Governador do RJ diz que vai reagir contra à ações de expansão dos milicianos
Outro dia citei aqui uma frase de Zeca Pagodinho: “Velório em Irajá é a melhor coisa que tem”. Existia, naquelas bandas, não faz muito tempo, o Pagode do Cemitério. Era uma simples tendinha, que servia ao cemitério, aberta a noite inteira para quem velava, nas capelas, seus mortos. Com sorte, o pessoal podia beber o defunto numa roda de partido alto.
Mais importante entre as freguesias rurais do Rio, atualmente cortado pela avenida Brasil e com mais de 100 mil habitantes, o bairro (do tupi “ira-yá”, lugar do mel) recebeu, no fim do século 19, uma população constituída por ex-escravos e seus descendentes, migrados da região do Vale do Paraíba e do interior de Minas Gerais. Segundo o título de uma peça teatral que fez enorme sucesso nos anos 1970, Greta Garbo, quem diria, também acabou no Irajá. É o berço de Zeca e dos Boêmios, bloco de embalo que marcou época no Carnaval.
E é lá que a milícia —animada com a farra de porte e posse de armas promovida pelo presidente Bolsonaro— age abertamente. Muros e portões de casas ganham um selo (que lembra, de maneira tosca, uma serpente) para identificar os moradores contribuintes. O serviço de segurança, com cancelas, guaritas e vigilantes, custa ao menos R$ 20 por mês.
Na zona oeste, paramilitares cobram taxas de síndicos de prédios na Praça Seca, Vila Valqueire e Campinho. Eles estão estabelecidos na região desde a década de 1990, fazendo planos de expansão rumo à zona norte. Logo, logo, estarão batendo nos condomínios da zona sul —se é que já não estão. Segundo investigações do Ministério Público, esses grupos dominam 26 bairros da capital e 14 cidades do estado.
Citando Nova York e Chicago como cidades que também vivem sob o jugo das milícias —“uma novidade no mundo”—, o governador Witzel promete reagir. Periga ficar só na intenção, como o doutorado que ele afirmou ter feito em Harvard.
Alvaro Costa e Silva
Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de “Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro”.
Da FSP