Aproximação a Trump impede Brasil de comandar negociação na OMC
A aproximação do governo brasileiro ao de Donald Trump acabou tendo um custo elevado para o País. O Itamaraty tenta colocar um de seus representantes para presidir as negociações sobre os subsídios à pesca na Organização Mundial do Comércio. Mas a candidatura está barrada por alguns países asiáticos e africanos.
O motivo: o Brasil aceitou a proposta da Casa Branca de acabar com os direitos que países em desenvolvimento teriam nas regras comerciais internacionais. Na semana passada, numa declaração presidencial, Trump deixou claro que não aceitaria mais que a condição de “país em desenvolvimento” seja tomada pelo próprio governo.
As regras do comércio permitem, hoje, que um país em desenvolvimento leve mais tempo para cumprir certas exigências internacionais, que mantenham suas tarifas mais elevadas e que possam subsidiar certos setores da economias em patamares superiores aos demais países ricos.
Os americanos alertam que a regra faz sentido para países pobres. Mas não poderia ser aplicado para economias como a da China, Coreia do Sul ou Cingapura.
Em sua primeira viagem aos EUA, Bolsonaro fechou um acordo com Trump. Os americanos dariam o apoio para que o Brasil fizesse parte da OCDE e, em troca, o Itamaraty abriria mão de sua condição de país em desenvolvimento nas futuras negociações comerciais.
O problema é que, na OMC, a postura do Brasil abriu um sério debate entre os emergentes. Ao aceitar o novo status, o Itamaraty criou um precedente aos demais países em desenvolvimento, já que serão obrigados a seguir os mesmos passos do Itamaraty.
Agora, vários países emergentes não querem dar seu voto ao Brasil para ocupar a presidência da negociação. O Itamaraty tem o apoio dos países latino-americanos e dos EUA. Mas sua candidatura é alvo de um impasse diante da resistência de emergentes.
Por anos, o Brasil liderou o grupo de países emergentes na OMC, com uma postura que tentava modificar o equilíbrio de poder dentro da entidade.
O apelo da Cada Branca por uma revisão da qualificação das economias não é novo. O argumento de Washington é de que tal divisão fazia sentido em 1995, quando a OMC teve seu início. Mas, hoje, o argumento é de que a China é a maior exportadora do mundo e, ainda assim, conta com tais benefícios.
Do UOL