“Covas manda recolher cobertores de moradores de rua”, denuncia padre
Mortes causadas pelo frio, pertences retirados, violência e fome.
Esses são apenas alguns dos problemas enfrentados pela população em situação de rua que quase dobrou em São Paulo, nos últimos três anos, segundo dados do Movimento Estadual de População em Situação de Rua.
O número de pessoas nessa situação de vulnerabilidade saltou de 63,2 mil, em 2016, para 105,3 mil em 2018, de acordo com a base disponível no site da prefeitura. Apesar disso, o governo do prefeito Bruno Covas (PSDB) ainda trabalha com a estimativa de 15 mil pessoas dormindo sobre papelões nas ruas da capital paulista, último dado oficial publicado pelo IBGE, ainda em 2015.
Apesar do crescimento da população em situação de rua, muitos ainda permanecem sem local para dormir nos dias frios do inverno. E há reclamações de que a prefeitura promete dar abrigo, mas não aparece para realizar o transporte.
“Na verdade são as pessoas mesmo que ajudam, um ajuda o outro. Agora da prefeitura não veio ninguém não, fiquei esperando o dia inteiro. Disseram que a perua viria ontem, fiquei esperando, disseram que ao menos eu podia dormir, tomar um banho. Infelizmente, como é a realidade de muitos brasileiros, o desemprego me trouxe pra uma situação dessa, mas não que eu queira ou esteja confortável”, diz Adriana Caroline dos Santos, em reportagem de Beatriz Drague Ramos, na Rádio Brasil Atual.
Aos 26 anos, Adriana está grávida de oito meses e aguarda por um abrigo seguro nas ruas no entorno da Avenida Paulista.
Neste inverno, sete pessoas já morreram em São Paulo, desde a última sexta-feira (7), quando a maior onda de frio passou pelo estado.
Nesse cenário de frio intenso, o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, há mais de 30 anos auxiliando pessoas em situação de rua, afirma que o decreto que proíbe a Guarda Civil Metropolitana (GCM) de recolher pertences de pessoas que estão na rua não tem sido cumprido.
“O ‘rapa’ continua o mesmo. Continuam tirando os agasalhos, os cobertores, os pertences, documentos. Nesse inverno, a prefeitura aumentou o número de acolhidos em 280 pessoas. Isso é muito pouco para uma população que aumentou muito.
Basta levantar os olhos em qualquer rua da cidade pra ver que muita gente continua nas ruas. E sempre no discurso oficial fica embutida a fala de que a culpa é da pessoa que morreu porque não aceitou ser acolhida.
A pessoa não aceitou a forma de acolhida que a prefeitura dá, que não é humana, é muito burocrática, acaba discriminando.
O frio todos sentem, mas mata só os pobres”, critica padre Júlio.