Para o FMI, igualdade de gênero gera prosperidade
“No FMI, somos 25% de mulheres nas posições mais altas. Acham que é como deveria ser?”. Diante da uníssona negativa da plateia, Kristalina Georgieva completou: “Estou perguntando aos homens.”
Segunda mulher a ocupar o cargo de diretora-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), a búlgara foi assertiva e provocadora na sua estreia pública durante a reunião anual do Fundo, nesta terça-feira (15) em Washington.
Frente a um auditório lotado, disse que não era por acaso seu primeiro debate ser sobre igualdade de gênero.
Na avaliação de Georgieva, dar o mesmo tratamento e valorização para o trabalho de homens e mulheres é fundamental para o desenvolvimento econômico dos países, mas ressaltou que é preciso ir além da vontade política para conseguir resultados concretos em uma discussão de primeira ordem nos tempos atuais.
“Não há forma de qualquer sociedade prosperar sem contar com o talento de todo seu povo, homens e mulheres. É muito simples: se você ignorar parte das suas capacidades vai com certeza ficar aquém em termos de conquistas econômicas. O FMI tem mostrado muitas evidências nesse sentido.”
Em sua fala de cerca de uma hora, durante o painel “Mulheres, trabalho e liderança”, Georgieva afirmou que sua antecessora, Christine Lagarde, “quebrou o teto de vidro” e facilitou a chegada de mais uma mulher à chefia do FMI.
No entanto, disse que trabalhou “mais duro do que qualquer homem só para ser igual”. “Por trabalhar mais e por trabalhar mais duro fui mais longe do que eles e estou aqui, estou comandando o FMI.”
Seu objetivo, diz a diretora-geral, é fazer do Fundo um exemplo sobre igualdade de gênero. “Não é só uma coisa boa a se fazer, é, na verdade, fantástico para obter mais resultados.”
Ela celebrou ainda pesquisas desenvolvidas pela equipe do FMI sobre o tratamento dado a homens e mulheres no mercado de trabalho, capaz de refletir os resultados que apresentou durante o painel: “Na média, mulheres fazem 2,7 horas a mais do que homens de trabalho não pago por dia. Essa média aumenta quanto mais conservadora é uma nação e pode chegar a 1000% no Paquistão.”
De acordo com Georgieva, essa é uma fórmula não só injusta, mas ineficiente.
Uma das soluções práticas propostas pela búlgara para acelerar o processo de igualdade de gênero nas sociedades são as cotas para mulheres nas empresas. “Não é a solução perfeita, mas é pragmática.”
“Precisamos de forte comprometimento, porque não é fácil mudar a sociedade. Não cai do céu, temos que trabalhar duro. A conversa aqui não será suficiente –apesar de ser um ótimo painel– precisamos dar outros passos.”
Georgieva arrancou aplausos da plateia em diversos momentos ao contar casos de sua trajetória profissional. A economista passou pelo Banco Mundial, onde foi diretora-executiva, e disse que não reivindicava aumento salarial, apesar de desempenhar seu trabalho “muito bem.”
“Só me deram um aumento quando cheguei a uma posição sênior”. Pediu então que as mulheres não aceitem nunca receber menos do que um colega que exerça a mesma função e disse que é preciso que elas sejam mais auto-confiantes e não se coloquem de forma diminuída durante uma entrevista de emprego, por exemplo.
“Eu tive um caso em que estava entrevistando um homem e uma mulher para o mesmo trabalho, basicamente as mesmas características, os dois atendiam à metade dos critérios para o trabalho e não atendiam à outra metade. A mulher disse: ‘eu não sei se sou para esse trabalho, atendo apenas à metade dos critérios’. O homem disse: ‘eu atendo à metade dos critérios e estou te oferecendo minha incrível personalidade’.”
“Tenho filha e neta e quero que elas trabalhem tanto quando os homens e sejam iguais apenas porque elas são”, completou.
Quando chegou a vez de dar conselho aos homens, arrancou risos dos presentes ao dizer que eles deveriam ser “nossas almas gêmeas”, entender que “somos mais fortes juntos” mas, por fim, “continuar sendo homens”.
“Se há uma mala pesada aqui, você pode dizer: quer ajuda?”.
De FSP