No Roda Viva, Glenn deu aula de jornalismo e democracia
A entrevista do jornalista Glenn Greenwald ao programa “Roda Viva” foi muito útil para explicar princípios básicos do jornalismo à opinião pública. Também serviu para mostrar de forma didática a força das revelações da Vaza Jato, que expuseram o modus operandi ilegal de estrelas da Operação Lava Jato.
Greenwald deu uma lição básica de jornalismo: o repórter pode publicar qualquer informação obtida de fonte que agiu ilegalmente se houver interesse público em jogo. O jornalista não pode cometer crime para obter informação. Greenwald, que já havia dito isso inúmeras vezes, repetiu ontem no programa de TV.
Ele também agiu corretamente ao proteger as suas fontes, como a ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) e o hacker. O sigilo da fonte é um direito constitucional de todas as democracias avançadas. Não há reparos a fazer às condutas de Greenwald e Manuela.
Obviamente, o crime de hackeamento merece ser apurado, mas o mais importante é investigar o conteúdo das revelações feitas pelo arquivo do “The Intercept Brasil” e diversos outros veículos de imprensa e repórteres que verificaram a autenticidade do material.
Combater o crime cometendo crimes é uma grave forma de corrupção do sistema judicial. Isso é perigoso para a democracia porque esse sistema deveria garantir um devido processo legal a todos os cidadãos. Bandidos não têm o mesmo nível de compromisso com a lei que operadores do direito.
Juízes e procuradores, que aplicam a lei, não podem agir como justiceiros. Milícias começaram assim.
A Vaza Jato, como disse Greenwald, fortalece o combate à corrupção no Brasil. Refina procedimentos. Estabelece limites que um agente da lei não pode cruzar nunca. Formalidades importam no direito para garantir a segurança jurídica de todos os cidadãos.
O ex-juiz Sergio Moro, o procurador da República Deltan Dallagnol e outros integrantes da Lava Jato tentam justificar um comportamento abusivo e ilegal em nome de um bem maior: prender corruptos. Isso é, basicamente, dizer que os fins justificam os meios. É cinismo e corrupção, como afirmou Greenwald.
Apurar métodos corruptos de agentes públicos que deveriam seguir a lei é importante para o futuro do jornalismo e da democracia no Brasil. Em entrevista ontem ao “Jornal da CBN – 2ª Edição”, o ministro Gilmar Mendes defendeu a apuração do conteúdo da Vaza Jato.
Greenwald inclusive reconheceu erros, o que é honesto da parte de um jornalista. “Errou? Corrija” é um princípio basilar que todos nós jornalistas sabemos e devemos aplicar. O jornalismo não tem compromisso com o erro, especialmente dos poderosos.
Na balança da Lava Jato, há outro ponto fundamental: corruptores se deram muito bem na comparação com corruptos. Houve uma estratégia deliberada de criminalizar a política que contribuiu para eleger o presidente Jair Bolsonaro.