Bolsonaro organizou desfile milionário neste sábado
Não há motivos para grandes comemorações. A floresta amazônica pega fogo, a economia está estagnada, corta-se verba para o saneamento e há milhões de brasileiros, incluindo os desempregados, que não estão a fim de festa. Mesmo assim, o presidente Jair Bolsonaro só pensa nisso: em fazer a maior desfile do dia da Independência desde a ditadura.
Para criar um ambiente de enfrentamento, convoca seus apoiadores a vestir verde e amarelo para defender a Amazônia e, no embalo ufanista, anuncia uma semana de liquidações no comércio para acelerar o consumo, a Semana do Brasil. O projeto de marketing de Bolsonaro se ampara num patriotismo oportunista e apelativo que tenta esconder as mazelas atuais. Com uma só tacada, ele reforça um fator de conflito entre as pessoas em torno da cor da roupa, foge de suas responsabilidades sobre a disseminação da cultura do ódio que se espalha pelo País e oferece, em troca, circo para as massas.
Ao que tudo indica, Bolsonaro quer criar uma nação de robôs, de gente sem estudo, sem pesquisa e sem direitos básicos, mas acreditando bobamente que esse é um país que vai para frente. No seu mundo ideal, todos estariam alegres, assoviando o hino nacional pelas ruas.
Foi a primeira vez desde a posse que Bolsonaro convidou a população a vestir verde e amarelo para demonstrar o apoio às suas políticas destrambelhadas. E o argumento é defender a floresta.
Não de seus destruidores reais, pecuaristas e madeireiros, por exemplo, mas de uma difusa ameaça estrangeira que vem de países europeus ou até de vizinhos sul-americanos. Diante da reprovação internacional sobre a sua atuação – há a possibilidade de seu discurso na Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), dia 24 de setembro, ser boicotado – ele faz um esforço plebiscitário para verificar sua aceitação pública.
Bolsonaro quer checar, evidentemente, se a guerra cromática das ruas reflete as últimas pesquisas de opinião do Datafolha, que mostram sua popularidade despencando. Se concorresse hoje com Fernando Haddad, do PT, perderia a eleição. A convocação de apoiadores com as cores da bandeira remete ao episódio do então presidente Fernando Collor, que pediu à população para vestir verde e amarelo, em 1992, quando corria contra ele um pedido de impeachment no Congresso. Em vez de seguir sua orientação, as pessoas se vestiram de preto. Esse protesto, impulsionado pelo movimento dos caras-pintadas, foi decisivo para que Collor caísse.
Teste no momento errado
“A gente apela para quem estiver em Brasília, quem porventura estiver no Rio de Janeiro, em São Paulo, que compareça de verde e amarelo. Eu lembro lá atrás que um presidente disse isso e se deu mal. Mas não é o nosso caso. O nosso caso é o Brasil, não é para me defender ou defender quem quer que seja. É para mostrar ao mundo que aqui é o Brasil, que a Amazônia é nossa”, declarou Bolsonaro, lembrando o caso de Collor, durante cerimônia no Palácio do Planalto em que lançou a sua Semana do Brasil, na terça-feira 3.
No caso de Collor, se tratava de um movimento decisivo, capaz de derrubá-lo. Para Bolsonaro, por enquanto, é só uma bravata patriótica e uma demonstração de força – ou fraqueza, dependendo do que acontecer sábado. De qualquer modo, os resultados de seu convite terão repercussão política e podem comprometer ainda mais sua popularidade.
Se forem consideradas as reações imediatas nas mídias sociais, ele vai perder a batalha de cores. Na quarta-feira 4 a hashtag #Dia7EuVouDePreto era trending topic (assunto mais comentado) no Twitter.
Políticos de oposição e organizações de esquerda convocaram seus seguidores a usar preto. Além de se mostrarem revoltadas com a ausência de política ambiental do governo e por seu esforço para menosprezar o impacto dos incêndios na floresta, os usuários também lembraram dos cortes nas verbas para a educação e do desrespeito às minorias.
A União Nacional dos Estudantes (UNE), por exemplo, publicou “#Dia7EuVouDePreto contra a retaliação de Bolsonaro, que quer calar os estudantes que lutam pela Educação. Jair Bolsonaro deveria se preocupar com as universidades que estão fechando em detrimentos dos cortes de verbas. Dia 7 estaremos nas ruas, de roupa preta e cara pintada.”