Ceará chega a 51 assassinatos em 48 horas
Foto: José Leomar/SVM/Agência O Globo
O Ceará viveu uma disparada na violência em 48 horas, entre 6h de quarta e 6h desta sexta-feira. Houve 51 assassinatos no período, contra uma média de seis homicídios por dia no restante do ano. Nas primeiras 24 horas desse período, os homicídios tinham chegado a 29. As informações são da Secretaria de Segurança Pública do estado.
O recorde na quantidade de homicídios em 2020 ocorre em meio ao motim de policiais militares e bombeiros no estado, que reivindicam aumento salarial para a categoria. As manifestações estão sendo feitas desde dezembro e tiveram grande exposição na quarta-feira, quando o senador Cid Gomes (PDT-CE) foi baleado ao tentar furar com um trator um bloqueio de agentes amotinados, em Sobral.
No dia seguinte, grupos de encapuzados atacaram batalhões da Polícia Militar, tendo como alvo carros da corporação. Os pneus dos veículos foram furados e, em outros casos, os próprios carros foram levados das sedes. Também em Sobral, policiais ordenaram que comerciantes fechassem as portas no centro da cidade.
O secretário da Segurança Pública do Ceará, André Costa, afirmou ao G1 que parte dos envolvidos já foi identificada. Segundo ele, os policiais deverão responder criminalmente e sofrer sanções administrativas. André Costa ressaltou ainda que 261 PMs respondem a inquéritos militares e procedimentos administrativos por envolvimento nos atos e que os agentes serão retirados da folha de pagamento e não vão receber salário.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública atendeu a uma solicitação do governo do Ceará e enviou 120 policiais da Força Nacional para Fortaleza, na manhã da quinta-feira. O ministro Sergio Moro publicou uma portaria com a autorização para o emprego da Força Nacional de Segurança Pública no estado por 30 dias “em razão de movimento paredista por parte das polícias estaduais do Ceará”.
Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e parlamentares da cúpula do Congresso veem com apreensão a série de levantes de policiais militares.
Logo depois do episódio em Sobral, políticos e magistrados passaram a repetir a tese de que governadores podem perder o controle de suas polícias. Para ministros e parlamentares ouvidos pelo GLOBO, o episódio no Ceará ganha ainda mais importância por ter acontecido em meio ao clima de tensão entre governadores e Bolsonaro e depois de novo embate entre o Congresso e o Palácio do Planalto.