Refugiados no Brasil têm grau de escolaridade acima da média do país
Refugiados que vivem no Brasil têm grau de escolaridade acima da média da população brasileira, mas poucos conseguem validar seus diplomas no país e trabalhar em sua área de conhecimento. Além disso, eles são mais afetados pelo desemprego.
É o que revela uma pesquisa inédita sobre o perfil socioeconômico dessa população lançada nesta quinta-feira (30) pela agência da ONU para refugiados (Acnur) junto a pesquisadores de oito universidades do país integrantes da Cátedra Sérgio Vieira de Mello, que incentiva estudos sobre deslocamentos forçados.
Refugiados são imigrantes que saíram de seus países fugindo de conflitos armados ou perseguição devido a religião, raça ou opinião política, entre outros fatores. No Brasil, eles passam por um processo que costuma durar em torno de dois anos, até terem seu pedido avaliado e reconhecido ou não pelo Ministério da Justiça.
Para a pesquisa, foram feitas entrevistas domiciliares com 487 homens e mulheres em 14 cidades de oito unidades da Federação (São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Amazonas e Distrito Federal), que acolhem 94% dos refugiados sob a proteção do governo.
A amostra é representativa do total de refugiados no país. São cerca de 5.000 os que continuam aqui, de um total de 10.522 que ganharam o status de refúgio até o fim de 2018.
Só foram incluídas pessoas já reconhecidas como refugiadas, o que deixou de fora os venezuelanos —a maioria ainda não teve seu pedido analisado. Mais de 70% dos entrevistados vieram de Síria, República Democrática do Congo, Angola e Colômbia.
Os resultados mostram que 34,4% deles concluíram o ensino superior, enquanto 15,7% da população brasileira atingiu o mesmo nível de ensino, segundo o IBGE. Além disso, só 3,3% dos refugiados são analfabetos ou não completaram o ensino fundamental, comparados com 41% dos brasileiros.
Porém, apenas 31,8% conseguem utilizar suas habilidades profissionais nos seus atuais trabalhos. Além disso, apesar de a maioria estar trabalhando, a taxa de desemprego entre eles (19,5%) é maior que na população geral.
Um dos motivos pode ser a dificuldade para revalidar seus diplomas no Brasil —apenas 14 entrevistados afirmaram ter conseguido isso.
“A pesquisa mostra que é uma população com um potencial enorme de contribuir com as comunidades de acolhida”, diz Paulo Sérgio Almeida, oficial de meios de vida do Acnur.
“Além disso, muitos falam outro idioma além do português, o que pode ser uma vantagem. Eles também têm alta propensão ao empreendedorismo.”
Entre as dificuldades, ele cita a demora para formar redes de contato. “Eles estão começando do zero, e muitas vezes o acesso ao mercado de trabalho é pelo contato com conhecidos”, diz, acrescentando que estão surgindo projetos de incentivo à contratação desses imigrantes pelo setor privado.
Refugiados têm direito à carteira de trabalho (84% têm o documento), e mais de 90% falam português. O estudo também avaliou a integração ao novo país. Mais de três quartos disseram participar de atividades com cidadãos locais. “Boa parte tem amigos brasileiros e uma parcela constitui família aqui”, diz Almeida.
A conclusão da pesquisa é que o Brasil é “uma opção difícil, porém definitiva” para os imigrantes, que “acreditam em sua capacidade de adaptação e ascensão social no país”. Segundo os dados, 85% querem permanecer no Brasil, e 57% desejam trazer seus familiares.
“Apesar das dificuldades, mais de 80% deles disseram que fariam tudo de novo”, afirma o pesquisador.
Da FSP