Joice mente sobre Lula para atacar Bolsonaro
Recém-destituída do posto de líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) se tornou alvo preferencial do clã Bolsonaro nas redes sociais.
Em entrevista à Folha, a antiga aliada de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro afirmou ser alvo de ataques que representam “um jogo tão sujo que nem o Lula fez”.
Joice atribui a ação ao chamado “gabinete da raiva” do Palácio do Planalto, onde estaria a coordenação do bombardeio contra desafetos do governo.
Para ela, no entanto, Bolsonaro “não corrobora com o que está acontecendo”, mas ela diz que “o presidente não entendeu ainda o tamanho da Presidência da República” e que “continua agindo como aquele deputado do baixíssimo clero, do bloco do eu sozinho”.
A avaliação é de que a semana de crise no PSL termina com o grupo ligado ao presidente Jair Bolsonaro vitorioso. Qual é a avaliação da sra. e quais são os próximos passos? Essa história de grupo ligado a Bolsonaro e grupo ligado a Bivar é uma narrativa canalha. É uma tentativa de mostrar para a opinião pública que há uma divisão por conta de Bolsonaro e de Bivar. Não é nada disso.
O que nós queremos é um partido forte e respeitado. O maior partido do país de direita, a bancada não pode ser tratada como se fosse uma bancadinha de moleques.
E é uma vitória de Pirro, né? Porque o Eduardo chegou à liderança depois de mais de uma semana, dez dias de uma briga intensa, em que os ministros se envolveram, em que o pai pessoalmente teve que fazer lobby.
O presidente da República virou lobista do filho deputado para conseguir elegê-lo líder. Acho que é a maior humilhação que um presidente da República já foi submetido. É uma coisa surreal.
Não vejo onde possa ter vitória num grupo que consegue a liderança no tapetão, com os deputados menos respeitados politicamente e com ameaças e achaques, tirando cargos de um e oferecendo para outros. Cadê o [posicionamento] contra toma lá dá cá? Eles estão fazendo toma lá dá cá dentro do partido.
Ademais, essa vitória de Pirro está com os dias contados porque, por óbvio, não tem como esse grupo permanecer se achando vencedor porque a maioria vai ser suspensa, alguns expulsos, para que o partido retome a sanidade.
Há uma insanidade dentro desse grupo e, lamentavelmente, essa insanidade está sendo estimulada por quem menos deveria estimular.
O deputado Eduardo Bolsonaro afirmou que não dá mais para fazer política com o fígado… Mas ele tem o fígado dentro da cabeça, ele não tem cérebro. O Eduardo Bolsonaro é desprovido de massa cinzenta. O que há na cabeça dele é um fígado enorme e ele só age com o fígado, tanto que estou fazendo uma representação contra ele na Câmara e vou levar até as últimas consequências os ataques que ele fez.
Esses moleques têm de entender que a gente está numa democracia. Se eles querem o autoritarismo, eles que mudem de país. Autoritarismo no Brasil, não.
Há uma avaliação no Congresso de que, na semana em que é aprovada a reforma da Previdência, o presidente está muito mais envolvido na crise do PSL do que na agenda positiva de seu governo. O presidente não entendeu ainda o que é ser presidente. Infelizmente. Ele não entendeu ainda o tamanho da Presidência da República.
Infelizmente, o presidente continua agindo como aquele deputado do baixíssimo clero, do bloco do eu sozinho, que nunca soube fazer uma articulação, que nunca foi líder de nada, que nunca presidiu uma comissão, que nunca precisou conversar, estabelecer um diálogo para aprovar projetos importantes.
Eu lamento muito por isso porque eu realmente gostaria que o presidente fosse um estadista. Creio que vai chegar o momento em que ele pode até se tornar um estadista, se entender que ele é o presidente. Que não é um clã presidencial, que não é uma família presidencial.
O que existe é um presidente eleito. Se qualquer um dos três meninos quiserem ocupar a cadeira do presidente da República, que disputem as eleições e ganhem.
Quando o presidente entender isso, aí a gente tem a chance de olhar e ter orgulho daquele que representa o povo brasileiro na cadeira do Palácio do Planalto.
A sra. foi chamada para falar à CPI das fake news. Fui convidada e vou com prazer.
