Yanis Varoufakis se candidata ao Parlamento Europeu para deter nacionalismo tóxico
Ele causou um alvoroço com táticas pouco ortodoxas no auge da crise de dívida da Grécia há quatro anos; vê a política como um trabalho que cheira mal, mas que ainda precisa ser feito, e diz que a União Europeia precisa ser consertada. Yanis Varoufakis, o ex-ministro das Finanças grego, autodeclarado “marxista errático”, e entusiasta de motocicletas, está de volta e quer levar sua visão de uma sociedade mais justa para o Parlamento Europeu.
Mas, fiel a seu espírito, ele não será limitado pela política convencional nas eleições europeias entre 23 e 26 de maio. Em vez de concorrer na Grécia, ele disputa uma cadeira parlamentar europeia na Alemanha, cujo governo austero foi seu principal oponente durante a disputa sobre a dívida grega.
— Não há confrontos entre os gregos e os alemães, há um choque entre políticas humanistas racionais progressistas, por um lado, e as variedades de autoritarismo, por outro — disse Varoufakis à Reuters na cidade de Ioannina, no Norte da Grécia.
Ele busca um lugar como líder de seu movimento DiEM25, um grupo que diz querer deter a “ascensão da misantropia, da xenofobia e do nacionalismo tóxico” e frear a desintegração da UE.
Como parte da sua abordagem transnacional, o DiEM25, que faz parte da coligação Primavera Europeia, está apresentando candidatos em todo o continente, independentemente da nacionalidade, logo, o grego Varoufakis pretende representar um círculo eleitoral alemão na assembleia.
— O mau tratamento da crise do euro foi um trauma colossal, uma ferida colossal infligida ao capitalismo europeu —disse Varoufakis, que sacudiu credores estatais e comerciais como ministro no auge da crise da dívida em 2015, antes de deixar o cargo quando um terceiro resgate econômico foi imposto à Grécia. — Esse processo de desintegração e desconstrução continua. O Brexit é apenas um exemplo extremo disso.
Sua campanha conquistou alguns patrocinadores conhecidos, nem todos europeus, como o linguista e ativista político americano Noam Chomsky e a ex-atriz de SOS Malibu e ativista, Pamela Anderson.
Varoufakis viajou pela Europa com uma agenda que, segundo ele, “pode combater a extinção do clima e criar empregos de boa qualidade — o melhor antídoto para a misantropia e a xenofobia orquestrada”.
Vestido um terno preto, Varoufakis entrou em uma sala de conferências do hotel com possíveis eleitores em Ioannina, exibindo a mesma desenvoltura e confiança que demonstrava quando se dirigia a ministros europeus desaprovadores em Bruxelas.
Desta vez, suas propostas de política incluem um “New Deal Verde” no qual a zona do euro investiria 5% da produção econômica anual ou 500 bilhões de euros em novas tecnologias por meio de títulos do Banco Europeu de Investimento garantidos pelo Banco Central Europeu.
— É o mínimo e é altamente factível — disse ele. — O dinheiro está lá. A sua circulação pelo setor financeiro causou danos … tudo o que ele faz é aumentar os preços das ações. Só é útil do ponto de vista dos executivos-chefes, cujos bônus estão ligados aos preços das ações.
Varoufakis disse que está mais “maduro” desde seus dias ministeriais, quando foi considerado um rabugento para sua causa. Mas ele disse que ainda sentia a obrigação de falar o que pensava.
Caso conquiste o assento no Parlamento Europeu, ele diz que seria um gesto simbólico para refletir seu programa pan-europeu e disse que poderia entregar o assento para outro candidato depois de alguns meses para se preparar para um retorno à política grega.
Embora ele afirme nunca ter gostado de ser ministro, Varoufakis disse que sempre foi um “animal político”, descrevendo o trabalho de um político como um dever semelhante a “tirar o lixo à noite”.
— É um trabalho sujo, mas alguém tem que fazê-lo — disse ele. — Caso contrário, você sabe, o lugar vai feder.
De O Globo