Ministro da Educação dá dados errados sobre pesquisa científica e vagas em creches
Enquanto protestos ocorriam em mais de 170 cidades brasileiras, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, voltou a defender o contingenciamento de gastos do governo federal na pasta em audiência na Câmara na última quarta-feira (15). A Lupa checou. Veja:
“No Brasil, a pesquisa científica está baseada principalmente em Ciência da Saúde, Ciências Exatas, Ciências Biológicas, Engenharia e Agricultura. (…) Onde estão as bolsas [de pesquisa]? Elas estão justamente nas áreas que não geram a produção científica”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em sessão na Câmara no dia 15.mai.2019
FALSO Das 101.372 mil bolsas oferecidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), 57.677 —ou 56,8%— são para as áreas de ciências da Saúde, Exatas, Biológicas e Agrárias e de Engenharia, citadas corretamente pelo ministro como as que têm maior produção científica no país. Já o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) oferece 84.031 bolsas, das quais 61.623 —ou 73,3%— são para as cinco áreas citadas por Weintraub. Em nota, a assessoria de imprensa do Ministério da Educação (MEC) informou que ele se referia às bolsas da Capes, e que o número de bolsas para Ciências Humanas supera o de Ciências da Saúde e de Ciências Agrárias individualmente.
“Nós abandonamos (…) as creches. Quantas vagas foram abertas pelos governos anteriores?”
Idem
FALSO Desde 2010, o número de matrículas em creches públicas cresceu 73,5%. Naquele ano, o último do mandato do ex-presidente Lula, havia 1,3 milhão de crianças matriculadas em creches públicas. No final de 2014, último ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff, eram 1,8 milhão. Em 2018, no fim do mandato de Michel Temer, o número cresceu para 2,3 milhões. Na pré-escola, o crescimento foi similar. Os dados são das Sinopses Estatísticas da Educação Básica. Em nota, a assessoria do MEC informou que a proporção de crianças matriculadas em creches (31,9%), enquanto a meta para 2024 é de ter 50% das crianças nessa faixa etária matriculadas.
“Nós já recebemos 50 reitores para conversar”
Idem
EXAGERADO A análise das agendas dos dirigentes do Ministério da Educação mostra que houve reuniões com 21 reitores de universidades federais desde que Weintraub assumiu o cargo. As reuniões não foram diretamente com o ministro. A maioria deles foi recebida pelo secretário de Educação Superior, Arnaldo Barbosa de Lima Júnior. Os encontros concentraram-se entre os dias 23 de abril e 3 de maio de 2019, mas nem todos foram marcados para discutir os cortes das verbas em universidades federais. Em pelo menos seis ocasiões os temas descritos na pauta estavam relacionados a outros assuntos, como apresentação de balanço de um ano de gestão ou as obras do Museu Nacional. Em nota, a assessoria do MEC disse que o ministro já recebeu 20 reitores e que Lima Júnior recebeu 31, mas não esclareceu por que esses encontros não estão registrados na agenda.
“As ciências sociais aplicadas, humanidades e linguística geram pouquíssimas publicações com impacto científico. Elas não são replicadas ou citadas”
Idem
EXAGERADO Dados do portal de indicadores da produtividade científica mundial SCImago mostram que os 55.138 artigos publicados no Brasil entre 1996 e 2017 por pesquisadores de Artes e Humanidades e Ciências Sociais receberam 258.319 citações. Isso representa uma média de 4,68 citações por artigo. A média obtida pelo país em todas as áreas nesse período foi de 10,4 citações, abaixo do índice médio mundial, de 17,4 vezes. Em nota, a assessoria do MEC declarou que esse número representa somente 3% da produção científica nesta mesma base de dados.
“50% das nossas crianças passam pelo ensino fundamental e não aprendem a ler, escrever e fazer contas”
Idem
SUBESTIMADO O Anuário Brasileiro da Educação Básica de 2018 aponta que 81,8% dos estudantes que concluíram o ensino fundamental não tiveram aprendizagem adequada em matemática. O levantamento da ONG Todos Pela Educação também mostra que 66,1% dos alunos concluintes dessa etapa de ensino não tiveram aprendizagem adequada de língua portuguesa. Em nota, a assessoria do MEC disse que o ministro estava falando da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA). Em 2018, essa avaliação mostrou que 45,3% dos alunos tinham proficiência suficiente em matemática, 43,3% em leitura e 66,2% em escrita. Entretanto, a ANA é realizada no 3º ano do Ensino Fundamental, e não no final.
“O que que a gente vê no ensino médio? Ele não está universalizado”
Idem
VERDADEIRO Os dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica mostram que 90,8% dos jovens de 15 a 17 anos estavam matriculados no ensino médio em 2017. Em 2016, o índice também era de 90,8%, mostrando uma estagnação no acesso a essa etapa de educação. Vale ressaltar que, em 2017, apenas 59,2% dos jovens de até 19 anos haviam concluído o ensino médio. Em 2016, eram 58,9%.
“Quando a gente olha pro começo do [ensino] fundamental, a gente vê que, praticamente, já foi universalizado”
Idem
VERDADEIRO Segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica, 97,7% das crianças de 6 a 14 anos estavam matriculadas no ensino fundamental em 2017.
“A gente vê que a pré-escola (…) a gente ainda não universalizou”
Idem
VERDADEIRO O Anuário Brasileiro da Educação Básica de 2018 mostra que 93% das crianças de 4 e 5 anos estavam matriculadas na pré-escola. O indicador cresce progressivamente desde 2014. Segundo o levantamento, a região Norte é a área com menor percentual de crianças nesta etapa de ensino —86,9% em 2017.
Da FSP