Ex-metalúrgicos da Volkswagen querem que montadora reconheça sua participação na ditadura militar
Ex-metalúrgicos da Volkswagen realizaram, nesta segunda-feira (1º), um ato de protesto pelo apoio dado pela empresa à ditadura civil-militar (1964-1985), além de homenagear o operário Lucio Bellentani, preso e torturado, em 1972, em plena fábrica da montadora em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Para os trabalhadores, é importante que a empresa reconheça sua participação no regime opressor.
Um dossiê produzido pelo Intercâmbio, Informação, Estudos e Pesquisas (IIEP), com mais de 500 páginas, aponta que a colaboração da Volkswagen com a ditadura militar é evidente. O documento servirá para um inquérito no Ministério Público. “Os documentos são arrasadores. Depois de passarem pela perícia do MPF e confirmada pelos historiadores contratados pela volks. Eles falam da cooperação da empresa ativa com a política durante décadas”, explica Sebastião Neto, colaborador da entidade, ao repórter Jô Miyagui, da TVT.
Lucio Bellentani foi uma das vítimas no período da ditadura militar. Filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), ele foi preso por agentes da ditadura na própria Volks, sendo torturado na empresa e, posteriormente, também no Departamento de Ordem Política e Social (Dops).
“O que é impressionante no caso do Lucio é que ele foi preso no seu posto de trabalho. O Ministério Público concluiu pela culpabilidade da empresa e pediu para a Volks fazer um acordo com as respectivas indenizações e reparações, ou enfrentar um processo judicial, como têm sido em outros países”, diz Sebastião
No Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), familiares do ex-metalúrgico, que morreu no dia 19 de junho, também foram homenageados. “O que já foi feito não tem como ser desfeito, mas esse reconhecimento é uma maneira de que não aconteça novamente e a luta do Lucio foi de 50 anos por esse reconhecimento”, afirma Maria Sérgio de Almeida Bellentani, esposa do homenageado.
Para metalúrgicos e ex-metalúrgicos, é importante que a Justiça seja feita em relação a todos os trabalhadores que foram vítimas de empresas que colaboraram com a ditadura militar, além da própria Volkswagen reconhecer e se desculpar pelos erros. “O Brasil tem uma do débito é de não reconhecer o comportamento daqueles que não pertenciam às forças armadas, na colaboração com a ditadura. As empresas fazendo esse papel já é um grande passo. O Brasil deve isso à sua história”, acrescenta Wagner Santana, presidente do SMABC.
Da RBA