PSL pretende lançar Carteiro Reaça à Prefeitura de SP
Foto: Reprodução/Redes Sociais
Costumam dizer que ele é o “sexto filho” de Jair Bolsonaro, tamanha a proximidade com a família do presidente. Líder do PSL na Assembleia Legislativa de São Paulo, o deputado estadual Gil Diniz, conhecido como “Carteiro Reaça”, é considerado “os olhos e os ouvidos” da família no Estado. Pernambucano de Serra Talhada, Diniz, 33 anos, chegou a São Paulo aos 9 anos. Sua mãe continua diarista, os filhos do parlamentar estudam em escola pública e ele até hoje pega ônibus e metrô. Estreante, elegeu-se com surpreendentes 214 mil votos.
A vida de Diniz poderá dar nova guinada no ano que vem: ele é cotado para ser o candidato do PSL a prefeito de São Paulo. Na disputa, também são ventilados no PSL os nomes da deputada federal Joice Hasselmann e da deputada estadual Janaína Paschoal. “Eu estou no banco de reserva. Se o treinador disser: ‘Olha, o camisa 10 se lesionou ali, vai lá e faz o teu melhor’, aí eu entro em campo”, disse o líder em entrevista ao Estado.
Diniz estava com Bolsonaro, então presidenciável, no dia da facada, em Juiz de Fora (MG). Também foi um dos poucos, fora da família, a ter acesso à UTI. “Eu sou leal ao Bolsonaro. Esquece partido. Eu não sou uma pessoa de partido. Eu sou uma pessoa do grupo político do presidente Bolsonaro.”
Dizem que você é o “sexto filho” do presidente Jair Bolsonaro. Como começou essa aproximação com a família Bolsonaro?
Conheci o Eduardo em um semáforo em 2014, aqui em São Paulo. Saí de um shopping e ele estava entregando panfleto. Me perguntou: ‘Faz o quê da vida?’ Sou carteiro, moro na favela da Vila Flávia. Aí ele pegou o telefone e ligou para o Jair. ‘Ô pai, tô com um carteiro aqui’. E eu falei: ‘Capitão, tô em sentido, posso descansar?’ Começou ali. Falei para ele que era carteiro, mas que já fui soldado temporário da PM. Fui assessor parlamentar de Eduardo Bolsonaro em 2016 (até agosto de 2018). Mas a gente continua assessorando informalmente. Se eu tiver em um evento, eu faço foto, faço vídeo, que eu já fazia também. Tem muita gente que não consegue falar com ele. Aí a gente atende também, e conversa. É o mesmo time. Só que a gente aqui e ele lá em Brasília.
A família Bolsonaro é um grupo muito fechado…
É mais restrito, por ser militar. É uma família tradicional, nuclear, com o patriarca e sua prole. Então, não é qualquer pessoa que chega e eu acabei tendo essa abertura. Falo toda semana com o Eduardo. Ele me chama de CR, de Carteiro Reaça. Se for ver (pela ordem de proximidade) é assim: o Eduardo, o Carlos e o Flávio. Converso com o presidente também, bato papo. Ele fala todo dia no WhatsApp, manda vídeo, manda áudio, manda meme. Tira onda.
Como está a formação do diretório municipal de São Paulo?
Houve uma indicação, uma sugestão de nominata do (deputado) Luiz Philippe (de Orleans e Bragança), junto com a Executiva, que sugeriu o Edson Salomão para presidir (o diretório), do Movimento Conservador. Ele é chefe de gabinete do deputado Douglas Garcia. É um menino muito bom, bem empreendedor. É um bom nome. Mas tem vários grupos de interesse (no partido). Agora eu vou conversar com a bancada (do PSL na Assembleia) para ver se tem algum deputado interessado em participar. Ainda não tem (o diretório) porque, se não me engano, o CNPJ estava com algum problema.
Eduardo Bolsonaro, que assumiu o comando do PSL em São Paulo e chamou você para vice, está acompanhando isso de perto? Vocês têm a missão de organizar o partido aqui para as eleições municipais. Como está essa preparação?
