“Convém filmar o ministro da Educação em ação”
Dias atrás, o titular da pasta da Educação, Abraham Weintraub, disse que filmar professores em sala de aula é um direito dos alunos. Os últimos movimentos do ministro estimulam a crença de que instalar uma câmera no seu gabinete deveria ser um dever prioritário do Estado.
Nesta quinta-feira, Weintraub, informou aos repórteres que a aplicação de uma amostragem do exame do Saeb, o Sistema de Avaliação da Educação Básica, custaria R$ 500 mil. Engano. Sua assessoria informaria depois que o custo será mil vezes maior: R$ 500 milhões.
Weintraub cometeu esse, digamos, deslize técnico depois de ter acusado universidades de apresentarem desempenho acadêmico precário. Cortou 30% do orçamento de três delas — UnB, UFF e UFB— por supostamente promoverem “balbúrdia”, “bagunça”e “eventos ridículos.”
Ao perceber que o corte seletivo soara ridículo, mandou passar na faca 30% do orçamento do segundo semestre de todas as universidades, não apenas de três. Fez isso sem discussão prévia.
O ministro não expandiu apenas o corte. Generalizou também a esculhambação dos reitores: “Para quem conhece Universidades Federais, perguntar sobre tolerância ou pluralidade aos reitores (ditos) de esquerda faz tanto sentido quanto pedir sugestões sobre doces a diabéticos”, escreveu no Twitter em pleno Dia dos Trabalhadores.
Weintraub defende a gravação das aulas por achar que as salas foram invadidas por professores comunistas, que privilegiam a doutrinação em detrimento do ensino. A ideologia é mesmo uma endemia a ser combatida. Migrou das escolas para os altos escalões do governo.
A exemplo do antecessor Ricardo Vélez, Abraham Weintraub revela-se portador do vírus da intoxicação ideológica, só que com o sinal trocado. Não é comunista, mas olavista. Convém instalar uma câmera no seu gabinete, com um aviso: “Sorria, Excelência, você está sendo filmado.”
Considerando-se a reincidência com que Bolsonaro acomoda no MEC afilhados do polemista Olavo de Carvalho, talvez fosse conveniente implantar uma câmera também no gabinete presidencial. Em vez da transmissão que realiza nas redes sociais às quintas-feiras, o capitão converteria sua Presidência numa live full time. Não seria a solução, mas escancararia os meandros do problema.