Índios mundurucus expulsam madeireiros ilegais no Pará
Sem apoio dos órgãos de fiscalização, guerreiros mundurucus realizaram nos últimos dias uma expedição a pé de cerca de 100 km expulsar madeireiros e palmiteiros da Terra Indígena (TI) Sawré Muybu, no sudoeste do Pará.
Segundo comunicado dos mundurucus, a expedição encontrou diversos madeireiros, a quem deram um prazo de três dias para saírem do território.
“Ficamos muito revoltados por ver as nossas árvores derrubadas e as nossas castanheiras como tora de madeira em cima de um caminhão. E sabemos que, quando retiram madeira, vão querer transformar nossa terra em um grande pasto para criar gado.”
“Nós estávamos armados com nossos cânticos, nossa pintura, nossas flechas e a sabedoria dos nossos antepassados. E, com muita pressão, eles passaram a madrugada toda retirando 11 máquinas pesadas, 2 caminhões, 1 quadriciclo, 1 balsa e 8 motos. Todos sem placa. Na retomada, andamos 26 km vigiando os ramais [estradas] que os madeireiros fizeram no nosso território e bebendo água suja do rio Jamanxim, que está poluída pelo garimpo”, afirma o texto dos mundurucus.
Com 178 mil hectares de floresta, a TI Sawré Muybu teve seus estudos de identificação e delimitação publicados no Diário Oficial da União em 2016.
O presidente Jair Bolsonaro, no entanto, diz que não homologará mais terras indígenas, além de prometer abri-las para mineração e outras atividades econômicas de grande impacto ambiental.
Com a tramitação paralisada em Brasília, os mundurucus fizeram, junto com a fiscalização, a quinta etapa da chamada autodemarcação, em que eles mesmos delimitam o território reclamado por meio da colocação de placas na floresta.
As declarações de Bolsonaro têm estimulado um aumento de invasões de terras indígenas por grileiros e garimpeiros desde o início do ano, mesmo em áreas já homologadas. É o caso das Tis Uru-eu-wau-wau (RO), Apyterewa (PA) e da Cachoeira Seca (AP).
Na TI Munduruku, vizinha a Sawré Muybu, já homologada, os mundurucus perderam controle de parte do território, tomado por garimpeiros de ouro. Alguns rios, como o Tropas, foram devastados.
Trata-se de uma das etnias mais populosas do país, com cerca de 14 mil pessoas. Na semana passada, garimpeiros invadiram a TI Waiãpi, no oeste do Amapá, resultando na morte de uma liderança, segundo relatos dos indígenas.
“Será que vai precisar morrer outros parentes, como aconteceu com a liderança waiãpi, para que os órgãos competentes atuem?”, questionam os mundurucus. “Sozinhos, conseguimos expulsar madeireiros que nem o ICMBio, Ibama e Funai conseguiram”, dizem os mundurucus.
“Os invasores estão matando a nossa vida e derramando o sangue da nossa floresta. A nossa vida está em perigo. Mas, por isso, nós vamos continuar mostrando a nossa resistência e a nossa autonomia. Somos capazes de cuidar e proteger o nosso território para nossos filhos”, afirma a nota.
“Ninguém vai fazer medo e ninguém vai impedir porque nós mandamos na nossa casa que é nosso território. Estamos aqui defendendo o que é nosso, e não dos pariwat [brancos]. Por isso, sempre vamos continuar lutando pelas demarcações dos nossos territórios. Nunca vão nos derrubar. Nunca vamos negociar o que é sagrado.”
Da FSP