Ignorando o caos, Moro vai a jogo do Flamengo com Bolsonaro

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Três dias após vir à tona diálogos que levantaram suspeita sobre a sua imparcialidade nos julgamentos da Lava Jato, o ministro da Justiça, Sergio Moro, acompanhou o presidente Jair Bolsonaro na noite desta quarta-feira (12) na tribuna de honra do estádio Mané Garrincha, em Brasília.

Minutos antes do início da partida entre Flamengo e CSA, pelo Campeonato Brasileiro, os dois surgiram para os torcedores. O presidente e assessores, em trajes informais. Moro, o único de terno e gravata.

Momentos depois, Bolsonaro vestiu uma camisa do Flamengo que recebeu de uma pessoa da arquibancada logo abaixo da tribuna.

Nesse momento foi bastante aplaudido e apoiado, apesar de um ou outro xingamento vindo das arquibancadas. Logo em seguida, pediu que outro torcedor desse uma camisa para que Moro vestisse.

O ministro da Justiça, mostrando certo desconforto, despiu-se do paletó e vestiu a camisa do time de futebol por cima da camisa social. Houve aplausos e um breve coro de apoio.

Menos de um minuto depois, ele tirou a camisa e devolveu ao torcedor.

O ministro da Justiça fez por várias vezes gesto de “V” de “vitória”, além de erguer o punho, sempre demonstrando estar pouco à vontade no papel de torcedor.

Ele e Bolsonaro receberam apoio de torcedores que estavam na região perto da tribuna, apesar de um ou outro xingamento esporádico e um grito de “Lula livre “.

Momentos antes do jogo chegaram o ministro Paulo Guedes (Economia) e o vice-presidente, Hamilton Mourão.

Bolsonaro interagiu com alguns torcedores e disse apostar em uma goleada do Flamengo por 4 a 0. O presidente torce para o Palmeiras.

Moro apostou em 3 a 0, em gestos com a mão, mesmo placar apontado por Guedes.

No intervalo do jogo, Bolsonaro e Moro conversaram alguns minutos a sós, em uma parte mais reservada da tribuna do estádio.

O presidente e seus ministros deixaram o estádio assim que o juiz apitou o final da partida.
O Flamengo venceu o time alagoano por 2 a 0.

Segundo série de reportagens do site The Intercept Brasil, Moro e Deltan discutiam colaborações de processos em andamento e comentavam pedidos feitos à Justiça pelo Ministério Público Federal.

Para advogados e professores, a maneira como o atual ministro da Justiça e o procurador reagiram à divulgação das conversas, sem contestar o teor das afirmações e defendendo o comportamento adotado na época, aponta que o conteúdo é fidedigno e que ele pode servir de base para reverter decisões da Lava Jato, por exemplo, contra o ex-presidente Lula.

Por esse raciocínio, o fato de o material ter sido provavelmente obtido por meio de um crime faz com que ele não tenha como ser utilizado para acusar um suspeito, mas possa servir para absolver um acusado.  ​

Segundo a legislação, é papel do juiz se manter imparcial diante da acusação e da defesa. Juízes que estão de alguma forma comprometidos com uma das partes devem se considerar suspeitos e, portanto, impedidos de julgar a ação. Quando isso acontece, o caso é enviado para outro magistrado.

Da FSP