Vamos ouvir os deputados, mas a decisão, quem bate o martelo mesmo, é a Executiva, inclusive a gente vai esperar o Eduardo para conversar. Ajudar o Eduardo. 2020 está aí, está na porta. Se estamos na direção do partido, se não tiver o poder de bater o martelo, não tem por que estar. Ele (Eduardo) estava um pouco ausente porque teve a ONU e tem a sabatina no Senado para embaixador, então é tudo ao mesmo tempo. Um trem a 200 por hora. E São Paulo é surreal, é enorme, em tamanho e população. Nas maiores cidades e na região metropolitana, queremos ter candidatos. Se possível, em todas. Agora, é difícil organizar. E nós não somos pessoas da política, que sabem fazer as coligações, que já pensam em tempo de TV. Nós somos pessoas comuns que abraçamos a causa. Então, talvez a gente tenha dificuldade de montar isso. São Paulo é fundamental, até para um futuro próximo.
Luciano Bivar, presidente nacional do PSL, está fora do País e, recentemente, houve relatos de desavenças na direção. Existe alguma movimentação para trocar o presidente do partido?
Não. Muito difícil. Desconheço. Aqui na bancada, não ouvi. E do contato que eu tenho com o Eduardo, também nunca ouvi. Pode ser que tenha deputado descontente, que gostaria de mais espaço.
É público o atrito que o PSL e você, aqui em São Paulo, vêm tendo com a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP). Como está essa relação?
Joice se colocou como candidata, sem dar espaço para ninguém. Não foi surpresa. Ano passado ela fez o mesmo com o (senador) Major Olimpio. Tinha um grupo formado e ela se colocou como candidata ao governo de São Paulo. Eu estava no dia, foi em Araçatuba. Uma pessoa desafiou ela a disputar e ela disse: ‘Eu aceito’. Só que tem uma Executiva para conversar. E ali nós demos razão ao Major. E aí ela veio falar: ‘Ah! Os coronéis, o coronelismo…’ Uma empresa tem hierarquia, a família tem hierarquia. Agora, para a eleição municipal, ela fez o replay. Se ela tivesse sido a candidata ao governo, se tivesse o diálogo, poderia ter ganho.
Você é um nome apontado como possível candidato do PSL a prefeito de SP, e conta a seu favor a proximidade com a família, a relação de confiança…
Costumo brincar. Outro dia peguei o Mamãe Falei (deputado Arthur do Val, do DEM-SP) e disse: ‘Arthur, vamos começar o debate na tribuna sobre a cidade de São Paulo. Vou perguntar para você o que é Bilhete Único. Você não sabe. Você quer ser prefeito de São Paulo sem saber o que é Bilhete ÚNico. É um cartãozinho que você pode colocar créditos. Vou desafiar você a ir de Parelheiros ao Terminal Parque Dom Pedro, no centro de SP. Se você conseguir chegar com o Bilhete Único, você está apto a ser candidato a prefeito. Eu conheço a cidade, cresci na zona leste. Conheço todas as regiões. Fui carteiro na periferia. E entregava panfleto quando era menino. Vão tirar chacota, vão dizer como (dizem sobre) o Eduardo: ‘Ah, o cara fritava hambúrguer nos Estados Unidos e agora quer ser embaixador. E o menino que entregava panfleto quer ser prefeito’. Mas a gente conhece. Eu sei dos serviços públicos porque eu dependo. Ninguém da minha família tem plano de saúde. Meus filhos estudam em escola pública. Eu pego metrô, ônibus. Às vezes, faço um story (no Instagram) dentro do ônibus.
Arthur do Val, integrante do Movimento Brasil Livre, quer ser candidato a prefeito e busca um partido. O PSL foi sondado? O MBL e o PSL ainda têm uma pauta comum?
O DEM não vai dar legenda para ele. É da base dos governos aqui em SP. Ele vai ter que migrar para outro partido. Ele pode até se filiar ao PSL, se quiser, mas já tem candidatos disputando esse espaço (candidatura a prefeito). O MBL, movimento dele, tem muitos conflitos. Não só com a família Bolsonaro, mas com nosso próprio público interno. Algumas bandeiras são muito semelhantes, outras, não. (O deputado do DEM-SP e integrante do MBL) Kim Kataguiri defende a liberação da maconha, nós, não. O próprio Mamãe Falei também. Acho que ele (Arthur do Val) consegue uma legenda menor.
Vai cumprir o seu mandato?
Eu acho que eu termino. Eu não vou dormir dizendo que nasci para ser prefeito de São Paulo. Saí de Serra Talhada, em 1995, desci na rodoviária do Tietê, de madrugada, com 9 anos. Em setembro de 2015 eu estava entregando carta a essa hora. Hoje eu estou líder e a bancada está me esperando para fazer uma reunião. Amanhã eu vou estar com o ministro… O presidente pousa aqui e nos aciona.
