Aeronáutica vai ouvir agora sargento do aerococa de Bolsonaro
Preso há mais de dois meses quando tentava desembarcar do avião reserva da comitiva presidencial em Sevilha, portando 39 quilos de cocaína, o sargento da Aeronáutica Manoel Silva Rodrigues deve ser ouvido nesta semana pela Força Aérea Brasileira. O coronel Lincoln Ramos Hungria, encarregado do Inquérito Policial Militar (IPM) aberto pela Aeronáutica para investigar o caso, chega à Espanha nesta semana para tomar o depoimento do sargento. O inquérito, que pede o indiciamento de Silva Rodrigues por tráfico de drogas, já foi encerrado e está nas mãos no Ministério Público Militar, desde o mês passado, mas ainda assim o sargento será ouvido.
Mesmo depois de inúmeros pedidos do Brasil, enquanto o IPM estava aberto, somente agora o governo espanhol autorizou que os militares brasileiros seguissem para Sevilha. As informações que chegaram à FAB, no entanto, dão conta que o sargento não vai querer se pronunciar e permanecerá calado durante a visita dos militares brasileiros.
O sargento está em prisão provisória em Sevilha, sem direito a fiança. Apesar de o IPM ter sido finalizado, pedindo que o sargento seja condenado por tráfico de drogas, o que lhe custará a expulsão da FAB e pelo menos 15 anos de prisão, dois outros processos estão em curso. Um no Brasil, comandado pela Polícia Federal, e outro na Espanha.
Na Espanha, a Justiça apura quem seria o receptor da droga. A droga não estava apenas na bagagem despachado do sargento, mas também em sua maleta de mão e em um porta-terno.
De acordo com as investigações realizadas pela Aeronáutica, o sargento teria agido sozinho. Sua mulher, no entanto, tinha conhecimento dos ilícitos praticados por ele.
As ações de busca e apreensão realizadas na casa do casal revelaram que ele possuía uma coleção de relógios, um celular avaliado em R$ 7 mil e eletrodomésticos caros que pareciam recém-adquiridos.
A Policia Federal, por sua vez, descobriu que a moto usada pelo militar, foi comprada em maio, por R$ 32 mil, e a compra foi paga em dinheiro vivo. O Estado apurou que as últimas investigações apontam ainda que o sargento guardava uma quantia em dinheiro, cerca de R$ 40 mil, encontrada por sua mulher, mas retirada do apartamento onde mora dias antes da chegada da Justiça Militar à casa. O salário mensal do sargento é de cerca de R$ 7,2 mil.
Pelo menos 40 militares foram ouvidos no IPM, para checar quais foram os passos do militar no dia do embarque e se outras pessoas poderiam tê-lo apoiado na operação.
Segundo apurou o Estado, na noite anterior ao embarque, o sargento Silva Rodrigues esteve na Base Aérea de Brasília, de onde partiria o avião da FAB para Sevilha, e deixou seu carro. No dia seguinte, data do seu embarque, o sargento chegou ao local do embarque com três horas de antecedência, antes dos demais passageiros e tripulantes, e colocou sua bagagem no porão, sem passá-la por detector de metais ou qualquer tipo de vigilância ou registro.
A checagem de bagagens e dos passageiros em aviões do Grupo de Transportes Especiais (GTE), órgão ao qual o sargento estava ligado, é aleatória e, neste dia, não foi realizada. A seus colegas, o sargento disse que viajava apenas com bagagem de mão. O IPM apontou também que o militar sabia onde ficavam as câmeras da base. No armário dele, foram encontradas plantas com informações sobre a distribuição dos equipamentos.
Ao ser preso em Sevilha com a droga, o sargento declarou à Justiça espanhola que não sabia que sua bagagem continha cocaína. Silva Rodrigues fez pelo menos 30 viagens nacionais e internacionais em aviões da Força Aérea nos últimos cinco anos. Em algumas delas, ele integrava a equipe de servia, ou diretamente ou em apoio, os últimos três ex-presidentes Michel Temer, Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva.
O sargento não estava no avião que atenderia ao presidente Jair Bolsonaro, mas no avião reserva. Usava, então, avião sob responsabilidade da Força Aérea e não da Presidência da República. Após este episódio, a Aeronáutica reformulou todos os procedimentos de vigilância nos embarques de bagagens e passageiros em suas aeronaves.
De Estadão