Juíza teleguiada por Moro critica reportagem sobre Dallagnol
A juíza federal Gabriela Hardt, que atua na Lava Jato no Paraná, criticou a Folha e disse que o jornal por “princípios éticos” não deveria publicar uma das reportagens apuradas com base em mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil.
A manifestação da juíza foi feita em despacho na última quarta-feira (24), em decorrência de pedido enviado a ela pelo procurador Deltan Dallagnol para que fosse retirado o sigilo de um documento em processo judicial.
Durante apuração de reportagem que mostrou que Deltan foi pago para fazer palestra para uma empresa mencionada em delação da Lava Jato, o procurador foi questionado pelo jornal sobre o assunto.
O Ministério Público Federal, então, pediu à Justiça que parte do sigilo sobre esse episódio fosse levantado para que Deltan pudesse comprovar que havia tomado a iniciativa.
Antes da publicação da reportagem, Hardt concordou com o pedido de Deltan e o autorizou a enviar o ofício à Folha.
No despacho, a juíza criticou a divulgação de informações sobre a delação pelo jornal antes do fim das investigações.
“A publicização de investigação pendente acarretará notório prejuízo às apurações, eventual prejuízo à colheita de provas, à recuperação de ativos criminosos e à punição de pessoas envolvidas em crimes”, escreveu ela.
Ela afirmou que “quem perde com a publicização é a sociedade”.
“Quero crer que por princípios éticos —antes de qualquer elucubração a respeito de eventual crime pela divulgação de dado eventualmente obtido por meios ilícitos— o órgão de imprensa mencionado deixe de publicar os dados da presente investigação.”
A reportagem foi publicada na Folha nesta sexta-feira (26). Ela mostra que o procurador da Lava Jato recebeu R$ 33 mil por palestra ministrada em Florianópolis em 2018. Quatro meses após o evento, ele contou a outros procuradores em um chat que havia descoberto a citação à empresa na delação de Jorge Luz.
A situação levou Deltan e outros procuradores que haviam mantido contato com a Neoway a deixar as investigações relativas ao delator.
Hardt é juíza substituta da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pela Lava Jato no Paraná. Ela está interinamente à frente da operação porque o juiz titular, Luiz Bonat, está em férias.
A juíza também substituiu o ex-juiz Sergio Moro na Lava Jato de novembro do ano passado a março deste ano. Em fevereiro, foi a autora da sentença que condenou em primeira instância o ex-presidente Lula a 12 anos e 11 meses de prisão no caso do sítio de Atibaia (SP).
O caso está em fase de apelação no segundo grau.
De FSP