“Bolsonaro quer um Brasil igual a Mad Max”
Premiar motoristas que cometem infrações de trânsito, dobrando a pontuação máxima permitida na carteira de habilitação, e defender a retirada de radares, transformando as estradas em pistas de corrida.
Facilitar o porte de armas e possibilitar a compra de milhares de cartuchos de munição por pessoa, colocando em risco milhares de vidas e ajudando na formação e legalização de milícias urbanas e rurais.
Dificultar a fiscalização ambiental e liberar agrotóxicos em série, fomentando o desmatamento, a pesca e a caça em área de preservação ambiental e a queda na qualidade da saúde pública.
Bloquear a concessão de novas bolsas de pesquisa, reduzindo a produção de ciência e tecnologia nacionais (e, consequentemente, a produtividade e a competividade), enquanto cresce o obscurantismo.
A um observador desatento, o governo Bolsonaro parece travar uma cruzada a fim de minar toda política construída, ao longo de décadas, com o objetivo de estabelecer regras para a vida em sociedade. Afinal, pode-se interpretar seu comportamento como o de alguém que deseja substituir o respeito à lei – em que nós aceitamos abrir mão de parte de nossa liberdade em nome da coletividade – pela lei do mais forte, e o seu cada um por si e Deus acima de todos. Ou que ele adota medidas para ganhar a simpatia de uma fatia do seu eleitorado em um momento em que a insatisfação com seu governo cresce. Mas não é bem isso. Pois caso ele tenha sucesso em seu intento, o país que vai sobrar não é o sonho ultraliberal de um lugar em que o Estado não se “intromete” na vida das pessoas. Se fosse assim, o presidente estaria defendendo a ampliação do direito ao aborto ao lado do livre mercado e não ficaria (pretensamente) horrorizado com golden showers. O que ele quer, na verdade, é uma sociedade à sua imagem e semelhança.
Uma sociedade sem regras nas estradas, sem limites para o acesso às armas, sem regras para o meio ambiente e na qual o conhecimento é desprezado.
O Brasil de Bolsonaro se parece – e muito – com o mundo pós-apocalíptico de Mad Max. “Você torce contra o governo” – me acusaram hoje, pela enésima vez. Óbvio que todos queremos que o desemprego caia rapidamente e o país volte a crescer, pois a manutenção do quadro atual torna a vida insustentável por aqui.
A questão é que o presidente se desloca até o Congresso Nacional para propor o aumento de pontos na carteira e a possibilidade de não ser multado por trafegar na estrada com o farol pagado, quando deveria estar indo para apresentar um uma política nacional para a geração de emprego e renda.
Qualquer pessoa que tenha o mínimo de apreço pela civilização não pode torcer pelo naco medieval da agenda do presidente da República. E não estamos falando de Reforma da Previdência ou mesmo das privatizações de empresas em setores estratégicos.
Até porque apenas quem acredita em Coelho da Páscoa e Papai Noel também caiu no conto da promessa da conversão liberal do capitão reformado do Exército.
Até agora, o presidente conseguiu confirmar as expectativas de que é a pessoa mais despreparada a assumir o comando do Poder Executivo em muito, muito tempo. E olha que a concorrência é dura.
Se ele contasse com um projeto para com um projeto para construir um país, esse despreparo talvez o inviabilizasse.
Mas como o objetivo passa por desconstruir a sociedade como conhecemos, ele ainda tem chances de realizar seu objetivo com sucesso. Destruir é mais fácil que criar.
O Palácio do Planalto deveria tocar “We Don’t Need Another Hero”, interpretado pela Tina Turner, nas cerimônias. Ia ornar.
De Uol