O país respira melhor

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Foto: Ernani Ogata/Código 19/Folhapress/Folhapress/Reprodução

O presidente Jair Bolsonaro fez de conta que não viu. Natural que tenha sido assim. O dia, ontem, era de Lula. E ele, Bolsonaro, nada ganharia se tentasse disputar os holofotes com um adversário que deixava a prisão depois de 580 dias e na condição de mártir.

Bolsonaro pode ser bom de bico nas redes sociais onde mesmo assim, vez por outra, costuma derrapar. É bom também nas entrevistas diárias à saída do Palácio da Alvorada onde fala o que quer e se recusa a responder a perguntas incômodas.

Faltavam-lhe, porém, imaginação, versatilidade e domínio da língua para encarar debates ao vivo e de improviso. Teve a sorte de escapar ao confronto com os demais candidatos à presidência da República na reta final da campanha do ano passado. Muita sorte.

Sem a experiência do pai, os moleques Eduardo e Carlos, embora aconselhados a guardar silêncio, rangeram os dentes. O deputado atirou no seu alvo preferido, o Supremo Tribunal Federal. E o fez, por hábito, valendo-se de uma fakenews. Escreveu no Twitter:

“Cagam na cabeça da sociedade, ignoram o risco de botar em liberdade 160.000 presos. Não esqueçam que latrocidas, por exemplo, cometem seus crimes independente da vítima ser de direita ou esquerda”.

O número de presos a serem postos em liberdade é de menos de 5 mil. E nem todos sairão do cárcere. Eduardo sabe disso. Mas o que importa é tocar terror entre os devotos do pai. Lula livre é uma oportunidade imperdível para reunir a tropa dispersa.

Estranhamente, o vereador reagiu como se tivesse perdendo o jogo. Para variar, foi curto e grosso. Enalteceu o pai que, por sua vez, havia enaltecido o ex-juiz Sérgio Moro ao admitir que deve a ele a sua eleição. E tascou no Twitter:

“Não tenho dúvidas que esse jogo virará! O Brasil não aceita mais o show dos bandidos do PT, PCdoB, Piçóu (PSOL) etc! Paciência e inteligência! Sei que o jogo virará rapidamente”.

Para o bem ou para o mal, só agora o show vai começar. Há 10 meses que os Bolsonaros governavam sem dispor de algo chamado oposição. Não havia sequer um arremedo dela. O PT navegava desnorteado. Os demais partidos batiam cabeça no Congresso.

Faltava alguém para dizer: “É por aqui”. Não falta mais, goste-se ou não dele. O governo dos números será obrigado a enxergar que por trás deles escondem-se pessoas. Ciro Gomes será obrigado a repensar seu papel. E o chamado Centro a apressar o passo.

As ruas ficarão mais coloridas porque, para muita gente que se refugiou desanimada em casa e no trabalho, a esperança voltou. E, com ela, a retomada das discussões sobre os problemas que dilaceram o país e a construção de alternativas não contempladas.

É fato que, vencidos os primeiros dias de alumbramento, Lula ficará frente a frente com a realidade de ser um ficha suja impedido de se candidatar a qualquer coisa, e um condenado por corrupção que responde a uma penca de processos.

Mesmo que se livrasse de todos eles, ainda dependeria de uma decisão do Supremo para resgatar o sonho de presidir o país pela terceira vez a partir de 2023– e desta, com o discurso de que lhe imputaram crimes que jamais cometeu. Será possível?

Por ora não importa. Sextou. Façam a festa. Desde ontem o Brasil respira melhor.

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