Fabiano Rocha / Agência O Globo

Brazão pagou miliciano para atrapalhar Caso Marielle

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O inquérito da PF (Polícia Federal) sobre o Caso Marielle traz indícios de que o conselheiro afastado do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro) Domingos Brazão fez repasses suspeitos de dinheiro ao funcionário de seu gabinete, Gilberto Ribeiro da Costa.

Investigadores desconfiam que Costa, por sua vez, tenha feito pagamentos ao policial militar Rodrigo Jorge Ferreira, para que ele mentisse sobre a identidade dos mandantes das mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. A informação foi confirmada ao UOL por duas fontes ligadas ao caso.

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) que Brazão “teria utilizado de pessoa e da estrutura de seu gabinete para interferir no rumo das investigações iniciais do duplo homicídio.” A apuração do UOL permite confirmar que esta pessoa citada por Dodge é Costa.

A procuradora-geral também deseja apurar se o conselheiro é o “autor intelectual” do atentado. No final de agosto, o STJ determinou que a Justiça do Rio conceda a ela cópia do inquérito da PF.

Brazão e Costa negam qualquer participação no caso. No mês de fevereiro, ambos foram alvos de mandados de busca e apreensão em suas respectivas casas.

Troca de mensagens

O inquérito da PF também faz referência a troca de mensagens por aplicativo entre Brazão e Costa no período que antecedeu o atentado, e sobretudo, no período em que três delegados da PF apresentaram o ex-PM Ferreirinha como testemunha-chave do Caso Marielle.

Gilberto Ribeiro da Costa é agente da PF aposentado e amigo do delegado federal Hélio Khristian, um dos responsáveis por levar Ferreirinha para prestar depoimento à DH da Capital (Delegacia de Homicídios do Rio), órgão da Polícia Civil.

A troca de mensagens e ligações foi constatada a partir da quebra dos sigilos telefônicos de Brazão e dos demais investigados. Também foi constatada troca de mensagens entre Costa e milicianos do Escritório do Crime. A ligação entre a família Brazão e este grupo criminoso foi revelada com exclusividade pelo UOL.

Em seu falso testemunho, Ferreirinha acusou o miliciano Orlando Curicica e o vereador Marcello Siciliano (PHS-RJ) como mandantes da morte de Marielle. Ferreirinha é membro da milícia comandada por Curicica e acusou o chefe porque temia ser assassinado a mando dele.

Rivais no campo político, Siciliano e Brazão têm forte votação em áreas sob influência de milicianos em Jacarepaguá. Em especial na Gardênia Azul, onde os dois políticos tiveram desentendimento pela administração do campo de futebol da comunidade.

A falsa acusação inviabilizou o desejo de Siciliano de se candidatar na última eleição, abrindo caminho para que o irmão de Brazão, Chiquinho, fosse eleito deputado federal com pouco mais de 25 mil votos.

Assessor de Brazão trabalha no MP

Gilberto Ribeiro da Costa trabalhava no TCE-RJ como assessor de Brazão. Por mês, ele recebe pouco mais de R$ 13 mil de salário, já descontados os tributos.

Quando Brazão foi afastado por suspeita de recebimento de propina, em março de 2017, o assessor foi realocado para o Ministério Público do TCE-RJ.

UOL esteve na sede do órgão, no centro do Rio, para falar com Costa na última quinta-feira (5). Não o encontrou. Um funcionário afirmou que “quando ele costuma ir ao local, só aparece depois das 13h”.

A reportagem ligou para os telefones da mesa de Costa. No primeiro telefonema, uma pessoa desligou tão logo ouviu o nome do assessor e a identificação do repórter. No segundo, um funcionário do MP de Contas afirmou que “não tinha autorização para falar sobre qualquer pessoa que trabalhava no setor”.

Em entrevista recente à revista “piauí”, Costa afirmou que não tem qualquer envolvimento com as mortes de Marielle e Anderson. “Isso é um devaneio, uma história fantasiosa. Já prestei depoimento na DH, tudo foi esclarecido.”

O advogado Ubiratan Araújo, defensor de Domingos Brazão, não respondeu aos questionamentos enviados. Em ocasiões anteriores, ele afirmou que seu cliente nada tem a ver com o atentado. Em depoimentos às autoridades, Brazão negou participação no Caso Marielle. Ao jornal “O Globo” ele classificou as afirmações de Dodge como “absurdas”.

Em depoimento à PF, Ferreirinha afirmou que mentiu para incriminar Curicica, porque o miliciano queria matá-lo. Ele disse ainda que não conhece pessoalmente Brazão e que “deve ter apertado a mão dele” durante um comício político qualquer.

Até ser preso em maio, o policial militar morava em Jacarepaguá, um dos principais redutos eleitorais da família Brazão na zona oeste do Rio.

De UOL