelaram as aulas.
Segundo o Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro-SP), ao menos 32 escolas privadas da capital aderiram à paralisação. Dentre elas, está o Colégio Equipe, de Santa Cecília, região central, que divulgou um comunicado. “Aderimos à paralisação em defesa da educação, da pesquisa, do trabalho dos professores e professoras de todo o país, do nível básico às pós-graduações das redes pública e privada”, diz o texto.
Além disso, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e a Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (Fapcom) também cancelaram as aulas desta quarta. “A universidade reafirma seu apoio a todos aqueles que cotidianamente constroem o sistema educacional brasileiro, formando gerações e produzindo conhecimento necessário à soberania do Brasil. Acreditamos que a construção de um País justo e democrático vem a par com uma educação de qualidade e comprometida com a cidadania de todos”, diz nota divulgada pela reitoria da PUC-SP.
Desde as 6 horas da manhã, estudantes, professores e servidores da Universidade de São Paulo (USP) protestam na Cidade Universitária. Também há atos em unidades do interior do Estado. Para as 14 horas, está marcada uma manifestação geral com saída do vão livre do Masp, no centro expandido de São Paulo.
Por volta das 7 horas, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) chegou a bloquear a avenida Alvarenga, próximo ao portão principal de entrada da USP. “Inicialmente esse dia de paralisação tinha sido convocado contra a reforma da Previdência e depois do anúncio de cortes de verbas nas universidades e nas agências de fomento federais, o movimento decidiu unificar os dois atos e organizar uma campanha comum”, disse Luiz Felipe, diretor de base do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp).
Em Brasília, o início do ato é marcado por discursos de políticos e sindicalistas contra o governo do presidente Jair Bolsonaro. Deputados do PT e PSOL, além de sindicalistas ligados à CUT, o Sindicato dos Trabalhadores das Escolas Públicas do Distrito Federal (SAE) e grupos estudantis. “A juventude está na rua mandando um recado ao governo. Ontem, eles (o governo) recuou e voltou atrás. Está claro que a balbúrdia está no Planalto e não aqui”, afirmou o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ).
Além dos cortes na educação, os manifestantes criticaram também a reforma da Previdência e as mudanças nas políticas públicas ligadas às minorias. O líder da oposição, Alessandro Molon (PSB-RJ), atacou os planos econômicos da equipe do ministro Paulo Guedes.
O grupo começou a concentração às 10 horas em frente a Biblioteca Nacional de Brasília e promete caminhar até o Congresso Nacional, onde, às 15 horas, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi convocado para prestar esclarecimentos aos deputados sobre o contingenciamento de verbas. Até o momento, nem os organizadores e nem a Polícia Militar do Distrito Federal divulgou o número de presentes no ato.
Manifestantes também se reúnem na Praça XV, no Centro do Rio. Espalhados por diversas tendas, cerca de 150 pessoas, entre alunos e professores de universidades federais, como UFRJ e Unirio, estão no local com cartazes, pôsteres acadêmicos e material de pesquisa. A ideia é mostrar parte do trabalho desenvolvido pelas universidades.
Os alunos consideram que, com a apresentação dos trabalhos, o público em geral se sensibilize e participe da manifestação marcada para a tarde, em que ocorrerá também uma aula sobre reforma da Previdência.Pelo menos 25 instituições de ensino da capital fluminense prometeram aderir à paralisação.
Já, em Belo Horizonte, alunos, professores e servidores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) participaram de um protesto contra os cortes. Os organizadores estimam 15 mil participantes, enquanto a Polícia Militar não divulgou números. Na terça-feira, 14, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da UFMG declarou “profunda indignação e apreensão” em relação ao anúncio do governo federal.
Ainda pela manhã os manifestantes partem do campus Saúde até a Praça da Estação, também na região centro-sul, onde servidores das redes municipal e estadual de ensino também fazem ato. Em nota, a reitora da universidade, Sandra Regina Goulart Almeida, também presidente do conselho, afirma que a medida agrava “o quadro de restrições orçamentárias que a Instituição vem sofrendo nos últimos anos”.
Em Salvador, por sua vez, alunos de escolas públicas e particulares estão com as aulas suspensas. O movimento também se opõe à reforma da previdência. Colégios de renome na capital baiana, a exemplo do Antônio Vieira e Sacramentinas e Portinari, aderiram à paralisação. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), com medidas como o bloqueio de verbas para as universidades e instituições, o governo prejudica a educação no Brasil.
Pelo menos 75 das 102 universidades e institutos federais do País convocaram protestos para esta quarta-feira, em resposta ao bloqueio de 30% dos orçamentos determinado pelo Ministério da Educação (MEC). Eles terão apoio de universidades públicas estaduais de diversos Estados – incluindo São Paulo, onde os reitores de USP, Unicamp e Unesp convocaram docentes e alunos para “debater” os rumos da área. Um dos alvos do protesto, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse nesta terça-feira, 14, que as universidades precisam deixar de ser tratadas como “torres de marfim” e não descartou novos contingenciamentos.
A Apeoesp, sindicato dos professores da rede estadual pública de São Paulo, o maior da América Latina, convocou os professores a paralisarem – o mesmo foi feito pelos sindicatos da rede paulistana. Atos em todos os Estados vêm sendo chamados pelas maiores entidades estudantis e sindicais do País, incluindo a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).
Do Estadão