Pedro Almodóvar dá um recado de amor para o Brasil

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Dono da mais alta cotação no ranking das revistas especializadas em cinema do Velho Mundo, “Dor e glória” (“Dolor y gloria”), do septuagenário artesão espanhol Pedro Almodóvar, arrebatou o coração do festival francês em sua edição de número 72. E nela, na manhã deste sábado, ele deu um recado de amor para o Brasil.

“Sei que o povo brasileiro está passando por um momento muito difícil de sua História, mas eu espero que o país vá por outra direção logo. Eu visitei o Brasil com Caetano Veloso, a Paula Lavigne e outros amigos da música, mas, ao chegar lá, notei uma semelhança entre a paixão que existe no Brasil e aquilo que eu represento nos meus filmes. É como se o meu amor pelo Brasil fosse anterior a meu contato com esse país que amo”, desabafou o diretor.

“Devastadora” seria a palavra ideal para definir a volta do diretor de “Tudo sobre minha mãe” (1999) às telas, com seu melhor filme em quase 20 anos. Fotografada com um colorido berrante por José Luis Alcaine, esta trama trata do ocaso (e posterior redenção) de um cineasta, Salvador Mallo (papel de um grisalho Antonio Banderas) cansado da vida, agrilhoado à solidão. O desempenho de Banderas é de doer na alma, pela tradução plena da fragilidade e do desamparo: Salvador sofre de dores na coluna e tem um problema na garganta, ligado ao sistema digestivo, que pode mata-lo engasgado. No roteiro, o cineasta faz a dramaturgia se esgarçar por caminhos inusitados, incorporando até chapas ortopédicas (em forma de animação) em sua narrativa.

“Um roteiro só acaba de ser escrito quando a montagem chega ao fim”, disse o cineasta. “Quando eu escrevo um roteiro, as primeiras linhas nascem da vida real. O resto vem de um compromisso com a ficção”.

Nesta edição em que Cannes festeja o “cinema de gênero”, com destaque para histórias de zumbis, em múltiplas latitudes, a diretora austríaca Jessica Hausner oxigenou a briga pela Palma com uma injeção de fantasia sci-fi. Uma ficção científica com ecos de thriller: “Little Joe”. No filme, a botânica Alice (Emily Beecham, em uma delicada atuação) desenvolve uma flor de cor rubra capaz de causar um aumento de felicidade em quem a cultiva. Mas uma de suas plantas vai criar um efeito colateral não desejado, e muito perigoso, o que amplia a tensão desta narrativa sombria. “Existe aqui uma certa dimensão de aceitação do fantástico e não o catastrofismo habitual de filmes como “Invasores de corpos”, disse a cineasta.

Jessica integra o maior coeficiente de realizadoras em concurso que o festival já teve: há quatro cineastas mulheres na disputa. Ao lado dela, estão a franco-senegalesa Mati Diop (elogiadíssima por “Atlantique”), e as francesas Célina Sciamma (indicada por “Portrait de la jeunne fille en feu”) e Justine Triet (“Sibyl”), que ainda não exibiram seus trabalhos.

Com “Little Joe”, o empenho da cineasta germânica foi ir além das convenções da ficção científica e do terror. “Vi as duas versões de ‘A pequena loja dos horrores’, que tem uma planta carnívora, para criar a nossa planta, buscabdo uma dimensão parecida com a de uma marionete”, disse Jessica.

Neste domingo, a Quinzena vai receber um de seus longas mais esperados, sobretudo depois que um de seus protagonistas, o inglês Robert Pattinson, foi anunciado como o novo Batman: o suspense psicológico “The Lighthouse”. No filme, o astro da franquia “Saga Crepúsculo”, já confirmado para viver Bruce Wayne em “The Batman” (2020), e Willem Dafoe estão ligados a um farol que abriga mistérios. Um dos produtores é o carioca radicado em SP Rodrigo Teixeira (de “Me chame pelo seu nome”), que lança aqui na noite deste sábado o drama romântico “Port Authority”. O longa, filmado pela diretora estreante Danielle Lessovitz, trata da paixão de um rapaz de NY por uma jovem trans, o que bagunça suas convicções acerca das identidades de gênero.

No dia 25 de maio, o festival chega ao fim, com a entrega de prêmios e a projeção do filme de encerramento: a comédia motivacional “Hors norme”, com Reda Kateb e Vincent Cassel.

Do Estadão