Fagnani: ‘O problema não é o déficit na Previdência, é o déficit de democracia’
Na tentativa de angariar apoio para a aprovação da “reforma” da Previdência, o governo de Jair Bolsonaro acelerou a liberação de emendas parlamentares que, de acordo com edição extra do Diário Oficial da União desta segunda-feira (8), totalizam quase R$ 1 bilhão. Mas, segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, a negociação envolvendo a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6/2019 pode chegar a R$ 5,6 bilhões.
Com o lote extra e sinais favoráveis, a votação do texto deve ter início nesta quarta-feira (10) no Plenário da Câmara. Na avaliação do professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Eduardo Fagnani, as manobras do governo devem ter efeitos e a “reforma” deverá ultrapassar os 308 votos necessários para a aprovação.
“O problema não é o déficit na Previdência, é o déficit de democracia, porque não é comprando voto que você aprova uma medida que é uma tragédia humanitária”, critica Fagnani em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual. “Temos um déficit de democracia, temos um Parlamento que não representa a sociedade, essa que é a verdade. Quando você vê as grandes bancadas, como a do agronegócio, elas não representam (os interesses) da sociedade”, acrescenta o professor, incluindo a ausência de visões contraditórias sobre o tema da Previdência na mídia tradicional. “A imprensa não cumpre esse papel, o que a gente vê é uma lavagem cerebral cotidiana em cima de mentiras, de falsas verdades, fake news.”
Se aprovada pela Câmara, a PEC 6/2019 irá ao Senado, onde será apreciada em agosto. Prevendo mudanças no regime de pensão, no acesso à aposentadoria por invalidez, aumentando o tempo de contribuição para acessar o regime de Seguridade Social, Fagnani destaca a importância da mobilização da sociedade e dos movimentos sociais e sindicais para barrar o projeto na íntegra. “O governo aposta que as pessoas irão morrer antes de aposentar, assim ele fará o ajuste fiscal. Na melhor das hipóteses, haverá uma massa de idosos não aposentáveis, pessoas que não conseguem cumprir as exigências”, contesta o professor.
Do PT