PSL coleciona episódios de brigas públicas
“Cara de pau” e “invejosa” estão entre as expressões usadas por integrantes do PSL em trocas de “gentilezas” públicas recentes que vão do Twitter aos recados enviados em entrevistas. Impulsionado pela eleição de Jair Bolsonaro, o partido tem causado dor de cabeça ao presidente e seu entorno no momento em que o governo precisa contar com partidários de outras siglas para avançar em suas pautas prioritárias, como a reforma da Previdência.
O episódio mais recente envolveu a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) e se tornou público após ela sair do grupo de WhatsApp da bancada do partido na Assembleia de São Paulo. Após criticar publicamente a organização dos atos de apoio ao governo previstos para o dia 26 de maio, ela ameaçou deixar o PSL, partido do presidente.
“Amigos, vocês estão sendo cegos. Estou saindo do grupo, vou ver como faço para sair da bancada. Acho que os ajudei na eleição, mas preciso pensar no País. Isso tudo é responsabilidade”, escreveu a parlamentar na mensagem reproduzida pela site O Antagonista e confirmada pelo Estado com deputados do PSL.
Nesta terça, o presidente do partido, Luciano Bivar, relatou ter recebido uma mensagem de Janaina em que ela diz que não sairá do partido. Comentando casos de atritos entre parlamentares do partido, Bivar reconheceu que o fato de políticos da legenda cederem a apelos de redes sociais dificulta a governabilidade de Bolsonaro. “Dificulta porque nem sempre as redes sociais têm o sentimento do que é o jogo político, no bom sentido, e para que a gente viabilize alguma coisa a gente não pode botar no julgo popular.”
Relembre outros 9 embates públicos envolvendo membros do PSL:
1 . Carla Zambelli (PSL) x Olavo de Carvalho
Em janeiro, a deputada Carla Zambelli entrou em conflito com o guru do bolsonarismo, o escritor Olavo de Carvalho. “Bando de caipira. Inclusive você, Carla Zambelli. Já te ajudei muito, se você não sair desse negócio, eu não te ajudo mais”, disse Olavo em vídeo criticando a ida de uma comitiva do PSL à China. Em resposta, Zambelli afirmou que, apesar de ter recebido orientações do guru, não devia sua eleição a ele.
2. Major Olimpio (PSL) x Onyx Lorenzoni (DEM)
Em fevereiro, o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), criticou o apoio do Ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, ao senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) na eleição para presidente da Casa. O líder da sigla no Senado afirmou que Onyx “nunca deveria ter interferido” na eleição e muito menos se posicionado a favor de Alcolumbre.
“Onyx é interlocutor político do governo, mas não é o governo. Foi impróprio o que ele fez. Agora, vamos curar as feridas”, disse Olimpio. O que mais contrariou Major Olímpio foi o fato de Onyx ter “dado a impressão” de que agia em nome de Bolsonaro. “Se o grupo do ministro estava ali na eleição representando o governo, quer dizer que todos os outros candidatos eram contra o governo? E eu era o quê? Não existe ninguém mais governo do que eu”, afirmou o senador.
3. Gustavo Bebianno (PSL) x Carlos Bolsonaro (PSC)
Ex-presidente do partido e então ministro da Secretaria Geral da Presidência de Bolsonaro, Bebianno se envolveu em rusgas com o filho número 2 do presidente. Carlos Bolsonaro afirmou Bebianno mentiu ao dizer que havia conversado três vezes com o presidente numa terça-feira, 12/02. Questionado sobre uma possível crise no governo e sobre sua permanência no cargo, Bebianno fez a afirmação ao jornal O Globo. Os questionamentos surgiram após a Folha de S. Paulo denunciar que o PSL deu R$ 400 mil para uma candidata laranja em Pernambuco nas eleições de 2018, período que Bebianno era presidente do partido.
“Ele (Carlos Bolsonaro) não é nada no governo”, reagiu Bebianno. “Eu sou um ministro. Tenho de respeitar a liturgia do cargo. Eu respeito o meu presidente. Eu estou sendo jogado aos leões de maneira injusta, mas eu continuo exercendo o meu papel de proteger o presidente da República, de seguir a liturgia. Eu não sou moleque para ficar batendo boca em rede social”
4. Flávio Bolsonaro (PSL) x Ilona Szabó
Após repercussão negativa entre apoiadores de Bolsonaro, ministro da Justiça Sérgio Moro teve de voltar atrás, a contragosto, na nomeação da especialista em segurança pública Ilona Szabó. Ele a havia indicado para ser membro suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. O senador Flávio Bolsonaro entrou na polêmica: “Meu ponto de vista é como essa Ilana Szabó aceita fazer parte do governo Bolsonaro. É muita cara de pau junto com uma vontade louca de sabotar, só pode.”
