Brasil de Bolsonaro: epidemia de desmatamento em 22% dos municípios
Uma epidemia em todos os biomas e estados e em 22% dos municípios. O diagnóstico, de um período de apenas seis meses, é do MapBiomasAlerta, sistema de alertas de desmatamento que entra no ar nesta sexta (7). A meta é subsidiar órgãos públicos no contra esse crime.
De outubro a março, o MapBiomas validou 4.577 alertas de desmatamento, uma perda de 89.741 hectares de vegetação nativa, área maior do que a de Goiânia. Do total de avisos, 80% já foram validados e refinados pelo sistema.
Todos esses alertas estarão disponíveis ao público a partir de sexta-feira no site http://alerta.mapbiomas.org/, incluindo imagens de alta resolução que mostram áreas em alerta antes e depois do desmate, entre outras informações.
O lançamento oficial será em um evento no Tribunal de Contas da União, em Brasília, com a presença do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, do coordenador do projeto, Tasso Azevedo, e de Ricardo Galvão, diretor geral do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
“A ferramenta busca garantir que, não importa quando alguém promoveu o desmatamento legal ou ilegal, a gente vai enxergar e vai poder reportar”, afirmou Azevedo, em entrevista coletiva via internet. “O que vai permitir o estancamento do desmatamento é a garantia de que, se isso for ilegal, haverá consequências.”
O coordenador diz que o medo de ser punido por desmate ilegal é baixo. Ele diz que só no ano passado foram gerados 150 mil alertas nos três principais sistemas de monitoramento, mas apenas 1% resultou em ações efetivas.
O diferencial do Alerta MapBiomas é que os órgãos fiscalizadores recebem um laudo pronto para fazer a autuação. Para conseguir isso, o sistema cruza bancos de dados, como o Deter-B (Inpe), o CAR (Cadastro Ambiental Rural) e o Sinaflor (Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais do Ibama).
Criado em 2015, o MapBiomas é uma iniciativa que une ONGs, universidades e empresas de tecnologia para mapear o uso da terra. O novo projeto, gratuito para os órgãos públicos, tem um custo de R$ 13,6 milhões por ano e é financiado pelo governo norueguês, pela Fundação Moore (EUA) e pelo Instituto Arapyaú, entre outros doadores.
A ferramenta é lançada em um momento em que Salles negocia com uma empresa privada um novo sistema de monitoramento. Para especialistas, essa ação é desnecessária e cara, e o foco deveria ser punir os desmates ilegais já detectados pelo Deter-B e outros sistemas disponíveis.
Mesmo com bastante experiência em monitorar desmatamento, Azevedo disse que se surpreendeu com o número de municípios com registro de desmatamento, 1.211. Corumbá (MS), no bioma Pantanal, foi o município com maior perda, 1.741 hectares.
Outra surpresa negativa foi o desmatamento da mata atlântica, o com 982 alertas e perda de 6.552 hectares, 7% do total.
A Amazônia aparece atrás do cerrado, mas o motivo é que a maior parte dos 20% alertas não validados está nesse bioma, por causa da alta nebulosidade no período dos alertas. Além disso, são os meses de menor desmatamento na região, justamente por causa das chuvas mais intensas.
Chamou a atenção que 40% dos alertas são de áreas que não poderiam ser desmatadas, como unidades de conservação e terras indígenas, e áreas de preservação permanente, como mata ciliar, reservas legais de propriedades privadas e nascentes.
Entre as terras indígenas, as mais desmatadas são as das etnias mundurucu (PA), caiapó (PA) e ianomâmi (AM/RR), todas sofrendo com a mineração ilegal de ouro.
Da FSP