Ricardo Borges/UOL

“Não era fake news. Era uma coisa intuitiva”, diz Paulo Marinho

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Tido como um dos principais apoiadores da candidatura do presidente Jair Bolsonaro, o empresário carioca Paulo Marinho cedeu a espaçosa casa localizada no Jardim Botânico, na zona Sul do Rio, para servir de QG de comunicação da campanha eleitoral. Recentemente, em programa da jornalista Andreia Sadi, na GloboNews, ele surpreendeu ao admitir que dali foram enviadas mensagens de fake news para grupos de WhatsApp.

Nessa entrevista ao UOL ele confirma o que falou e dá detalhes, mas diz que fazia isso como qualquer pessoa que repassa um meme ou uma piada para um conhecido, e não de forma massiva. “Era uma coisa absolutamente intuitiva”, explica.

Marinho explica que não tinha contato com os grupos de “bolsominions” (como ele se refere aos apoiadores de Bolsonaro nas redes sociais) e que, pelo que sabe, Carlos Bolsonaro é que se relaciona com eles.

Na entrevista, Marinho comenta o estilo polêmico que o presidente imprime às suas falas e avalia que no caso da crise da Amazônia essa improvisação aumenta o problema. “Com a capacidade que ele tem de comunicar errado, conseguiu transformar um fenômeno da natureza em uma celeuma internacional”, avalia.

Agora na presidência do PSDB fluminense, Marinho organiza o partido com vistas à próxima eleição municipal e aposta as fichas no governador João Doria em 2022.

UOL – Causou discussão a sua declaração em entrevista recente sobre envio de fake news aos eleitores. Pode explicar isso?
Marinho – 
É uma boa oportunidade para esclarecer as coisas. Aquelas fake news que circulavam entre a população não tinham origem no nosso grupo. Nós não produzíamos fake news. O que a gente fazia, como qualquer pessoa faz no seu celular quando recebe um meme, uma coisa engraçada, uma notícia que você não sabe se é verdadeira mas que você acha que pode ser, ainda que seja uma fake news, você normalmente tem lá um grupo de amigos mais íntimos e você passa aquilo. Nós não estávamos fazendo as fake news. Era uma coisa absolutamente intuitiva, o negócio chegava e a gente mandava para as pessoas.

Mas um dos pontos principais é justamente se vocês enviavam fake news para os eleitores.
Sim. Mas não tinha aqui um grupo de pessoas que eu pegava o cadastro numa telefônica, um milhão de pessoas. Não. Mandava para gente do meu círculo mais íntimo. Normalmente, quando você manda para cem pessoas, essas cem mandam para outras cem. É assim que funciona o mundo digital. As coisas vão se multiplicando numa grande velocidade.

Isso aqui não era uma fábrica de fake news contra o PT, nem contra outro candidato. O que existia era uma produção em massa, já que os bolsominions eram muito ativos nas redes sociais. Ativos e criativos. Isso acontecia contra o capitão também.

Houve várias fake news de outros candidatos contra ele, dizendo que a facada foi uma invenção para criar um clima de comoção, várias coisas.

Matéria do site The Intercept informa que um dos grupos de apoiadores mais radicais de Bolsonaro durante a campanha teria recebido dinheiro para atuar como influenciadores digitais e alguns dos integrantes dizem que o sr. foi quem pagou por isso.
Esse mundo digital é um negócio louco. De ambos os lados, direita e esquerda. Eles se agridem de uma forma tão permanente e raivosa… Às vezes eu acho graça dessas coisas. Não há nada de real nessa afirmação. Eu nem conheço grupos de bolsominions. Sigo Carlos Bolsonaro no Instagram, para acompanhar a orientação política do governo, e ele posta o tempo inteiro esses sites da direita, ele é muito ativo na internet. Ele deve gastar boa parte do dia dele operando essas coisas, tem um volume de informações muito grande. No meu Instagram eu sigo 15 pessoas e não sou seguido por ninguém. Não tenho tempo para ficar na internet.

