Absolvido, Trump comenta sobre o processo de impeachment
Foto: Joshua Roberts/Reuters
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quinta-feira (6) ter sofrido uma “terrível provação” durante o processo de impeachment, que chamou de “situação muito injusta”. Ele admitiu que o dia seguinte à absolvição no Senado é uma “celebração”.
Trump deu nesta quinta as primeiras declarações públicas a maioria dos senadores o absolver das acusações de obstrução do Congresso e abuso de poder. Na véspera, o presidente se limitou a publicar postagens nas redes sociais em que ironizava o processo de impeachment.
Pela manhã, ele participou de um café de oração transmitido pela televisão norte-americana. Nesse evento, ele afirmou que foi posto sob “uma terrível provação por algumas pessoas muito corruptas e desonestas”.
“Eles fizeram tudo o que foi possível para nos destruir e, fazendo isso, machucaram muito nossa nação”, declarou Trump.
“Tantas pessoas foram prejudicadas. Não podemos deixar isso continuar. Estarei discutindo isso um pouco mais tarde na Casa Branca”, antecipou.
Horas mais tarde, o presidente deu um pronunciamento na Casa Branca, também transmitido pela televisão norte-americana. Na declaração, Trump chamou o processo de “situação muito injusta” e voltou a dizer que sofre perseguição — uma “caça às bruxas” — desde que assumiu a presidência.
“Fomos injustamente ao inferno, não fizemos nada de errado”, afirmou.
“Primeiro, foi aquela história de Rússia, Rússia, Rússia. Tudo uma besteira”, disse, referindo-se às acusações sobre um suposto conluio do republicano com espiões russos contra o Partido Democrata nas eleições presidenciais de 2016.
No discurso, Trump também chamou o processo de impeachment de “mau, corrupto” e feito por “vazamentos e mentirosos”.
Presidente Donald Trump fala, pela primeira vez, depois de ser absolvido pelo senado
Ele ainda agradeceu o senador Mitch McConnell, líder republicano no Senado e considerado aliado de Trump durante o processo no Senado.
“Ele esteve conosco desde o começo e nunca mudou. Mitch McConnell, você fez um trabalho incrível”, afirmou.
Tanto pela manhã quanto no discurso à tarde, Trump levantou exemplares dos jornais “USA Today” e “Washington Post” com as manchete: “Trump absolvido”. “O resultado foi esse”, disse.
No café da manhã, o presidente ainda criticou, indiretamente, o senador Mitt Romney — único republicano a votar contra o Trump no julgamento de impeachment. Ao explicar seu voto em plenária no Senado na quarta-feira, Romney mencionou sua fé.
“Não gosto de pessoas que usam sua fé como justificativa para fazer o que eles sabem que é errado”, alfinetou, em uma aparente referência a Romney.
“Também não gosto de pessoas que dizem ‘Eu rezo por você’, quando elas sabem que não é assim”, insistiu Trump, desta vez em alusão à presidente da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi. Em inúmeras ocasiões, ela disse rezar pelo presidente.
Mais tarde, na Casa Branca, Trump voltou a criticar Pelosi:
“Nancy Pelosi é uma pessoa horrível. Ela pode até rezar, mas está rezando para o lado oposto”, disse.
Pelosi foi a responsável por abrir o inquérito de impeachment na Câmara. No discurso sobre o Estado da União, Trump não a cumprimentou no púlpito, e ela, momentos depois, rasgou o papel que continha a transcrição das falas do presidente.
Donald Trump se tornou nesta quarta-feira (5) o terceiro presidente dos EUA a ser absolvido pelo Senado em um processo de impeachment aprovado pela Câmara. Desta forma, ele não será afastado da presidência. Ele é o primeiro, no entanto, a passar por isso enquanto tenta se reeleger ao cargo.
Trump era acusado de abuso de poder e obstrução ao Congresso (leia mais sobre as acusações abaixo) e foi absolvido pelos votos de 52 senadores na primeira acusação (contra 48) e por 53 votos (contra 47) na segunda. Para que fosse condenado, ele teria que ser considerado culpado por pelo menos dois terços dos senadores (67 dos 100).
