Texto sobre “conchavos” compartilhado por Bolsonaro foi escrito por filiado do partido Novo
Um ex-candidato a vereador pelo Novo-RJ, que em 2018 escolheu o colega de partido João Amoêdo no primeiro turno e preferiu anular seu voto a optar entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) no segundo, disse ser o autor do texto compartilhado pelo presidente nesta sexta-feira (17).
Distribuída por Bolsonaro em grupos de WhatsApp, a mensagem sustenta que o mandatário com cinco meses no cargo estaria sofrendo pressão por não ceder a “conchavos” de corporações, o que estaria tornando o Brasil “ingovernável”.
Paulo Portinho, 46, afirmou à Folha que o texto é seu —e se diz “realmente assustado” com a repercussão dele. “Tô torcendo para que acabe hoje à noite, com o próximo tema.”
“Já disseram que eu escrevi a carta de renúncia do Bolsonaro, que sou da CIA, que sou aluno do Olavo [de Carvalho]”, afirma e ri ao mencionar o escritor que virou guru da ala ideológica do governo Bolsonaro.
Professor de finanças, escritor de livros na área e funcionário na CVM (Comissão de Valores Imobiliários), Portinho conta que foi avisado por um amigo que o líder da nação havia divulgado seus escritos, que classificou como “um texto de rede social de quem vê que as coisas estão andando e tenta entender”. Publicou-o no sábado (11), em seu Facebook, e diz que não tem ideia de como ele foi parar no WhatsApp presidencial.
Ele afirma ter “zero relação com o governo” e ser um liberal, fiador de ideias que casam mais com o ministro da Economia, Paulo Guedes, do que com membros da chamada ala olavista do governo. “Sou só uma pessoa que defende algo um pouquinho mais liberal.”
Portinho diz esperar que sua vida “não mude por conta disso” e preferiu não opinar sobre os rumos do bolsonarismo. “Estão achando que sou analista político. Não sou.”
Não é, mas tem um blog no qual, até 2018, dava seus pitacos sobre temas dessa seara. O último post, de setembro, questiona no título: “Por que as pessoas acham que o nazismo é de esquerda?”.
Spoiler: Portinho refuta que ele seja de direita e diz que “maldade não tem ideologia”.
Sobre seu país natal, ele diz à reportagem: “A única coisa que falo é que minha esperança no Brasil é a de que os três Poderes atinjam seu grau máximo de racionalidade. Não adianta esperar que todo mundo se abrace, seja amigo. Mas o Judiciário tem condição de ajudar, o Legislativo, o Executivo.”
Em sua tentativa de entrar na política, três anos trás, naufragou: teve 602 votos para a Câmara dos Vereadores carioca, 0,02% do total.
De Folha de SP