13% dos funcionários do clã Bolsonaro têm indícios de que não trabalhavam
Dos 286 funcionários que o presidente Jair Bolsonaro e seus filhos Flávio, Carlos e Eduardo contrataram em seus gabinetes parlamentares nos últimos 28 anos, em ao menos 37 casos há indícios de que os assessores não trabalhavam de fato nos cargos. O número representa 13% do total de assessores dos mandatos do clã Bolsonaro.
Os dados integram o mapeamento feito pelo GLOBO em diários oficiais e com uso da Lei de Acesso à Informação sobre todos os assessores parlamentares nomeados pela família desde 1991. Um cruzamento de dados mostrou que, ao menos, 102 possuem algum laço familiar ou parentesco entre si.
No grupo de 37 pessoas que constaram como assessores, mas possuem indícios de que não atuavam efetivamente nos cargos, estão 20 investigadas pelo Ministério Público do Rio no procedimento que apura peculato e lavagem de dinheiro, além de improbidade administrativa, no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
São pessoas como Márcia Oliveira de Aguiar, mulher de Fabrício Queiroz, ex-segurança de Flávio, alvo do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) pela movimentação atípica de R$ 1,2 milhão. Márcia constou como assessora por dez anos e jamais teve crachá na Alerj, além de declarar-se “cabeleireira” em um processo de violência doméstica. Também é a situação de Nathália Queiroz, que trabalhou como personal trainer enquanto figurou como assessora de Flávio e também de Jair.
Entre os investigados pelo MP e que possuem indícios de que não trabalharam nos cargos estão dez pessoas ligadas à família de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro. Todos eles tiveram cargos no gabinete de Flávio e moravam em Resende no período em que constaram como assessores. Em junho, O GLOBO mostrou as histórias do aposentado José Procópio da Silva Valle, da professora aposentada Maria José de Siqueira e Silva, da fisiculturista Andrea Siqueira Valle e do veterinário Francisco Diniz. Os dois primeiros nunca tiveram crachá na Alerj. Além disso, Andrea vivia de faxinas e Diniz cursou medicina veterinária em Barra Mansa no período.
O nutricionista Rafael Góes constou como assessor do gabinete de Carlos Bolsonaro entre 2001 e 2008. Questionado se trabalhou no gabinete, também disse que “não”. Dias depois, confrontado outra vez com a informação, disse que “estava na correria” e mandou a reportagem falar com o atual chefe de gabinete, Jorge Fernandes.
A revista “Época” revelou, em junho, que Marta da Silva Valle, cunhada de Ana Cristina Siqueira Valle, sempre morou em Juiz de Fora (MG), mas esteve lotada no gabinete de Carlos, entre 2001 e 2009. Procurada, ela admitiu que nunca trabalhou para Carlos.
— Não trabalhei em nenhum gabinete, não. Minha família lá que trabalhou, mas eu não — disse Marta.
Nos gabinetes dos Bolsonaro, passaram 64 assessores que tiveram o sigilo quebrado e, atualmente, são investigados pelo MP do Rio sobre a possibilidade de ter havido rachadinha no gabinete de Flávio na Alerj.
Flávio: ‘Nomeação seguiu regras’
Procurada, a assessoria do senador Flávio Bolsonaro afirmou que “a nomeação dessas pessoas ocorreu de forma transparente e de acordo com as regras da Alerj”. Além disso, “as pessoas que foram nomeadas, na época, eram qualificadas para as funções que exerciam. Trabalharam em diferentes áreas, mas sempre em prol do mandato, tanto que as votações enquanto deputado estadual foram crescentes”.
O Palácio do Planalto disse que não iria comentar e o vereador Carlos Bolsonaro não retornou os contatos.
A defesa da família Queiroz informou que “todas as perguntas relacionadas à investigação do MP-RJ já foram respondidas e que no momento processual adequado, prestará todas as demais informações”.
De O Globo