Antes crítico à reeleição, Bolsonaro projeta 2022 sem ter governado até agora

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André Coelho/Folhapress

“Meu muito obrigado a quem votou e a quem não votou em mim também. Lá na frente todos votarão, tenho certeza disso.” A frase foi dita pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), na manhã de quinta-feira (20) em visita à cidade de Eldorado (SP), onde passou sua infância.

A declaração, em clima de reencontro festivo com amigos e familiares, poderia ter sido interpretada como um chiste sem maior relevância. O mandatário, contudo, que já havia tratado do tema em entrevistas concedidas em abril e maio, voltou a mencioná-lo na tarde daquela mesma quinta.

Instado por jornalistas a explicar a manifestação matinal, disse que só descartaria a ideia de disputar novo mandato se fosse aprovada “uma boa reforma política”. Caso contrário, “estamos aí para continuar mais quatro anos” —afirmou, em seu habitual coloquialismo.

Não deixa de chamar a atenção que Bolsonaro, ainda por completar seis meses de governo, se pronuncie sobre um pleito marcado para 2022. Parece, na realidade, inclinado a dirimir eventuais dúvidas, que ele mesmo, diga-se, suscitou.

Durante a campanha, o então candidato fez repetidas críticas ao estatuto da reeleição e disse que trabalharia por uma reforma política com vistas a suprimi-lo.

É provável que o mandatário já tenha se dado conta, nesse curto intervalo de vida real, que tal proposta legislativa seria extremamente custosa para seu governo —até aqui notoriamente desarticulado no Congresso Nacional.

A empreitada se mostra ainda mais fantasiosa diante do intento declarado pelo presidente de reduzir de 513 para 400 o número de deputados federais.

O mais plausível, portanto, é que Bolsonaro, na contramão de suas críticas, preocupe-se desde já em buscar estratégia capaz de torná-lo competitivo “lá na frente”.

O cenário, embora decerto prematuro, já tem seus naturais pré-postulantes. Vão, pelo menos, do governador de São Paulo, João Doria(PSDB), que não esconde suas intenções, a lideranças de esquerda, passando por nomes de “fora do sistema” —caso do sempre mencionado apresentador de televisão Luciano Huck.

A julgar pela movimentação dos primeiros meses do atual mandato, pode-se dizer que uma eternidade e muitas peripécias ainda nos separam das eleições de 2022.

Além das enormes dificuldades políticas em cena e a margem de fatores imponderáveis, permanece a interrogação sobre as reais condições do atual governante de levar a cabo as reformas e recolocar a economia em rota de crescimento.

Noves fora a contradição com o discurso de campanha, o que não é pouca coisa, menos mal que Bolsonaro explicite seu desejo de concorrer. Pior seria prosseguir com um engodo perante os eleitores.

Da FSP.