Bolsonaro ataca imprensa para desviar atenção de escândalos

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Foto: Pedro Ladeira

Três episódios recentes marcam o abandono do estilo conciliador que Bolsonaro tentava adotar desde o fim de setembro.

O primeiro deles foi a operação da Polícia Federal contra o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), por suspeita de desvios em obras públicas. A ação foi no dia 19 de setembro.

Na semana seguinte, Bolsonaro disse que não falaria mais com a imprensa logo após seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova York.

Ele subiu o tom ainda mais nesta semana, quando a Folha revelou, no último domingo (6), que um depoimento e uma planilha obtidos pela PF sugerem que recursos do esquema de candidaturas laranjas do PSL em Minas Gerais foram desviados para abastecer, por meio de caixa dois, até a campanha de Bolsonaro.

Segundo o presidente, a Folha foi “às profundezas do esgoto”.

Para evitar aumento da rejeição, ele adotou uma estratégia que tem se tornado praxe na atual gestão. Em momentos de críticas, o Palácio do Planalto eleva o tom na tentativa de enfraquecer o impacto de notícias negativas.

O governo, nessa reação, busca também dar munição para que sua base eleitoral continue a defender a administração de Bolsonaro.

O foco das críticas agora são os veículos de comunicação. Nesta terça-feira (8), na entrada do Palácio da Alvorada, Bolsonaro chamou a imprensa de “fétida”.

O presidente encerrou a entrevista quando foi questionado sobre um apontamento feito pelo Ministério Público no Pará de que houve tortura na intervenção de presídios. “Parem de perguntar besteira.” O caso foi revelado pelo jornal O Globo.

Antes de parar de responder, Bolsonaro pediu a um pastor que o aguardava na frente do palácio uma oração para a imprensa. “Fala para a imprensa de [livro da Bíblia] João 8:32 aí”, disse ao pastor, que orou.

O trecho bíblico diz: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.

Na segunda-feira (7), Bolsonaro adotou linha semelhante. Ele afirmou que a cobertura jornalística não pode continuar com “covardia” e “patifaria”.

“Eu lamento a imprensa brasileira agir dessa maneira. O tempo todo mentindo, distorcendo, difamando. Vocês querem me derrubar? Eu tenho couro duro, vai ser difícil. Continuem mentindo”, disse.

Além da Folha, o presidente fez críticas públicas a outros dois veículos —O Globo e Correio Braziliense—, acusando-os de mentir em reportagens sobre medidas administrativas estudadas pelo governo.

Desde que mudou de postura, Bolsonaro tem evitado responder às perguntas de jornalistas que o esperam na frente do Alvorada, onde ele promovia desde junho entrevistas diárias.

Passou também a reclamar que não são feitas reportagens ou perguntas positivas sobre seu mandato.

“Não tem coisas boas para perguntar para mim? Ralo o dia todo e não tem uma coisa para perguntar?”, questionou na última sexta-feira (4).

Antes do episódio, em uma estratégia para suavizar sua imagem, Bolsonaro evitava demonstrar irritação com perguntas incômodas e chegou a fazer até mesmo afagos a jornalistas.

No início de setembro, após café da manhã com a Folha, disse que não teria problema em se reunir com veículos de imprensa.

Agora, por uma recomendação de sua equipe de comunicação, o presidente tem priorizado conversas com os eleitores presentes no Alvorada, destacando pautas positivas e evitando assuntos incômodos, como o fato de não ter se pronunciado sobre a morte da menina Ágatha Félix, no Rio de Janeiro.

Para desviar de pautas negativas, Bolsonaro também suspendeu os cafés que promovia com veículos de comunicação. No último deles, em julho, ele se referiu a nordestinos como “paraíbas” e disse que não havia fome no Brasil.

A última pesquisa Datafolha, divulgada em setembro, mostrou que a reprovação ao governo aumentou nos últimos meses até mesmo em grupos que antes eram simpáticos à sua gestão, como eleitores mais ricos e moradores da região Sul do país.

A mesma estratégia de radicalização já havia sido adotada em julho, quando o presidente intensificou a agressividade de declarações após ser criticado pela indicação de um de seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para o posto de embaixador nos Estados Unidos.

Na época, ele criticou os jornalistas Míriam Leitão e Glenn Greenwald e atacou o então diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Ricardo Galvão.

Da FSP