Suécia pode cortar investimentos no Brasil por causa da Amazônia
O governo da Suécia vai investigar os investimentos de seus fundos de pensão públicos no Brasil e em toda a América do Sul por causa dos incêndios na Amazônia, informou o ministro sueco das Finanças, Per Bolund, ao jornal local Dagens Nyheter nesta terça-feira.
Os chamados fundos AP administram um patrimônio de cerca de R$ 650 bilhões e são responsáveis por administrar os recursos para aposentadoria de toda a população do país nórdico.
Já Erna Solberg, primeira-ministra da Noruega, integrante da Associação Europeia de Livre-Comércio ( Efta na sigla em inglês), que reúne os países não membros da União Europeia (UE), lamentou nesta terça-feira o “péssimo momento” do acordo comercial concluído esta semana com o Mercosul, o qual prevê compromissos com meio ambiente, trabalho decente e combate à corrupção.
Fundos têm regra de sustentabilidade
Desde janeiro, segundo a reportagem, os fundos de pensão públicos da Suécia adotaram novas regras de alocação que os obrigam a considerar a sustentabilidade em suas decisões de investimento. Agora, de acordo com o ministro, o governo quer saber se os investimentos na América do Sul estão enquadradas nesses critérios.
— Os incêndios que se propagam pela Amazônia estão levando questões sobre os investimentos naquela região. Agora que vamos avaliar as operações dos fundos AP, queremos ver se eles atendam os critérios na prática e se estão relacionados a investimentos que podem contribuir para a floresta — afirmou Per Bolund ao jornal. — Somos críticos ao fato de Bolsonaro e o governo brasileiro não assumirem suas responsabilidades de atender ao Acordo de Paris. Por isso é importante saber quais efeitos os investimentos suecos podem ter.
Per Bolund não soube estimar o volume de investimentos dos fundos AP que possam estar impactando negativamente a Amazônia.
O ministro também condicionou a ratificação do acordo de livre comércio com o Mercosul ao respeito, pelo Brasil, ao Acordo de Paris. Bolund citou o risco apontado por pesquisadores que o desmatamento da Amazônia se aproxima do chamado ponto de não retorno, após o qual a situação se deterioraria de maneira irreversível.
— A posição do governo é que acordos como o com o Mercosul só devem ser assinados com países que ratificam o Acordo de Paris. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, já disse que acha difícil que o acordo (com o Mercosul) seja ratificado se o Brasil permitir que a floresta tropical seja destruída. Eu acho que ele está certo. Esperamos que isso não aconteça caso o Brasil não haja com o vigor e a seriedade que a situação exige — disse Per Bolund.
Noruega chama empresas para esclarecimento
A Noruega, por sua vez, convocou representantes de três grandes empresas do país, nas quais o governo tem grande participação acionária e que atuam no Brasil, a prestarem esclarecimentos para a ministra de Clima e Meio Ambiente, Ola Elvestuen. O objetivo da reunião foi discutir os desdobramentos das queimadas na Amazônia.
Participaram do encontro executivos da petrolífera Equinor, da empresa de fertilizantes Yara e da produtora de alumínio Norsk Hydro.
– Elas precisam estar conscientes de sua cadeia de suprimentos e ter segurança de que não estão contribuindo para o desmatamento – afirmou Elvestuen após a reunião.
O fundo de pensão KLP, que é o maior do país, e ONGs também participaram do encontro. O KLP, que administra mais de US$ 80 bilhões em ativos, afirmou que está contactando empresas do setor agropecuário nas quais investiu e que tenham negócios com o Brasil para exigir “ações concretas”.
O fundo citou as produtoras de defensivos agrícolas Bunge, Cargill e ADM, das quais tem US$ 50,5 milhões em ações e títulos.
Por gerirem volumes enormes de recursos de longo prazo, os fundos de pensão costumam ditar tendências de investimento. Em maio, o Brasil já havia sido alvo de críticas por esse tipo de investidor por causa do acidente em Brumadinho (MG). Naquele mês, o KLP anunciou que excluiria as ações da Vale de sua carteira de investimentos por causa do rompimento, em janeiro, da barragem.
O KLP afirmou que o acidente “constitui um risco inaceitável” que contribui para “graves violações dos direitos humanos e sérios danos ambientais”. O fundo, que gere ao todo R$ 294 bilhões, vendeu o equivalente a R$ 43,9 milhões em papéis da companhia que detinha em seu portfólio.
“Também é um agravante o fato de a empresa ter se envolvido em dois graves eventos semelhantes em um intervalo de poucos anos”, acrescentou, em nota, Jeanett Bergan, chefe de investimentos responsáveis no KLP, referindo-se ao rompimento da barragem em Mariana (MG), que matou 19 pessoas em 2015.
De O Globo