Na campanha você notou contato do Carlos com grupos organizados da internet?
Obviamente ele devia ter. Como ele passa muito tempo do dia dele operando (na internet), tanto agora quanto no passado, provavelmente deve ter tido contato durante a campanha com vários grupos de direita, dos bolsominions. Mas ele participou muito pouco da campanha aqui. Aliás, ele a rigor não fez nada na campanha aqui, na minha casa, onde estava concentrado o grupo que produzia todo o material de campanha. Ele esteve aqui duas vezes durante a campanha.

O sr. na campanha eleitoral tratava da comunicação do candidato Jair Bolsonaro. Como acha que ele está se comunicando agora, em especial nessa crise das queimadas na Amazônia?
O que ouço dizer é que existem queimadas desde que o mundo é mundo e em um período de seca isso acontece, áreas da Amazônia são devastadas.

Mas o capitão consegue, com a capacidade que ele tem de comunicar errado, transformar um fenômeno da natureza em uma celeuma internacional. Estou convencido de que ele gosta disso. Vai ser assim até o final do governo.

Se alguém imagina que ele vai mudar o temperamento, não vai. O capitão acredita que está se comunicando corretamente com o povo. Como declarou que é candidato à reeleição, isso aí já é campanha eleitoral. Por isso levanta essas bandeiras.

Mesmo que a última pesquisa MDA/CNT tenha mostrado que um dos principais motivos da queda de popularidade do presidente sejam comentários inadequados?
Ele vai continuar assim, não está nem aí pra isso. Durante a campanha, quando a gente sugeria algum tipo de flexibilização do discurso político, ele dizia tranquilamente que ia se manter daquela maneira porque havia muitos candidatos a presidente. “Quem não quiser votar em mim, vota em outro”, dizia.

E a economia parece sofrer abalos a cada declaração bombástica.
Pelo menos, já se conquistou algumas coisas nessa questão das reformas, a Previdência está praticamente resolvida. Mas o país precisa de muito mais. A perspectiva é de recessão no mundo inteiro e a situação internacional também não ajuda o governo brasileiro. No plano doméstico, acho que a equipe do ministro Paulo Guedes vai ter um período ainda de confiança da população, mas daqui a pouco as pessoas vão cobrar resultados. Depois que completar um ano (de governo) ele já não vai poder ficar nessa conversa de “estamos propondo”, “vamos fazer”. Esse prazo é sintomático, sinaliza o que vai ser feito para o resto do mandato, o governo precisa entregar um pacote de medidas que de fato comece a mudar a situação do país. E nós já estamos praticamente em setembro.

Como se tornou suplente de Flávio Bolsonaro no Senado?
Na antevéspera da convenção do partido o Flávio me telefonou perguntando se aceitava assumir a primeira suplência da chapa que iria disputar a eleição para o Senado. Eu de pronto aceitei. Foi um convite que me fez sentir muito honrado.

Essa proximidade fez com que ele viesse pedir orientações ao sr. quando surgiu na imprensa a acusação de que o ex-PM Fabrício Queiroz atuava como laranja do então deputado?
Flávio me ligou para pedir orientação. Eu sugeri que ele buscasse assessoria jurídica de alguém que tivesse qualificação para entender o que estava acontecendo e aconselhá-lo. Com relação à divulgação do assunto na mídia, achava que ele deveria enfrentar essa discussão diretamente e não ficar na retranca. Estou convencido que ele não tem responsabilidade nesse caso e foi traído na confiança que depositou no Queiroz. Ele (Queiroz) esteve aqui em casa, durante a campanha, fazia um papel de dublê e segurança do Flavio. Parece que tinha confiança que não soube usar.

Parece que Flávio não seguiu sua orientação e ficou na retranca.
Preferiu ficar ausente da mídia.

Também o Queiroz desapareceu. Oito meses de sumiço é um recorde.
No momento o processo está suspenso, não tem porque ele estar aí na mídia. Também descobriu que tem um câncer grave, foi operado no (Hospital Albert) Einstein. Deve estar passando por um momento de muita aflição, ele e a família dele. O sujeito sofrer essas acusações, tendo colocado presidente nessa posição desconfortável e delicada, e o próprio Flávio também, e ainda sofrer uma doença grave… deve estar passando por um momento de muita aflição.