Você é uma pessoa de partido, de cumprir missão?
Não. Eu sou leal ao Bolsonaro. Esquece partido. Eu não sou uma pessoa de partido. Eu sou uma pessoa do grupo político do presidente Bolsonaro. Se ele me ligar agora e falar: ‘Olha, renuncia ao seu mandato, vem aqui para Brasília tirar xerox no Planalto’. Amanhã publica a minha exoneração.
Sente-se sendo preparado para disputar a Prefeitura?
Eu me sinto fazendo meu trabalho da melhor maneira possível, aprendendo diariamente, inclusive vendo o presidente e a família tomando pancada. Eu estou no banco de reserva. Se o treinador disser: ‘Olha, o camisa 10 se lesionou ali, vai lá e faz o teu melhor’, aí eu entro em campo. Carteiro da periferia de SP, líder da maior bancada na maior Casa da América Latina, então eu estou confortável demais.
Você é um dos mais críticos ao governador João Doria (PSDB).
Sim. Sou. Mas não é de agora. Se você pegar minhas redes sociais… Desde que ele foi candidato a prefeito de SP em 2016. Eu falo na tribuna e dizem: ‘Gil está batendo no governador porque ele é um possível candidato a presidente (da República), porque vai disputar com o candidato que ele admira’. Eu li o plano de governo do Doria. O cara está se vendendo como um não político, política nova, mas lá (no plano) tem tudo o que a gente está combatendo do cara que se diz novidade. Em 2016 eu pedi voto para o Major Olimpio, que era candidato pelo Solidariedade. Eu não votei no Doria. Hoje, a realidade é outra. Estamos num partido independente do governo, por mais que, na maioria das votações, a gente vote favorável a projetos do governo Doria, sem exigir cargo, gratificação.
Teve alguma orientação para a bancada na Assembleia atuar de forma diferente após o distanciamento entre Doria e Bolsonaro?
Não. Quem quiser defender o governador, defende. Eu acho que vai ficar estranho, mas… A mudança de comportamento foi do Doria para ganhar a eleição. Se você pegar as entrevistas dele, antes do segundo turno, era só arrebentando o presidente (Bolsonaro). Ele só grudou na imagem do Bolsonaro, passou vergonha lá no Rio de Janeiro tentando um vídeo com Bolsonaro, quando ele viu que ia perder a eleição para o Márcio França e a tábua de salvação dele foi justamente o Bolsodoria. Agora ele está fazendo o que ele sempre fez. Fez com todo mundo. Com Andrea Matarazzo dentro do PSDB, deixou de escanteio. O Alckmin, padrinho político dele. É traição, trairagem. Você tem que ser leal. Agora, ele está fazendo o que sempre fez: propaganda.
Quem teve, primeiro, a iniciativa de antecipar a campanha eleitoral para presidente?
Bolsonaro é um candidato natural à reeleição, não tem jeito.
Você se considera o “sexto filho” do presidente?
Não. Me considero muito próximo da família. Tenho um agradecimento enorme à família. Até meu pai outro dia brincou. A foto do WhatsApp dele era eu e o Bolsonaro. Eles não se conhecem. Meu pai nunca veio aqui na Assembleia. Aí eu tirei uma foto com meu pai. E disse: ‘Pai, agora já pode trocar a sua foto do WhatsApp’. Aí ele disse: ‘Agora vou botar a foto do seu pai de verdade, do seu pai biológico’.
Já discordou dos Bolsonaro?
Já. Sou São Paulo, ele é Palmeiras, mas vou com ele para o estádio. Mas, por exemplo, projeto dele (Bolsonaro) que fala sobre vasectomia. Que falaram que ele queria controle de natalidade, que não nasça pobre. Me formei no movimento da Igreja Católica, então assim, a gente tem restrições sobre métodos contraceptivos. É uma bandeira que ele defendeu (na campanha de 2018). Eu não faria esse projeto. Tentaria ir para outro lado, fortalecendo a família.
Como a família Bolsonaro está vendo a movimentação em torno do apresentador Luciano Huck para 2022?
É tanta coisa para falar, que esse assunto ficou para depois. O Huck está fazendo firula. Vai lá, critica… Pô, cara, sai do seu conforto. Duvido muito. Essa galera só quer jogar no time que está ganhando. O cara não quer correr risco. Quer ser um engenheiro de obra pronta.