Comissão de Trabalhadores relata problemas em novas bases do Samu

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Trabalhadores do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que participam da Comissão Paritária formada com a prefeitura de São Paulo para analisar as condições das novas bases do serviço – agora chamadas de pontos de assistência – relataram problemas em todos os locais visitados na zona sul da capital paulista.

Como já denunciavam os socorristas, há problemas para higienização dos equipamentos após o atendimento, espaços muito pequenos para permanência da equipe, ausência de locais para refeições, banheiros compartilhados e sem chuveiro, as ambulâncias ficam expostas às intempéries e têm dificuldade para sair dos locais.

“Normalmente as refeições são feitas no quarto, pois as copas ou restaurante que podem ser compartilhados ficam longe do rádio que recebe os chamados de emergência. Neste quarto também estão os armários, nos quais as equipes guardam seus pertences e onde ficam estocados os materiais de trabalho. Em alguns casos, como na UBS Eliane, esses materiais se espalham sobre os beliches, por não ter onde guarda-los. Junto a esse quarto um pequeno banheiro, também compartilhado. Alguns com chuveiro mal instalado, que a equipe utiliza para lavar as possíveis secreções de sangue, vômito e fezes que normalmente adquirem num atendimento de emergência”, diz o relato.

A comissão foi composta no final de abril, após reunião entre o Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep), trabalhadores do Samu e a prefeitura, mediada pelo Ministério Público Estadual. Os trabalhadores haviam realizado várias paralisações do serviço e estavam iniciando uma greve por tempo indeterminado, reivindicando a revogação da portaria 190/2019, da Secretaria Municipal da Saúde, que estabelece a reorganização do Samu.

A gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB) aceitou a criação da comissão e o abono dos dias parados, e os trabalhadores suspenderam a paralisação.

“Em relação às ambulâncias, a maioria fica exposta ao sol e à chuva, normalmente longe do ponto de apoio (quarto). Quando chove, os trabalhadores precisam sair na chuva para chegar na ambulância, muitas vezes com seu material de trabalho. Em quase todas as unidades o acesso das ambulâncias, entrada e saída, estão muito prejudicados. No interior da unidade, os problemas são: ponto de apoio longe do estacionamento, grande movimentação de carros e pessoas no interior. Na saída: portões estreitos, com dificuldade de movimentação rápida, ruas ou avenidas de acesso congestionadas, o que aumenta o tempo de resposta”, relatam os trabalhadores.

A comissão vai atuar por 20 dias e produzirá um relatório que será entregue ao Ministério Público. Esta semana as visitas estão ocorrendo na zona leste e na próxima semana o foco será a zona norte. O presidente do Sindsep, Sérgio Antiqueira, ressaltou que o trabalho da comissão já demonstra que a reorganização é uma falácia.

“O governo Covas dizia que ia melhorar o atendimento e a vistorias comprovam que a situação só piorou. Nós elaboramos um questionário que permite avaliar tecnicamente as unidades e queremos que isso seja discutido com os trabalhadores e a sociedade”, disse.

A reorganização do Samu teve início em 23 de fevereiro, levando ao fechamento de 31 bases do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), com a transferência das equipes para unidades de saúde municipais. A justificativa da prefeitura era ampliar de 55 para 71 os pontos de assistência do serviço. Porém, 26 dos novos locais só funcionam em dias úteis, durante o dia, limitando a atuação das equipes médicas. São Unidades Básicas de Saúde (UBS), de Assistência Médica Ambulatorial (AMA) e Centros de Atenção Psicossocial (Caps) que funcionam das 7h às 19h. As demais são hospitais, prontos-socorros e unidades conjuntas com o Corpo de Bombeiros.

Especialistas em socorro médico temem que a medida leve a um aumento no número de mortes em decorrência da elevação do tempo de resposta a chamados. “A cada minuto nós perdemos 10% de chance de salvar uma vida em uma ocorrência grave. Após 10 minutos, a chance de salvar uma pessoa infartada é zero. A prefeitura chama de reorganização, mas é um desmonte”, disse o diretor do Sindicato dos Médicos do Estado, Gerson Salvador. Nenhum trabalhador ou entidade representativa da área da saúde foi chamada a participar da reorganização do Samu.

Para os servidores, as mudanças realizadas pela gestão Covas têm como objetivo mais um corte nos recursos destinados ao sistema do que uma ampliação na área de atuação das ambulâncias. As 31 bases que serão fechadas são formadas por contêineres alugados, com toda estrutura para apoio dos socorristas, ao custo de aproximadamente R$ 20 mil por mês. Na prática, a nova distribuição geográfica das unidades não muda muito a área de cobertura das ambulâncias. Haverá mais veículos ao longo do trajeto da avenida Marginal Pinheiros (aumentando de seis para onze) e na subprefeitura da Sé (de quatro para oito). A região de Marsilac, no extremo sul da cidade, deixará de ter uma base, e, no extremo nada muda.

Além disso, a nova escala de atuação do serviço na região leste da capital paulista revela que a gestão Covas não está colocando todas as ambulâncias à disposição da população 24 horas por dia, após o processo de reorganização. Algumas bases operam com um veículo durante o dia e outro durante a noite, reduzindo o número de carros em operação de 122 para aproximadamente 80, por turno, segundo os trabalhadores. A prefeitura tem outras 25 ambulâncias que compõem a chamada reserva técnica, para o caso de manutenção dos veículos que atuam no cotidiano.

Segundo o documento, das 16 bases na zona leste, seis operam com uma ambulância de dia e outra de noite. A Assistência Médica Ambulatorial (AMA) JK, em Guaianases; o Hospital Waldomiro, em Itaquera; o Hospital Municipal Carmen Prudente, em Cidade Tiradentes; o Hospital Municipal Alípio Corrêa Neto, em Ermelino Matarazzo; a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Itaquera; a Unidade Básica de Saúde (UBS) Jardim das Oliveiras; e a Base Descentralizada São Mateus são algumas unidades com ambulâncias operando 12 horas, em turnos alternados.

Da RBA