Bolsonaro dá vexame internacional gratuito
Jair Bolsonaro não perde uma oportunidade de enaltecer a tortura e os assassinatos políticos. O presidente levou o país a mais um episódio gratuito de vergonha internacional ao defender o regime militar do Chile, que deixou 3.000 mortos e desaparecidos, e ao ofender a ex-líder Michelle Bachelet.
Para rebater um relatório que apontava ataques a defensores dos direitos humanos e um aumento das mortes provocadas pela polícia brasileira, Bolsonaro apelou para a crueldade pura. Atacou Bachelet, que produziu o texto pela ONU, e celebrou a morte do pai da ex-presidente na ditadura de Augusto Pinochet.
“Se não fosse o pessoal do Pinochet derrotar a esquerda em 1973, entre eles o teu pai, hoje o Chile seria uma Cuba”, disse. Alberto Bachelet se opôs ao golpe militar. Foi preso, torturado e morto em 1974.
Nem a direita chilena tolerou a barbaridade. O presidente Sebastián Piñera disse não concordar com as declarações sobre Bachelet, “especialmente num tema tão doloroso”.
O brasileiro já havia sido criticado por Piñera uma vez. Em março, o chileno disse que frases de Bolsonaro em defesa de ditaduras eram “tremendamente infelizes”.
Bolsonaro não aprendeu que o Chile é rigoroso com a selvageria dos regimes autoritários. No ano passado, o Exército do país destituiu um coronel que liberou uma homenagem a um brigadeiro punido por crimes praticados no período de Pinochet.
Por aqui, o elogio a ditadores se tornou política de governo. Há dois dias, Bolsonaro disse que o regime militar pode ter sido “difícil em alguma coisa”, mas foi “nota dez” na economia e no “amor ao próximo”.
Bachelet também produziu levantamentos sobre a violação de direitos humanos na Venezuela. Nicolás Maduro reagiu com críticas pesadas —mas sem ofensas à família.
Depois de hostilizar Alemanha, França, Noruega e um possível presidente argentino, Bolsonaro mancha um pouco mais a imagem do Brasil. O país pode ficar isolado, pendurado no paletó de Donald Trump.
Da FSP