Demissões de jornalistas nos EUA alcançam nível mais alto em 10 anos

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Foto: reprodução

As demissões de jornalistas nos Estados Unidos estão em seu nível mais alto desde a crise econômica mundial, que ocorreu entre 2007 e 2009.

Em 2009, foram cortados 7.914 profissionais da área no país durante os primeiros cinco meses do ano. De janeiro a maio deste ano, cerca de 3.000 empregados de veículos de mídia foram demitidos, segundo reportagem da Bloomberg.

Com o desemprego em solo americano em seu ponto mais baixo desde 1969, o mercado jornalístico é um raro ponto fraco, segundo Andrew Challenger, vice-presidente do Pew Research Center.

“Na maioria das áreas, empregadores não conseguem encontrar pessoas suficientes para preencher as vagas. No jornalismo, tem sido o oposto. E o processo parece estar se acelerando”, afirmou.

Os cortes criaram um mercado de trabalho competitivo, no qual a quantidade de jornalistas desempregados excede com frequência o número de oportunidades.

Quando o Bklyner, um site de notícias locais do bairro do Brooklyn, em Nova York, abriu vaga em maio para repórter da área de política, 16 jornalistas enviaram seus currículos em poucas horas. Muitos deles com experiência em veículos de escopo nacional e internacional, como CNN e Reuters.

“Para mim, foi incrivelmente depressivo. Diz muito sobre a indústria o fato de não podermos empregar todas essas pessoas”, disse Liena Zagare, editora do Bklyner.

Entre as razões para o problema, segundo a Bloomberg, estão a perda de contratos publicitários, que faz com que veículos online procurem competir com gigantes como Facebook e Google, e a queda de qualidade ocasionada pelas demissões, dificultando a atração de novos assinantes.

A instabilidade tem gerado a criação de sindicatos, que tentam garantir direitos aos profissionais da área.

Ex-chefe de escritório do BuzzFeed News que esteve entre 250 empregados demitidos em janeiro, John Stanton ajudou a criar um projeto com o objetivo de chamar a atenção para a atitude predatória de sites como Faceboook e Google sobre Redações em relação à publicidade online.

Segundo ele, muitos dos jornalistas demitidos do BuzzFeed ainda estão buscando emprego e trabalham fazendo freelance, escrevendo artigos de mil palavras que levam uma semana para serem feitos e pagam cerca de US$ 400 (cerca de R$1.500). “O pagamento para freelancers é totalmente inadequado”, disse Stanton.

Apesar do panorama pouco promissor, a procura por cursos de jornalismo tem aumentado em instituições de ensino americanas, que tentam preparar os estudantes para o mercado atual.

A Universidade de Maryland, por exemplo, requer que os alunos façam mais aulas de reportagem em áudio, porque “essa geração parece adorar podcasts”, segundo Lucy Dalglish, reitora da Faculdade de Jornalismo Philip Merrill.

Nem mesmo o caso de alguns jornais, como o Los Angeles Times e o Washington Post, que recentemente anunciaram a contratação de jornalistas, deram alívio para o setor.

Chris Outcalt, jornalista freelancer que em junho recebeu o prestigioso Livingston Award, precisa trabalhar em meio período como bartender na cidade de Denver para conseguir pagar as contas.

“Me pergunto se vou segurar as pontas até encontrar um trabalho mais estável —algo, digamos, que ofereça plano de saúde. Certamente ninguém se torna jornalista para ficar rico, mas não consigo imaginar que haja pessoas que queiram seguir uma profissão tão desafiadora que ao mesmo tempo requer que você sirva bebidas duas noites por semana.”

Da FSP