A sra. tem dito que tem muitas informações. Até que ponto essa boa relação que sra. diz manter com o presidente vai interferir no que tem a dizer? Tem algo que a sra. vá dizer que possa prejudicá-lo? Vamos partir do primeiro pressuposto: quando você está numa comissão parlamentar de inquérito, você não pode mentir. Eu tenho um juramento e um compromisso com a verdade. Eu vou estar numa CPI e vou dizer aquilo que eu sei.
As pessoas me perguntam se eu sabia que havia fake news na campanha. Eu achava que era um pouco de lenda urbana e continuo esperando que seja porque havia ataques ali de todo o jeito. Eu não sabia exatamente de onde vinha.
Comecei a prestar mais atenção nos ataques e a descobrir que eles eram internos à época da demissão do [Gustavo] Bebianno. Eles se intensificaram, atingiram o [general Hamilton] Mourão, a ponto de insinuarem que o Mourão colocaria a vida do presidente em risco. Isso é uma coisa de louca.
Todo mundo sabia que parte desses ataques era fogo amigo. Depois aconteceu com o Santos Cruz, amigo [do presidente] de 46 anos. Aí juntei lé com cré, né? A próxima sou eu.
É claro que não sou detentora de todas as informações, mas juntando lé com cré, nós conseguimos ter o desenrolar desse novelo de lã. O que eu quero? Que o presidente governe, que o gabinete da maldade seja desfeito, que nós enfrentemos as pessoas e as ideias que não concordamos com a cara lavada.
Mas esse também foi um método muito usado na campanha. Eu não fiz. Na campanha, por mais que as pessoas achem que todos nós sabíamos de tudo, isso não acontecia.
Eu viajei algumas vezes com o Bolsonaro, fazia todo dia lives para ele, mas nunca tive acesso a material da campanha porque, obviamente, havia um núcleo de inteligência ali e eu não fazia parte desse núcleo.
A sra. falou sobre perfis fakes que estariam sob o comando dos filhos. A sra. só soube disso agora? Por que compactou com isso? Eu não compactuei com nada. É óbvio que, quando estou sendo atacada, tenho de procurar quem está me atacando. Só numa esquizofrenia [alguém poderia querer] que eu investigasse quem estava atacando pessoas de outros partidos. Eu estava fazendo campanha. E sempre achei que era um jogo de esquerda e direita.
Eu realmente comecei a ficar bem mais atenta quando os ataques começaram a atingir gente do governo.
E o trabalho só começou, viu? Porque eu só entrei de cabeça para descobrir quem é quem agora.
O que fizeram comigo é surreal. A esquerda não fez isso e olha que eu sempre lutei contra a esquerda. Eu tive brigas homéricas com o Lula, processei o Lula, ele me processou, a gente foi para a Justiça.
O que eles estão fazendo é um jogo tão sujo que nem o Lula fez. Quando digo eles, não estou dizendo que é o filho, sicrano, beltrano. Estou falando que é esse grupo do ódio, que eu não sei quantas pessoas são.
A sra. faz uma autoavaliação de atuação e uso da internet? Acho a internet excepcionalmente importante. É o jeito mais fácil e mais barato de você se comunicar com o cidadão, com o eleitor, de prestar contas. Eu faço muito isso.
Até a Folha de S.Paulo fez uma matéria sem vergonha e eu vou processar a Folha dizendo que tenho assessor para cuidar de grupo de WhatsApp. Postei a entrevista na íntegra. O jornalista foi canalha. Avisei que estava errado.
Todo deputado que tem rede tem assessoria de comunicação. O que ele fez foi dar um nó na minha entrevista para dizer que eu uso a cota [parlamentar] para atacar pessoas [a reportagem mostra que uma empresa recebe R$ 2.500 mensais de verba parlamentar para, entre outros serviços, administrar um grupo de WhatsApp em que Joice rebate acusações de traição e critica adversários].
Todas brigas que eu assumo, sou eu que faço. Tanto que, quando a minha equipe posta alguma coisa, está lá “equipe JH”.
Ex-líder do governo no Congresso. Foi eleita deputada federal em 2018, com mais de 1 milhão –a segunda maior votação para o posto no país, depois de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, com quem trava uma disputa. É jornalista