Toffoli julgará no mesmo dia dois casos ligados a Lula
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli , deve levar para o plenário no mesmo dia dois dos julgamentos mais aguardados do ano. Um deles é o que trata da possibilidade de prisão de réus condenados em segunda instância. O outro é a aprovação da tese que pode minimizar os efeitos da decisão sobre anulações de sentenças da Lava-Jato . Os dois casos impactam diretamente na situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com possibilidade de libertação.
No caso da segunda instância, o plenário deve rever a regra atual, que permite o cumprimento antecipado da pena para réus nessa situação. A tendência é o plenário permitir que o condenado fique mais em liberdade por mais tempo, enquanto recorre da sentença. Se isso acontecer, Lula poderá ser libertado.
O placar deve ser apertado. Ainda não há no cenário como prever se a decisão será pelo início do cumprimento da pena a partir de confirmada a condenação pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), ou se os réus terão o direito de recorrer em liberdade até o STF analisar o último recurso à disposição da defesa. Nas duas possibilidades, Lula poderá ser libertado. Isso porque o STJ ainda não julgou o último recurso do petista contra a condenação no processo do triplex, pela qual o réu foi preso em abril do ano passado.
Toffoli estuda uma data mais adequada para julgar os processos sobre segunda instância desde setembro do ano passado, quando assumiu a presidência do STF. Agora, diante da pressão de colegas, avalia que o momento seja favorável para levar o tema ao plenário.
Sobre as anulações da Lava-Jato, o STF decidiu que primeiro devem apresentar defesa final os réus delatores e, depois, os delatados. Os processos que não foram instruídos dessa forma podem ter a sentença anulada. Na quarta-feira, Toffoli sugeriu uma tese para amenizar esse efeito. Os requisitos para o réu ter a condenação anulada seriam: que ele tenha recorrido da ordem das alegações finais de delatores e delatados ainda na primeira instância; que a defesa comprove que ficou prejudicada com a abertura conjunta de prazo; e que o acordo de delação tenha sido previamente homologado.
A tese serve como uma luva para a condenação de Lula no processo do sítio em Atibaia – mas não resultaria em libertação, já que a prisão foi determinada em outro processo. Como todos os requisitos foram cumpridos, o ex-presidente se livraria da condenação do sítio, determinada apenas pela primeira instância. O Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região, de segunda instância, está prestes a julgar o recurso da defesa e poderá confirmar a condenação, o que resultaria em nova ordem de prisão. Se a tese de Toffoli for aprovada antes, essa nova prisão será adiada.
Recurso de Lula
Paralelamente, também deve ocorrer em outubro, em data ainda não definida, o julgamento de um recurso da defesa de Lula na Segunda Turma, composta de cinco dos onze ministros do STF. Os advogados questionam a idoneidade do ex-juiz Sérgio Moro na condução de processos contra o petista. No colegiado, há sinais de que a maioria estaria disposta a concordar com a defesa. Nessa hipótese, a condenação de Lula no processo do triplex seria anulada e o ex-presidente seria libertado.
O recurso da defesa de Lula começou a ser julgado no fim do ano passado, mas foi interrompido. Em junho deste ano, a votação foi retomada, mas Gilmar Mendes pediu vista para examinar melhor o caso, adiando novamente a decisão. Ele admite a possibilidade de levar o caso a julgamento ainda em outubro, mas é pouco provável que isso ocorra na próxima semana, por falta de disponibilidade na pauta da Segunda Turma. Caberá à presidente do colegiado, ministra Cármen Lúcia, agendar uma data.
Nos bastidores, ministros do STF avaliam o que seria mais interessante: o plenário julgar primeiro o processo sobre segunda instância e a tese dos delatores, ou a Segunda Turma analisar o recurso de Lula. Se o plenário decidir primeiro, vai diminuir a pressão da Segunda Turma, que poderá beneficiar o ex-presidente depois da decisão do plenário. A leitura inversa também é válida: com a Segunda Turma anulando primeiro o processo do triplex, o plenário seria menos pressionado se mudasse o entendimento sobre segunda instância.
De OGlobo