Por quais motivos o sr. saiu do PSL?
Me filiei ao PSL exclusivamente para poder disputar a eleição do Senado junto com o Flávio. E quando o governador Doria depois da eleição me chamou para reconstruir o partido, eu só poderia fazer isso filiado ao PSDB. Não houve qualquer problema. Foi uma decisão política minha. Minha decisão foi o reencontro com meu projeto original.

Comunicou a decisão ao presidente Bolsonaro?
Não devo essa satisfação a ele nem ao PSL. Não preciso pedir autorização nem concordância. Não comuniquei, até porque como eu nunca estive próximo dele depois da eleição não tinha sentido fazer isso. Não tenho essa relação hierárquica com o capitão nem com o PSL.

O PSL tem futuro?
Como instituição orgânica não será na próxima eleição o partido que é hoje. A grande maioria dos 52 deputados que estão na Câmara provavelmente não se reelegerá. O PSL de hoje é fruto desse momento da eleição de 2018 e não vai se repetir.

O sr. diz que Bolsonaro está em campanha, mas o governador João Doria também não está em campanha, já que várias vezes se contrapõe a ideias e declarações do presidente?
Não, ele tem muito o que fazer. Governar São Paulo não é fácil, é o maior estado do Brasil. Das 500 maiores empresas brasileiras, 450 estão em território paulista. Ele já governa hoje pelo menos 35% da economia brasileira, está acumulando experiência de gestão pública excepcional.

Quais os seus planos para o PSDB do Rio? Vai haver composição com o ex-prefeito Eduardo Paes para as próximas eleições municipais?
Temos uma candidata a prefeita que é a Mariana Ribas. O Eduardo Paes está filiado ao DEM e não acredito que tenha intenção de mudar de partido. Acho que vai disputar a eleição por lá. Espero que mais à frente a gente encontre uma forma de convergir a uma candidatura única, que possa representar esse pensamento de centro, dos que querem o bem do Rio de Janeiro. Precisamos de um projeto para salvar a cidade. Mais quatro anos de gestão no modelo que está sendo feito agora pelo Crivella vai ser um desastre quase que irreversível.

A sua chegada à presidência do PSDB fluminense tem sido contestada por alguns integrantes..
Tem uma reação pontual de um ou dois deputados estaduais que estão descontentes com a gestão da nova direção nacional do partido. Na minha opinião estão querendo sair. O partido tem um projeto claro e quem não estiver alinhado com ele eu acho que não vai ter espaço para continuar. Não estou querendo que ninguém saia, pelo contrário, apenas gostaria que todos prestigiassem o projeto.

Queremos que o PSDB faça a diferença nesse próximo pleito. O partido não conseguiu eleger nenhum deputado federal na última eleição, uma amostra de que não tem mais nenhuma conexão com a população.

É o último ponto de decadência do partido no Rio de Janeiro. O esforço que estamos desenvolvendo com essas pessoas novas sofre algumas críticas de quem não quer ver o partido melhorar.

Acha que Bolsonaro vai fazer a diferença nas eleições municipais?
A primeira coisa é saber se o presidente vai participar ativamente da campanha municipal. Eu não acredito nisso. Ele não teve nenhuma participação na eleição dos governadores. Como candidato a presidente ele não abraçou a candidatura de ninguém. Não acredito que ele vá entrar nessa disputa eleitoral da prefeitura tomando posições muito contundentes. Em algum lugar, talvez por identidade pessoal com algum candidato ele possa ter alguma manifestação mais animada. A não ser que ele realmente tenha lançado o Hélio Bolsonaro como candidato a prefeito. Se o Hélio for candidato provavelmente vai ter o carinho e a presença do capitão na campanha. É bom que ele venha, porque vai ficar claro quais são os campos políticos.

De UOL