5. Delegado Waldir (PSL) x Olavo de Carvalho
Líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir foi outro a entrar em conflito com Olavo de Carvalho. “Não precisamos de filósofo, precisamos do presidente da República, de ministros”,afirmou o líder do PSL na Câmara em referência a Olavo de Carvalho. Nos dias 1º e 2 de abril, o guru respondeu no Twitter: “O Delegado Waldir é uma joia da inteligência brasileira. Segundo ele, só parlamentares eleitos podem opinar sobre o Brasil. Portanto ele faz campanha sem dizer porra nenhuma sobre o Brasil.”
6. Alexandre Frota (PSL) x Governo
O deputado federal Alexandre Frota (PSL-SP) virou alvo de apoiadores do presidente depois de críticas no Twitter. “O PSL é dividido entre a tropa de choque, os olavos amestrados e os coisas”, escreveu o ex-ator em abril. “Querem saber quando vamos nos entender? Todos os dias temos que ficar limpando as cagadas do governo e aí temos que ouvir um monte de merda que não é culpa nossa.”
7. Delegado Waldir (PSL) x Onyx Lorenzoni (DEM)
O líder do PSL na Câmara criticou o ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni em entrevista à Rádio Eldorado. “O PSL tem feito sua parte, mas não tem culpa se o Onyx não criou a base (do governo no parlamento), venho falando há tempos que o governo não tem base no Congresso”, afirmou em abril.
8. Joice (PSL) x Kim Kataguiri (DEM)
Joice Hasselmann (PSL-SP) se irritou com um comentário do colega de Câmara Kim Kataguiri (DEM-SP) sobre o PSL e deu início a uma discussão pública com direito a insultos no Twitter em março. Kim havia apontado uma suposta contradição do tratamento do PSL em relação ao presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele disse que falta coerência ao partido do presidente Jair Bolsonaro.
Joice respondeu pedindo para que o líder do Movimento Brasil Livre não fosse “mais oportunista do que a média de sempre” e negou que o partido tivesse se manifestado nos termos utilizados por Kim. Ele retrucou: “Tem de ser muito cara de pau para falar em oportunismo. Dizia que Maia era o demônio na Terra, o arqui-inimigo da lava-jato, o simbolo-mor da corrupção. Depois de eleita, passou a ser Maia desde criancinha. Tenha dó”. Joice respondeu chamando Kim de “moleque” (ele tem 23 anos) e pediu para deputado deixar “os adultos” trabalharem.
9. Janaina Paschoal (PSL) x Apoiadores do ato pró-Bolsonaro
Deputada estadual por São Paulo, Janaina costuma fazer abertamente críticas ao que discorda no governo. Neste fim de semana, se posicionou contra os protestos em defesa do presidente Jair Bolsonaro – resposta aos atos que o criticaram pelos cortes na Educação.
Para ela, se as ruas estiverem vazias, Bolsonaro perceberá que terá de parar de “fazer drama” para trabalhar.”Pelo amor de Deus, parem as convocações! Essas pessoas precisam de um choque de realidade. Não tem sentido quem está com o poder convocar manifestações! Raciocinem! Eu só peço o básico! Reflitam!”, escreveu. “Àqueles que amam o Brasil, eu rogo: não se permitam usar! Não me calei diante dos crimes da esquerda, não me calarei diante da irresponsabilidade da direita”.
10. Joice (PSL) x Carla Zambelli (PSL)
Outro episódio recente é a briga entre as colegas de Câmara Joice Hasselmann e Carla Zambelli, ambas de São Paulo. Na sexta, Zambelli cobrou Joice, líder do governo no Congresso, a responsabilidade para “consertar” a MP 870, da reforma administrativa, no plenário. Carla acusou Joice de boicotar o governo. “Por que Joice Hasselman finge não haver um elefante na sala? Por que não defende o Coaf com Sérgio Moro?”.
A jornalista revidou: “Ao contrário de você, penso no bem do País e do governo. Sei fazer conta, conheço matemática básica e logo sei que sem a maioria não se aprova nada. Sou inteligente, já você…”. Ainda chamou a colega de serpente: “O problema da serpente? PURA INVEJA. Está no OLHAR. Farsa.”
Do Estadão