Bolsonaro coloca em risco acordo UE-Mercosul
O primeiro-ministro da Irlanda ameaçou votar contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul se o Brasil não respeitar seus “compromissos ambientais”, em meio a críticas ao presidente Jair Bolsonaro pelos incêndios que assolam a Amazônia.
“De maneira alguma a Irlanda votará a favor do acordo de livre comércio UE-Mercosul se o Brasil não cumprir seus compromissos ambientais”, declarou o primeiro-ministro Leo Varadkar em um comunicado divulgado na quinta-feira à noite.
Varadkar se disse “muito preocupado porque neste ano houve níveis recordes de destruição por incêndios na floresta amazônica”, e considerou que “os esforços do presidente Bolsonaro para culpar ONGs ambientalistas pelos incêndios são orwellianos”.
Após 20 anos de negociações, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai assinaram recentemente com a UE um Acordo de Associação que inclui seções de diálogo político e comercial.
Os países do bloco europeu ainda devem dar seu aval ao texto para permitir sua entrada em vigor, que deve ter a aprovação da Eurocâmara, um procedimento que pode levar dois anos.
“Ao longo dos dois anos, vamos monitorar de perto as ações ambientais do Brasil”, advertiu Varadkar.
Os incêndios na Amazônia tiveram repercussão internacional na quinta-feira (22), com pedidos da ONU e de líderes mundiais para “proteger” o pulmão do planeta e convocatórias de protestos mundiais.
Afirmando que “nossa casa está queimando”, o presidente francês Emmanuel Macron propôs que a “crise internacional” da Amazônia seja uma prioridade na cúpula do G7 neste fim de semana em Biarritz (sudoeste da França).
A chanceler alemã Angela Merkel, por meio de seu porta-voz, também considerou que os incêndios na Amazônia constituem uma “situação urgente” que deve ser discutida durante a cúpula do G7.
Entre janeiro e 21 de agosto, o INPE registrou no Brasil 75.336 foco de incêndio, 84% a mais do que no mesmo período de 2018. Esse número aumentou 2.493 em relação a segunda-feira.
Segundo especialistas, a multiplicação dos incêndios ocorre no âmbito de um rápido avanço do desmatamento na região amazônica, que em julho quadruplicou em relação ao mesmo mês de 2018, segundo dados do INPE.
O acordo UE-Mercosul deve eliminar em 15 anos 91% das tarifas e taxas do Mercosul sobre produtos europeus e a UE fará o mesmo com 92% dos seus em dez anos.
Mas algumas nações europeias, incluindo França, Polônia e Irlanda, expressaram preocupação com o impacto desses acordos em seu setor agrícola. As ONGs também alertaram sobre as consequências para o meio ambiente.Barreira comercial
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse na quinta-feira (22) que o discurso de países europeus sobre o desmatamento na Amazônia é uma política para criar barreiras ao Brasil.
“Os europeus usam a questão do meio ambiente por duas razões: a primeira para confrontar os princípios capitalistas. Porque desde que caiu o muro de Berlim e desde que a União Soviética fracassou, uma das vertentes para qual a esquerda europeia migrou foi a questão do meio ambiente. E a outra coisa é para estabelecer barreiras ao crescimento e ao comércio de bens e serviços do Brasil.”
Em evento, o ministro afirmou que nos anos de 1980, 1990 e 2000, a febre aftosa foi utilizada como um instrumento de proteção mundial para evitar exportações de carne e de grãos brasileiros.
Na avaliação de Lorenzoni, como o controle acabou com essa questão, hoje há a busca por uma alternativa para impedir o avanço brasileiro.
Da FSP