BNDES financiou jatinho para dono da Riachuelo
Em 22 de março de 2018, a revista Época começava a reportagem “Flávio Rocha, o candidato do MBL” citando uma viagem, na companhia do empresário e então pré-candidato à presidência da República pelo PRB, a bordo do jato executivo Legacy 650, da Embraer:
– O jato executivo Legacy 650 seguia em velocidade de cruzeiro na rota entre Rio de Janeiro e São Paulo. Era um dia ensolarado do começo de março, com céu de nuvens esparsas, quando o avião entrou em zona de turbulência. Em meio à instabilidade, o empresário pernambucano Flávio Gurgel Rocha — dono das lojas Riachuelo, ex-deputado federal, ex-candidato à Presidência em 1994 e o nome favorito do Movimento Brasil Livre para ocupar o Planalto — consultou as horas em seu Patek Philippe Nautilus. Eram 14h30, a turbulência durava segundos, mas parecia perdurar pela eternidade”, diz o texto assinado pelo repórter Luís Lima.
O jatinho Legacy 650 comprado pelo dono das lojas Riachuelo em março de 2013 é um das 143 aeronaves financiadas pelo BNDES durante os governos Lula e Dilma, a juros abaixo do mercado. O jatinho de Flávio Rocha foi o sexto mais caro.
A lista de empresários beneficiados foi divulgada no final de agosto por determinação de Jair Bolsonaro para atacar dois de seus principais concorrentes à sucessão dele em 2022, o governador de São Paulo João Doria (PSDB) e o empresário Luciano Huck, que também aparecem na relação.
No entanto, o tiro do presidente da República expôs um grupo de ricos empresários que, juntos, conseguiram empréstimos do BNDES no valor de R$ 1,9 bilhão, entre 2009 e 2014, a juros de 2,5% ao mês a 8,7% ao ano.
A verba saiu do Programa de Sustentação do Investimento, lançado em 2009 como política de reação à crise financeira internacional. De acordo com o BNDES, já na gestão Jair Bolsonaro, a operação subsidiou R$ 693 milhões do custo das aeronaves para bancar empréstimos para os empresários.
O Legacy 650 é o segundo maior jato executivo da Embraer. A aeronave tem 50 metros quadros. O primeiro espaço tem quatro assentos, totalmente reclináveis e com sistemas de entretenimento e tomadas USB. Em seguida vem a “sala de reuniões” com mais quatro assentos separados por uma mesa e, por último, uma sala que pode ser fechada, com mais duas poltronas e um sofá para três pessoas que se transforma em cama, além do toalete.
Defensor do Estado mínimo, Flávio Rocha encabeça um grupo de empresários denominado Movimento Brasil 200, criado após o golpe contra Dilma e que lançou ele próprio como pré-candidato à presidência da República em 2018.
O dono das lojas Riachuelo foi um dos principais incentivadores do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo, foi um dos empresários que mais se beneficiou do Estado mínimo durante os governos petistas de Lula e Dilma.
Levantamento realizado pela agência Saiba Mais mostra que, contabilizando isenções fiscais concedidas pelos governos federal e estaduais nos últimos 10 anos, sobretudo no Rio Grande do Norte e Ceará, além de 23 empréstimos aprovados junto ao BNDES entre 2007 e 2017, o Estado brasileiro injetou nas empresas do grupo Riachuelo o montante de R$ 3 bilhões no período.
Parte desse dinheiro, relativo ao crédito adquirido junto ao Banco, já foi devolvido com juros subsidiados. A realidade revela uma contradição entre o discurso do empresário em defesa de um Estado mínimo e opressor para o segmento empresarial.
As empresas do grupo Riachuelo receberam R$ 1,6 bilhão em incentivos fiscais dos governos federal e estaduais, onde a indústria Guararapes, braço têxtil da corporação, tem sede. A maior fatia desse montante é relativa a ICMS (R$ 1,02 bilhão) e o restante originário de Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), cuja soma chega a R$ 590 milhões. O Rio Grande do Norte é responsável por mais de 40% da política de isenção fiscal que beneficiou a Riachuelo na última década. As fontes das informações pesquisadas foram as próprias demonstrações financeiras da empresa divulgadas no site da Riachuelo, através do link Relações com Investidores. Já os valores dos empréstimos estão disponíveis para consulta pública do portal do BNDES.
Empresário defendeu a compra do jatinho nas redes sociais
Pelo twitter, o empresário Flávio Rocha defendeu a compra do avião pela Riachuelo junto a Embraer.
– Uma aeronave é uma ferramenta importante para quem emprega nos 27 estados brasileiros. Durant 30 anos operamos aviões americanos financiados pelo EXIM Bank. A taxa era 1% mais Libor (0,25%). Em 2013, compramos um avião da Embraer”, disse antes de prosseguir:
– A Embraer teria todo o direito de dizer que a taxa de financiamento do nosso avião seria a mesma do cheque especial. E nós teríamos tido o direito de dizer: obrigado, vamos comprar um Gulfstream com juros de 0,5% do EXIM Bank ou um Falcon com juros negativos”, afirmou.
Confira, abaixo, a lista dos 10 maiores beneficiários do BNDES para a compra de aeronaves.
1º CB Air Taxi Aéreo – R$ 77,78 milhões (2013)
2º Brasil Warrant Adm de Bens – R$ 75,46 milhões (2013)
3º Construtora Estrutural – R$ 64,01 milhões (2012)
4º Sumatera Participações – R$ 65,96 milhões (2013)
5º Industrial e Comercial Brasileira – R$ 59,11 milhões (2013)
6º Lojas Riachuelo – R$ 55,52 milhões (2013)
7º Neo Táxi Aéreo – R$ 44,97 milhões (2011)
8º Doria Administração de Bens Ltda – R$ 44,03 milhões (2010)
9º Eurofarma Laboratórios – R$ 43,99 milhões (2014)
10º JBS S/A – R$ 39,78 milhões (2009)
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