Intercept: “nós noticiamos, eles nos atacam”

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Foto: EBC

Leia o texto compartilhado por Andrew Fishman, editor geral do The Intercept Brasil:

Nós noticiamos, eles nos atacam

Na tarde de terça-feira supostos hackers foram presos pela Polícia Federal em São Paulo e Araraquara. Grande parte das notícias já publicadas na imprensa se limitaram a reproduzir informações vazadas de fontes da PF. 
O Intercept não comenta assuntos relacionados à identidade de suas fontes anônimas. O sigilo de fonte é um direito garantido pela Constituição Federal de 1988.

A tentativa de ligar supostos hackers ao nosso trabalho é mais um entre tantos ataques desde que começamos a publicar a série “As mensagens secretas da Lava Jato”. Nós alertamos em editorial publicado em 15 de julho que esta era a estratégia do ex-juiz Moro e dos membros da força-tarefa diante da abundância de provas da autenticidade do material obtido pelo Intercept. Dizia o editorial:
Diversas fontes disseram ao Intercept ao longo dos últimos dias que a Polícia Federal, durante o afastamento do ministro Sergio Moro, está considerando realizar essa semana uma operação que teria como alvo um suposto “hacker”, que hipoteticamente seria a fonte do arquivo. Esse suposto hacker seria estimulado a “confessar” ter enviado o material ao Intercept e o adulterado.

Moro e seus aliados querem abafar as revelações da #VazaJato, desviar o foco da sociedade e deslegitimar o jornalismo sério e contundente. É por conta dessa estratégia injusta e falsa, que tem como objetivo parar nosso trabalho, que eu estou escrevendo para você. 

Neste momento, precisamos de aliados como você. Milhares de pessoas decidiram mostrar que acreditam em uma imprensa livre, independente e corajosa e se juntaram a nós como apoiadores do TIB. Isto nos deixou mais fortes do que nunca e abriu novas possibilidades para nosso trabalho — nos permitindo fazer o que o público espera de nós: jornalismo de impacto. Nós assumimos riscos para fazer o nosso trabalho porque acreditamos que é importante. Agora preciso que você também faça sua parte.

Desde a primeira reportagem publicada foram muitas as tentativas de criminalizar o que fazemos. Promotores foram a público pedir a prisão dos profissionais que trabalham com o material da #VazaJato, disseminou-se a informação de que esses profissionais seriam alvo de investigações ilegais. Eles mentiram — e foram desmentidos inúmeras vezes — sobre a veracidade do material.

Ontem, Moro, apesar de o inquérito da Polícia Federal estar em andamento, precipitou-se e publicou no Twitter que os supostos hackers presos seriam a nossa fonte — uma declaração que foi contrariada por um delegado graduado da PF para nosso colega Rafael Moro Martins, em Brasília. Além disso, alguém passou o dia inteiro vazando informação para O Antagonista, que publicou tudo com alegria e sem qualquer questionamento. Tempos estranhos esses em que um ministro da Justiça comenta sobre investigações em andamento, investigações nas quais, aliás, ele tem interesse direto. 

A deputada Joice Hasselmann, por sua vez, não teve pudor ao atacar Glenn Greenwald e insinuar que algo aconteceria com um jornalista que exerce seu direito de noticiar livremente. O mesmo foi feito pelo deputado Filipe Barros que foi a público pedir apreensão do passaporte de Glenn e sua família.

As condutas de Sergio Moro, Deltan Dallagnol e da força-tarefa demonstrada nas reportagens da #VazaJato são indefensáveis. E com essa afirmação concordam diversos analistas independentes, juristas, jornalistas e (ex-)apoiadores da Lava Jato. Constatada a inegável autenticidade do material e a gravidade do que foi revelado não restou outra estratégia aos envolvidos: decidiram afirmar que somos “aliados de criminosos” e criminalizar o ato de noticiar. Seu exército de bots nas redes sociais tratou de disseminar essa mentira (e nos perseguir).

Enganar os cidadãos, desviar o foco do debate público que realmente interessa (os abusos cometidos pela operação Lava Jato) e atacar jornalistas são golpes baixos com implicações sérias. Os ataques contra a #VazaJato, na realidade, não têm apenas o Intercept como alvo. Mas toda a imprensa autônoma e aqueles que prezam pela democracia. 

Nós continuaremos fazendo exatamente o que essa galera mais teme: exercendo nosso trabalho com o rigor jornalístico que sempre pautou nossa redação. Ele é instrumento essencial em qualquer democracia e só existe com independência, coragem e transparência. Suas táticas de intimidação não vão abafar a verdade.
Esta luta será longa e eu espero, sinceramente, não deixar de contar com seu apoio. Atualmente temos mais de 10,300 pessoas corajosas ao nosso lado, gente que contribui mensalmente com o que pode para fortalecer o trabalho do Intercept e garantir que as reportagens não parem. 

Se você é uma dessas pessoas, obrigado por estar com a gente. Se ainda não se inscreveu, agora é mais importante do que nunca. Vamos mostrar para eles que estamos unidos e fortes. Junte-se a nós, porque ainda temos muito mais para reportar.

Da Newsletter do The Intercept Brasil