Bolsonaro ainda estuda envio de tropas para Amazônia
O presidente Jair Bolsonaro avalia a mobilização do Exército para combater os incêndios na Amazônia, sob pressão dos líderes do G7 e convocatórias de manifestações contra seu governo dentro e fora do Brasil.
“A tendência é essa”, disse Bolsonaro aos repórteres, acrescentando que o anúncio poderia ser feito ainda hoje.
O G7 das principais economias ocidentais indicou que pretende dar uma resposta “concreta” aos incêndios durante sua cúpula este fim de semana em Biarritz (França).
“A magnitude dos incêndios é preocupante e ameaçadora não apenas para o Brasil e outros países afetados, mas também para o mundo todo”, justificou a chefe do governo alemão, Angela Merkel, por meio de seu porta-voz.
A França e a Irlanda indicaram, por sua vez, que, se o Brasil não cumprir seus compromissos ambientais, o acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul pode se ver ameaçado.
Celebridades como Madonna, Ricky Martin, Novak Djokovic e Leonardo DiCaprio acentuaram a pressão e organizações não-governamentais convocaram mobilizações em frente a embaixadas e consulados brasileiros, apesar de muitas vezes usarem fotos antigas ou de outros lugares.
Com gritos de “Salvem a Amazônia” e “Fora Bolsonaro”, centenas de pessoas protestaram em frente à embaixada brasileira em Londres.
Os incêndios no Brasil aumentaram 85% este ano em relação ao mesmo período de 2018. Dados de satélite do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) apontam até 22 de agosto 76.720 focos de incêndio – 1.384 a mais que no dia anterior -, com 52,6% na região amazônica.
Outros 29,8% estão localizados no Cerrado e o restante em outros biomas, como a Mata Atlântica e o Pantanal, em alguns casos com efeitos em países vizinhos como Bolívia e Peru.
O Brasil está na estação seca, quando os incêndios são frequentes, embora especialistas concordem que o aumento acentuado dos focos deve-se ao desmatamento, que também segundo dados do INPE e de outras instituições aumentou exponencialmente nos últimos meses.
Um estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) mostrou na quinta-feira que os dez municípios com maior número de incêndios florestais este ano também são os que apresentam as maiores taxas de desmatamento.
O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, criticou Bolsonaro em discurso por ocasião da Semana do Clima da América Latina e do Caribe em Salvador.
“O mundo não tolerará mais uma governança irresponsável sobre a Amazônia (…) negar o aquecimento global não é uma coisa séria, não é uma coisa inteligente”, afirmou.
– Bolsonaro busca recuperar a iniciativa – Na quinta-feira, Bolsonaro denunciou uma atitude “colonialista” do presidente francês Emmanuel Macron por ter proposto levar a questão ao G7.
“Lamento que o presidente Macron busque instrumentalizar uma questão interna do Brasil e de outros países amazônicos p/ ganhos políticos pessoais”, tuitou o presidente de extrema-direita.
Mas isso não foi suficiente, tanto pela pressão internacional quanto, segundo a imprensa, pela preocupação dos setores do agronegócio que temem que suas exportações sejam afetadas.
À noite, Bolsonaro convocou uma reunião ministerial de emergência e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, anunciou a criação de uma “força-tarefa” composta pela polícia e por representantes das áreas governamentais encarregadas das questões de mineração, agricultura e assuntos indígenas, entre outros.
Os incêndios também causam preocupação pela qualidade da água e do ar em vários locais.
O tenente Lucas de Souza Brito, que comanda a operação Abafa contra crimes ambientais em Mato Grosso (centro-oeste), observou “um aumento” de doenças respiratórias e apontou que é possível perceber mais poeira em decorrência dos incêndios.
“Houve um aumento dos incêndios (…) a dinâmica do fogo aqui a maior parte é queima, uma ação humana de transformação da terra para lavoura, mas também temos o registro de incêndios florestais”, declarou o tenente Brito, contatado por telefone na cidade de Nova Ubiratá.
“Sentimos falta de ar (…) o que pedimos é que pensem no futuro, isso afeta a todos nós”, disse à AFP Samir de Souza, morador de Porto Velho (capital do estado de Rondônia).
De UOL