Desde que o processo foi anunciado — e antes mesmo de ser aprovado pela Câmara, em 18 de dezembro — a bancada do Partido Republicano, que ocupa a maioria do Senado, com 53 membros, afirmava que votaria para que ele não fosse condenado.
A única exceção entre os republicanos foi o senador Mitt Romney, candidato do partido à presidência em 2008 e 2012, que votou pela condenação de Trump por abuso de poder (mas contra por obstrução ao Congresso).
“O presidente é culpado de um abuso chocante da confiança pública”, disse Romney em um discurso no Senado. “Corromper uma eleição para se manter no poder talvez seja a violação mais abusiva e destrutiva do juramento ao cargo de alguém que eu possa imaginar”, acrescentou.
Embora tenha recebido o processo da Câmara no dia 16 de janeiro, o Senado começou realmente o julgamento na semana seguinte, no dia 21. Tanto a acusação quanto a defesa tiveram um período de 24 horas cada, divididas em três sessões, para apresentar seus argumentos.
Em seguida, foi realizada uma etapa de perguntas e respostas e, em uma votação no dia 31 de janeiro, foi rejeitada a proposta de convocação de novas testemunhas, o que teria prolongado o julgamento.
O impeachment de Donald Trump foi aprovado pela Câmara em 18 de dezembro, e ele se tornou o terceiro presidente do país a passar pelo processo. Nos dois casos anteriores (veja abaixo), os acusados também foram absolvidos no Senado.
Trump respondeu ao processo por duas acusações:
Abuso de poder ao pedir investigação ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, contra a família de Joe Biden. Deputados consideraram a ação uma “interferência de um governo estrangeiro” em favor da reeleição de Trump em 2020;
Obstrução ao Congresso por impedir diversas pessoas ligadas à sua administração de prestar depoimento (inclusive algumas que tinham sido intimadas) e por se recusar a entregar documentos aos investigadores durante o inquérito.
Tudo começou quando, no ano passado, um membro dos serviços de Inteligência informou sua preocupação após ter se inteirado de um telefonema entre Trump e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Durante esta conversa, Trump pediu a Zelensky que investigasse o democrata Joe Biden, um dos favoritos a enfrentá-lo nas eleições presidenciais de 3 de novembro. Ao mesmo tempo, a Casa Branca congelou uma ajuda militar de quase US$ 400 milhões para a Ucrânia, que há anos vive um conflito com separatistas pró-russos.
Até hoje, apenas dois presidentes já tinham sofrido impeachment na história dos Estados Unidos, mas Trump foi o primeiro a passar pelo processo enquanto tenta se reeleger ao cargo.
Antes dele, Andrew Johnson e Bill Clinton tiveram seus processos de impeachment aprovados pela Câmara, mas ambos foram absolvidos pelo Senado e não perderam o cargo. Assim como Trump, eles continuaram no cargo enquanto aguardavam o julgamento no Senado.
Richard Nixon estava prestes a enfrentar um processo também, mas renunciou antes que a Câmara pudesse realizar a votação.
A primeira tentativa de impeachment contra Andrew Johnson – por tentar afastar seu Secretário da Guerra, Edwin M. Stanton, sem consentimento do Congresso – aconteceu em dezembro de 1867, mas não foi aprovada, e a segunda, que conseguiu os votos necessários, aconteceu em 24 de fevereiro de 1868. A acusação tinha 11 artigos, e após três semanas de julgamento o Senado quase o condenou por três delas, mas em todos os casos ele escapou por apenas um voto.
Já Bill Clinton foi acusado por perjúrio e obstrução de justiça, ligados ao relacionamento do então presidente com a estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky. Ele foi condenado pela Câmara em 8 de outubro de 1998, mas inocentado pelo Senado em fevereiro de 1999, após um mês de julgamento.
No caso de Nixon, ele enfrentaria acusações de obstrução da justiça, abuso de poder e desrespeito ao Congresso durante o escândalo Watergate. Mas, em 9 de agosto de 1974, antes que a Câmara pudesse votar seu impeachment, ele renunciou à presidência.